domingo, 26 de dezembro de 2010

Tchau, 2010!


O ano de 2010 foi (ok, está sendo ainda) um ano bastante peculiar. Naturalmente, não havia meios de ser melhor que 2009, que foi simplesmente o melhor ano da minha vida. Mas eu vou ter que aprender a não nivelar as coisas tão por cima assim. Mas não posso botar a culpa em 2010. Se 2010 não foi bom, ou não foi exatamente do jeito que eu quis, a culpa é toda minha!

Explico: 2010 foi um ano em que eu decidi! Foi um ano de grandes decisões e grandes rupturas. Foi um ano de um aprendizado intenso. Sabe essa gente que se fode, mas aprende? Então.

O ano começou lindo. Tive o melhor Reveillòn da minha vida. Em seguida, tive um Carnaval mágico. Se não foi o melhor da minha vida, é algo assim, que só se compara ao Carnaval de 2006.

Mas depois do Carnaval, ah, foi tudo começando a desandar e 2010 foi mostrando suas garras afiadas. Saí do meu emprego. Eu, funcionário público, estável. Joguei fora. Joguei fora também um relacionamento [lindo!] que eu tinha em busca de uma outra coisa, de uma proposta nova que não deu em nada. No fim das contas, acabei trocando um namoro por uma nova amizade [ótima!]. Não sei se foi justo, se foi certo, se foi a melhor escolha. Mas 2010 é isso. É perceber que cada escolha tem um preço.

Não me arrependo de ter feito escolhas. Na verdade, não me arrependo nem mesmo das escolhas que eu fiz. Até porque eu paguei com juros e correções monetárias o preço de tudo que eu escolhi. A única coisa que eu me arrependo [mesmo!] é de não ter chamado de amor o que era amor. Isso foi uma burrice, uma coisa assim de quem tem um coração de pedra que eu não me proponho a ser mais.

No fim das contas, quando eu achei que estava bem, eu ainda saí da análise. Estive à beira de um surto? Não, não digo. Mas houve momentos em que os dias foram tediosos, muito tediosos, houve momentos em que as coisas pareciam insustentáveis em si mesmas, insuportáveis. Foram seis meses do meu pedido de demissão até a admissão no meu outro emprego, seis meses que foram uma espécie de vácuo onde nada acontecia.

Do namoro terminado, alguns dias e noites de choro, bateção de cabeça, solidão. Solidão mesmo. Sabe essa coisa de ficar procurando a pessoa certa nas pessoas erradas? Fiquei algum tempo investindo em microrrelacionamentos que não davam certo, que não iam pra frente. Tive alguns encantamentos, posso dizer que cheguei bem perto de me apaixonar [será que eu me apaixonei?], mas parecia que sempre faltava alguma coisa.

Paguei [e ainda pago] com o corpo o preço das escolhas todas, das rupturas que busquei: crises de ansiedade e enjôos crônicos que, depois de TODOS os exames possíveis e imagináveis, constatei que são de origem psicossomática.

De bom mesmo, meu mestrado acabou. Acabou tarde, passando da hora já. E agora eu tenho um diploma que não sei bem pra quê que serve.

Mas fiz amizades, reforcei alguns outros laços importantes. Minha vida literária começou a frutificar, ganhei dois prêmios literários. Em 2010, eu deixei de ser prosaico e passei a ser poético. Passei num concurso e tenho um emprego legal, mas não consigo ver isso como uma grande conquista, porque dado o tempo que fiquei sem fazer nada [só estudando], tenho pra mim que não fiz mais do que minha obrigação.

Em 2010, eu descobri que tem muita gente legal no mundo e que eu posso ir pra uma mesa de bar ou pra uma festa com todas elas. Mas meus amigos mesmo, de verdade, eu conto nos dedos. Mas é lógico que eu não estou fechado a novas amizades, eu estou construindo amizades duradouras em 2010 [inclusive no trabalho, quem diria?]. Ah sim, em 2010 eu perdi amizades também. Mas quanto às amizades que perdi, quero mais é que se fodam. :)

Voltei pra análise e tenho discutidos esses pontos que me afligem. Sou uma pessoa legal, no fim das contas. Sou muito menos filho-da-puta do que me pintam e do que eu mesmo posso me achar às vezes. Em 2010, eu dependi da night pra ser alguém, eu vi meus parâmetros serem distorcidos de forma paulatina e sorrateira. Quando eu vi, eu gastava mais dinheiro com roupas do que com livros. Eu fiquei fútil. Em 2010, eu me perdi.

Mas vejam, só; no fim das contas, acho que amadureci tanto que virei adulto, mas adulto de verdade. Do alto dos meus 23 anos, vejo que há cada vez menos resquícios da adolescência em mim. E ser adulto é bom.

Tive uma grata surpresa neste fim de ano: o amor. O amor brota do nada, e é isso. Dia desses eu perguntei, acho que aqui mesmo no blog: “O que é que nos move à frente, ou ainda, o que não nos move?” Agora pra mim é muito claro que a resposta pra isso é o amor. É o amor que nos move à frente ou nos freia, e isso é claro pra mim, é claríssimo.

É engraçado perceber que a gente está sempre se transformando. Não me imagino com esse tipo de raciocínio há pouco tempo atrás e não me imaginava falando de amor tão sem pudores e sem rodeios. Mas sim, amor, amor! No fundo, é o que vale.

Porque esse foi um ano em que em nenhum momento me faltou dinheiro. Mas durante muito tempo me faltou o amor. E foi aí que eu percebi que não importa o dinheiro: sem amor, você não vai a lugar nenhum. E esse foi o meu grande ensinamento de 2010!

Dezembro de 2010, quando o amor sorriu pra mim, é o prenúncio de um 2011 fantástico, absoluto. Quero mais amor e mais felicidade, mais sentimento. E é o que eu desejo a vocês todos: muito mais do que não se compra e não se vende, uma vida menos supérflua e mais verdadeira, mais de verdade. Amor, saúde, paz, harmonia, tudo de bom pra quem estiver lendo e mesmo pra quem não estiver lendo, mas me preza e gosta de mim.

Tchau, 2010! Sou grato pelos ensinamentos, mas quitei todas as minhas dívidas.

Que venha 2011, há de ser um deleite!

Beijos,

Igor

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Platôs e cordas bambas [3]

Tentativa boba essa de classificar o mundo e as coisas entre platôs e cordas bambas. Tudo é platô e tudo é corda bamba. Tal como o espaço e o tempo, são coisas que não podem ser vistas em separado. Ou melhor, até podem. Mas algo se perde.

O estranho é admitir que tudo que aí está, o que inclui nossas próprias vidas, é um enorme, complexo e fantástico sistema, o sistema platô-cordabamba. A curvatura do sistema platô-cordabamba arrasta as massas e as energias pra essa espécie de buraco negro onde tudo pode ser platô ou tudo pode ser corda bamba.

Mas nunca chegamos, estamos sempre nesse oscilar de movimento que é sempre um equilibrar-se. Um pouco platô, um pouco corda bamba; ser pedra e também ser vidraça; yin, yang. Dicotomias de um todo que, por mais que a gente insista em separar, é tudo uma coisa só.

Paradoxal e pendular, complexo sistema platô-cordabamba, mais ou menos como o ano de 2010.

Letra de música que condiz: Part of me laughs, part of me cries, part of me wants to question why. [Spice Girls]

ps: essa história de platô e corda bamba já deu, né? vou virar o disco, devo falar sobre o ano de 2010 dentro em breve, daí volto a falar de coisas legais, juro [ou não. =PP]

sábado, 4 de dezembro de 2010

Platôs e cordas bambas [2]

Ainda não sei quanto tempo falta, mas sei que falta pouco. Sei que daqui, de onde estou agora, já passei da metade da corda bamba e consigo entrever o platô do lado de lá, verde, pujante. Só sei que ao final de tudo isso, e já está quase no final que eu sei, tem gente me esperando do lado de lá, tem gente no platô. Gente que sorri, gente minha amiga e gente que gosta de mim, eu sei que eu tenho uma torcida imensa e que isso tudo é só uma má fase que já vai melhorando, que vai passando aos pouquinhos, que vai se curando devagar e sem pressa enquanto caminho pela corda bamba resoluto e sem medo da queda [porque não dá pra ter medo]. E sei lá, pra toda essa galera que me acena e quase se debruça no precipício pra me puxar de onde eu estiver, eu só tenho a agradecer. E mando um recado pra todos vocês [lindos] que me esperam no platô: eu estou chegando, e eu estou chegando rápido.

Todo caminho é mais fácil de ser trilhado quando tem alguém que te espera no pódio.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Platôs e cordas bambas


A vida é assim. A gente vai durante muito tempo caminhando por um imenso platô, liso, de terra batida, onde a grama é bem verde as flores são amarelas. O caminho é belo e sem percalços, e a gente vai descalço. Pode chover e pode relampejar que a gente continua indo descalço sem medo de cair e sem medo de adoecer. Porque a gente é jovem, e porque todas as tragédias que o mundo pode lhe oferecer serão inequivocamente atribuídas ao vizinho, afinal de contas, o inferno são os outros. O platô é lindo. Mas os altos platôs são altíssimos e, se formos sempre em linha reta, pode ser que haja um precipício lá embaixo.

As moléstias da vida, que podem ser físicas ou psicológicas [e há quem creia nas espirituais também], estão aí. A terra do platô pode estar contaminada por lítio, ou por radioatividade; as flores amarelas podem ter pragas ou abelhas venenosas; a grama verde pode ter fungos ou abrigar protozoários perigosos que a ciência ainda não conseguiu catalogar.

O problema da moléstia, independente de qual seja, é a culpa. Os que andam descalços por sobre os platôs molhados da chuva de ontem e que sabem que a terra molhada pode lhes adoecer, sim, estes têm culpa. No entanto, não têm culpa os que andam calçados sobre a terra. Não têm culpa aqueles cujas cabeças são atingidas por um raio numa madrugada violenta.

Há males de toda sorte. E para a maioria deles, não há culpa. Ou seja, aparte as doenças sexualmente transmissíveis, as gripes contraídas nos dias frios em que não se agasalha, algumas doenças do fumo e do álcool e outras pequenas exceções, não há culpa. E nessa ausência de culpa incluem-se aí os cânceres, as doenças silenciosas do coração, as síndromes de nomes estranhos que acometem 1 em 10 milhões, essas coisas; ninguém tem culpa. Ninguém tem culpa se o fígado se dilatou de uma forma estranha, ninguém tem culpa de uma nefrite, de uma tuberculose, de um cisto no ovário, de um tumor no joelho. Ninguém tem culpa.

As religiões tentam atribuir aos males de toda sorte que acometem os seres humanos alguma propriedade espiritual, divina. Chamam a isso de martírio. É mártir aquele que suporta a dor, que aguenta as chagas. Ser mártir de qualquer coisa é um prêmio de consolação pela desgraça. Não adianta ser mártir, o que importa é estar vivo.

Mas quando olhamos o precipício lá embaixo, de cima dos mais altos platôs, sentimos vertigem. Mas não importa, temos que cruzar a corda bamba [às vezes, de salto alto], temos que chegar lá do outro lado para continuar nossa caminhada pelos mesmos prados de gramados verdes e flores amarelas, multicoloridas talvez. Temos que continuar a nossa caminhada pelos mesmos prados, ainda que descontínuos, ainda que entrecortados por cordas bambas.

Porque é isso. Caminhamos sempre, sempre pra frente. Alternamos entre platôs e cordas bambas. Que o acaso, a sorte e a firmeza nos pés estejam sempre conosco ao caminhar. Ninguém quer cair da corda bamba, e nem podemos.

É natural que não percebamos o quão importantes são as cordas bambas. Mas fortalecem as pernas, nos equilibram mais para o próximo platô, nos deixam seguros. As cordas bambas não são do bem e nem são do mal. Elas estão aí, sempre.

Que existam, porque há que existirem, mas que sejam em pequenas quantidades, e curtas. No entanto, se forem longas, que nunca ofusquem a vista ou turvem as idéias de modo a nos fazer ignorar que, sim, que, mesmo que longe, existe um outro platô do lado de lá.


Obs: Sei que meu texto está bem ‘bad trip’. Mas informo a quem interessar possa que não tenho AIDS, não tenho sífilis, não tenho nenhuma doença sexualmente transmissível. Informo também que não tenho câncer e nem estou morrendo. Informo que estou bem, estou vivo e estou disponível. [tem que fazer esclarecimentos porque as pessoas são malucas, e o que eu já sofri de mal-entendidos nesse blog não está no gibi... rsrsrsrs] Mas é que esses dias têm sido meio chatos e cansativos, tediosos até [e ok, minha saúde não tem estado 100% também]. Agora, sem mais delongas, esse post é pra explicar que tenho passado por um momento mais corda bamba do que platô, esse fim de ano está com uns lances que não tenho curtido muito... Mas o fim de ano está chegando, e dentro em breve, teremos um post retrospectivo por aqui. =PP Beijos!

domingo, 31 de outubro de 2010

Ortografia e sexualidade


O travessão é masculino e o ponto final também. Talvez isso ocorra porque ao homem sempre foi dado o direito de falar e a ele sempre coube encerrar os assuntos.

No entanto, a exclamação, a interrogação e a vírgula são femininas. Naturalmente isto ocorre porque à mulher é dado o direito de exclamar, de questionar e, sobretudo, o direito de interromper.

O cifrão é masculino. O euro também é masculino. Os mais incautos podem depreender daí que o dinheiro está associado à masculinidade e ao poder. Mas a libra esterlina é feminina. E é a moeda mais cara de todas.

Os acentos são masculinos. Agudos ou cinrcunflexos, representam a força do homem, expressa na tônica de cada palavra.

O til também é masculino. No entanto, não atinge a força e a potência dos acentos. Não é formado por traços nem ângulos; é sinuoso, mas ainda assim, masculino. É metrossexual.

Os parênteses são masculinos, bem como os colchetes. Ambos têm formato simples e expressam coisas triviais. No entanto, as chaves são femininas. As chaves são utilizadas em expressões matemáticas de grande complexidade, e por si só, já são complicadas, difíceis de desenhar. Representam toda a complexidade da mulher moderna.

A barra e a barra invertida são femininas. Elas são como mães e avós, são opostas em si mesmas; mas estão sempre lá, ainda que pouco solicitadas. Quando, contudo, precisamos delas, nos guiam, nos mostram o caminho e, tal como arquivos de computador, fazem com que cheguemos exatamente onde queiramos.

A arroba é a mulher que está envolvida e a cedilha é aquela mulher mercenária que se pendura nos homens que, coitados, sempre minúsculos, têm sua vida radicalmente transformada.

A tralha é feminina, mas ninguém sabe. Os que ainda não perceberam tratar-se de uma mulher, insistem em chamá-la pela alcunha masculina de “o jogo-da-velha”.

Porém, quanto a outros elementos, não há dúvidas. As aspas são lésbicas, os dois pontos são gays e o ponto-e-vírgula é um travesti.

sábado, 25 de setembro de 2010

Ahead


Alguma coisa em mim muda, e apesar de parecer que muda devagar, muda depressa. E daí eu fico meio descompassado, desritmado: jogo montes de roupas fora, gasto dinheiro em coisas novas, invisto tempo em coisas diferentes. Do lado de dentro e do lado de fora tem muita coisa que não me representa mais, tem muita coisa em mim que já não sou, que não quero mais. Quero a vida menos fluida, quero crescer, quero ver o bolo tomar forma e consistência, quero projetos, ah, eu quero tanto.

Sei que a vida não é de graça e que os desígnios do destino são mesmo insondáveis. Mas estou tendo que aprender a ruminar esse cotidiano e a ir curtindo os melindres dessa coisa que não é alimento e que não é bolo alimentar ainda e que, portanto, tenho muita dificuldade em digerir.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

[re] conquista

ligar num fim de tarde
pra dizer que
nada basta
e tudo basta

que somos assim
espetáculo
tentativa de subversão

ainda que
afoitos e aflitos,
entre nós,

saibamos que
somos nossos
e que somos
nós, independentes

dessas coisas
pessoas e mundos
que nos prendem
que nos chamam
e nos gritam

a gente sabe que
tudo isso é nada
e que esse nada
também é tudo,
porque

nossos traços,
descompassados,
sem harmonia,

hão de revelar ainda
que não fomos feitos
um pro outro,
mas

a gente se tem
e se abandona,
todos os dias

incessantes
e paulatinos
certos de que

essa é
a melhor forma de
sermos

e estarmos

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Diálogo



Hoje eu fui a Angra dos Reis. Fui com o pessoal do meu novo trabalho, para conhecer o porto de lá. Éramos por volta de 70 pessoas e todas almoçaram no mesmo restaurante. Por motivos que não vêm ao caso [ok, eu estava sem dinheiro vivo e o restaurante não aceitava cartão], acabei indo comer em outro lugar, um salgado e um açaí. Volto para o restaurante onde estão todos e me recosto na parede do lado de fora, enquanto tomo o açaí. Nesse momento, pára ao meu lado um rapaz negro, alto, magro e visivelmente homossexual [e feio também, registre-se]. E então, dá-se esse curioso diálogo, que tentarei reproduzir de forma fidedigna aqui. Cabe ressaltar, que menti, e que menti deslavadamente. Sendo franco, menti e obliterei verdades com um talento que eu não sabia possuir [quem me conhece sabe que eu não minto e não sei mentir, e quem me conhece também vai perceber durante o diálogo quais são as mentiras e quais são as verdades].  O fato é que a forma excessivamente interrogativa do diálogo me incomodou, e portanto, as mentiras [por que eu abriria informações pessoais a um desconhecido, estando sozinho e em um lugar estranho?]. Enfim, eis aí:

- Você sabe se esse restaurante é bom?
- Não sei, eu nunca fui.
- Ué, como assim, nunca foi?!
- É que eu não sou daqui...
- Ah, é? E você é de onde?
- Eu sou do Rio.
- Ah, que legal... Como é seu nome?
- O meu nome é João.
-Prazer, o meu nome é Marcelino.
Ele estende as mãos na minha direção e nos cumprimentamos, ao que prossegue:
- Mas o que você está fazendo aqui? É alguma entrega?
- Não, eu estou em um treinamento pela minha empresa.
- Ah, mas você está dando treinamento ou está recebendo treinamento?
- Estou recebendo treinamento.
- Desculpa perguntar, mas qual é a sue empresa?
- Uma empresa de consultoria...
- Ah... legal. Qual é o seu signo?
- Eu sou Áries.
- De que dia?
- 3 de abril.
-Ah, eu sou do dia primeiro.
Pausa dramática, ao que ele prossegue:
-Você é bonito. Você é gay?
- Não. Por quê?
- Ah, por nada... Bom, deixa eu ir lá, que eu tenho que dar uma passada no shopping. Tchau.
- Tchau.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

com quem?

a rede é pra deitar
webcama

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto

Escrever um livro policial deve ser muito chato. Escrever um livro deve ser chato. Ok, chega de tergiversar: escrever é chato. Honestamente, poucas pessoas são tão chatas como os escritores. Veja só, um escritor que começa uma frase com “honestamente” talvez não deva mesmo ser levado a sério. Honestamente, acho meu trabalho um porre. Honestamente, caro chefe, vai se fuder. Honestamente, eu só queria te comer. Honestamente, honestamente, a palavra “honestamente”... Eis aí, um outro problema que é o do compromisso com a verdade. Honestamente, eu estou cagando. Mas de forma não tão honesta, como havemos de convir que é o modo como funcionam as relações humanas, podemos chegar em algum tipo de consenso sobre isso. Pois então, outro problema é o consenso. O escritor quando escreve talvez parte de uma premissa própria e lá vai ele querer que o leitor concorde com ele. Agora aconteceu uma coisa engraçada: meu eu-escritor e meu eu-leitor se encontraram aqui, tomaram um chopp e chegaram a um consenso sobre o consenso: ambos concordam que eles querem mais é que tudo se foda. Eu comecei dizendo que escrever é chato. Veja só, é chato mesmo. Eu já problematizei uns três lances aqui, em poucas linhas. Tá vendo só? Escrever é um problema, vai tudo virando problema. Se os problemas fossem solúveis, talvez tudo fosse mais fácil... Mas o problema da escrita é que vai tudo meio que caindo pro psicológico e pro filosófico, onde é tudo infinitamente mais chato, mais insolúvel. É tudo mais problemático mesmo, o buraco é sempre muito mais embaixo. Por falar em buraco mais embaixo, o buraco lá embaixo é sempre um tabu pra quem escreve. Na verdade, todos os buracos lá embaixo. Na verdade mesmo, qualquer buraco. O escritor pode ser meio pudico ou meio depravado. Essa questão às vezes se apresenta como um molecote indo pela primeira vez a um puteiro. O que pode e o que não pode? As palavras “babaca” e “cacete” são quase um consenso. A merda é uma questão de contexto e algumas outras palavras ficam restritas a uma classe liberalizada, que não vê problemas em “ir se fuder”, “ir tomar no cú”, essas coisas todas. Mas essas questões são mesmo complicadas. Às vezes, o problema é menos o nome e mais a coisa propriamente dita. Prestem atenção nessas frases e vejam a que causa mais constrangimento: Frase 1: “Ela deixou que ele visse os pelinhos da sua buceta”. Ou a frase 2: “Ela deixou que ele enfiasse os dedos pela sua vagina molhada, um por um, até que colocasse a mão completa e aí, sim, se sentisse seguro, para enfiar nela o seu enorme pênis”. Essa é a questão. Ni nguém está muito preocupado se a vagina é uma buceta. Todo mundo está preocupado mesmo é com os desígnios, com as ações em cima da coisa. Ou embaixo da coisa. Ou dentro da coisa. Ou dentro até da outra coisa. A coisa. É, a coisa do escritor é ótima. Se o escritor souber usar a coisa, a gente nunca vai saber do que ele está falando e, às vezes, deixar as coisas meio veladas pode ser interessante. Até mesmo porque pode ser que o leitor goste da coisa. Porque, sei lá, acredito mesmo que gosto é que nem cu, cada um tem o seu. Aliás, tem gente que tem dois cus. Honestamente (e a palavra honestamente reitera a minha honestidade, olha só, você quase acredita nela), não tem, não tem gente que tenha dois cus. Talvez a literatura médica registre alguns casos. Mas a literatura de verdade me dá os cus de forma muito livre, de forma que, olha só, dar vida a alguém que tenha dois cus é um problema só meu. Eis aí. Posso inventar alguém que tenha dois cus. Pronto. Posso inventar. Posso mentir também, não tenho compromisso com a verdade. Posso dizer que VOCÊ tem dois cus. E agora? Agora é você aí, lendo esse texto. Se você estiver lendo este texto em voz alta, vai ficar todo mundo sabendo que você tem dois cus. Posso dizer que um dos seus cus você usa pras suas necessidades fisiológicas e o outro... tchã-rã. Tchã-rã. Eu não disse o que você faz com o outro cu. Mas olha aí, todo mundo já sabe. Não que eu tenha dito. Mas essa é a vantagem dos escritores também. Às vezes, mas só às vezes, é possível presumir a inteligência dos seus leitores, é possível forçá-los a interpretar alguns fatos exatamente da forma que você queira, ou ainda, porque não, da forma que os fatos seja mesmo. Eu agora estou presumindo que meus leitores presumem o que você faz com o seu outro cu. E a verdade é que isto é um fato. Não apenas pelo fato de estar escrito, mas olha aí, olha a sua cara de quem não sabe o que fazer com o outro cu que lhe foi dado. Você pode até não saber bem o que fazer com esse cu, mas todo mundo sabe o que você faz. Obstinação. Mais da metade do texto até agora foi falando sobre o cu, especificamente sobre o seu. O escritor pode parecer um obsessivo compulsivo às vezes, e talvez ele até mesmo seja. Na dúvida, ou na falta de presunção de culpa, a gente atribuiu esse comportamento ao eu-lírico. O eu-lírico é ótimo. O eu-lírico é a minha máscara. A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto. O meu eu-lírico é parte do meu ego e parte do meu alter-ego, é algo que sou e não sou. Se eu continuar por essa linha, vou acabar entrando de novo nessa discussão do chato e do não-chato. E isso seria muito chato. Eu, por autor, talvez não tenha direitos, nem você, por leitor, deveres. Quando eu voltar pro que acabei de escrever, eu vou ler de novo aquela frase: “A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto.” É uma frase de efeito, muito bonita, olha só. Vê? Agora escuta: “A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto.”. De novo: “A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto.” Estou aqui pensando. Quantas vezes eu escrever, é esse o número de vezes que você vai ler... “A máscara, ainda que me esconda, tem o formato do meu rosto.”. Eu podia passar mais da metade do meu texto fazendo você ler essa frase indefinidamente, até que você se canse e desista ou até que ela se grude tanto na sua memória que você sonhe com isso durante a noite. Eu, como autor, tenho poderes. Eu tenho poderes sobre você. Eu tenho muitos poderes, sou poderoso. Posso voar. É só eu dizer assim: “o autor voa.” Viu? Simples assim, três palavras. Mas não tem o efeito daquela frase que eu disse antes. Frases de efeito são ótimas. No entanto, não basta só dizer, tem que dizer e ficar repetindo, ela tem que se grudar na mente das pessoas. Um belo dia essa frase vai estar lá, nos mais altos platôs da erudição e eu vou dizer que a frase é minha, só minha. Que frase? Ah, você já esqueceu? Não, eu não vou fazer com que você a leia mais uma vez. Fica sabendo que se até agora não a tem decorada na memória, é porque você não é digno. Receio que você me odeie. Sabe? Sei lá. A gente acaba criando meio que uma relação, né? Sabe como é... Enfim, você é uma pessoa esperta e vai vê que já está acabando. Todo leitor, por mais que goste de ler, ansia pelo espaço em branco. Sei que você talvez não deva estar gostando, mas tudo bem. Eu poderia perguntar o clássico: “foi bom pra você?”, mas não sei, tenho medo da resposta. A gente só pergunta o que quer que seja respondido. Eu gostei tanto daquela minha frase, que eu até já esqueci, por sinal, que eu vou colocá-la no título. Queria saber se você gosta. É sério. É que eu só estou pensando o título agora. Mas, enfim, agora que importa? O título foi a primeira coisa que você leu e eu fiquei falando de um monte de coisa, depois fiquei falando do cu e da buceta, e depois, agora que voltei pra uma discussão mais direita, pensei no título que já não tem mais nada a ver com aquele início. Mas enfim, o título vai ser aquela frase. Mas eu queria saber a sua opinião. Mesmo. De verdade. Eu vou fazer o seguinte. Vou deixar três linhas pra você se expressar. Mas, é sério, eu quero que você se expresse mesmo. Só não te dou mais espaço, porque sabe como é, daí já entra em regime de coautoria e aí já fica tudo mais complicado. Vou deixar aqui, três linhas pra você, quero que você se expresse, ok? Pode falar de qualquer coisa que você quiser (olha como eu sou legal), mas peço por favor que não deixe as linhas em branco... Ok, valendo a partir de agora: ________________________________________________________________________________
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Bom, espero que você tenha se divertido com as linhas que lhe foram dadas. Esse era o espaço para que você me xingasse. Se você me xingou, fico feliz. Naturalmente, não por ser xingado, mas era um espaço seu. E eu sei que te encho um pouco o saco. Enfim, caríssimo interlocutor (eu ia te chamar de leitor, mas nossa relação já está bem avançadinha), eu peço de verdade que você me desculpe. Eu ia começar falando que escrever romances policiais deve ser chato, mas viu só? Acabei nem desenvolvendo a idéia. Daí, acabei caindo pra esses lados da metalinguagem, que vou te falar, eu acho chatíssimos. É chato principalmente porque é muito difícil ser original. Fica uma coisa meio ciência do método, todo mundo falando sobre o ato de falar, escrevendo sobre o ato de escrever. Chato isso! E chato por chato a gente cai numa redundância no meio do texto, de forma que por aqui me calo. Agora vai, pode ir, agora você é livre. Pode ir, é isso: FIM, acabou, agora é cada um por si. Eu só quero te dizer que foi bom pra mim também. Se te apetece, fuma um cigarro ou come uma jujuba: de qualquer forma, vai; volta pros teus afazeres de antes, vai ser feliz.

quinta-feira, 29 de julho de 2010



não sou freira
     e não sou puta




     sou pêra
sou fruta

sexta-feira, 23 de julho de 2010

ainda caio

que em três semanas vem e mexe, assim, de leve comigo. vem e farfalha. não promete, não diz nada. não diz que é amor eterno nem que é fogo de palha, mas insinua, faz ares de quem quer e de quem acredita que possamos evoluir além do passo dado. apresenta amigos, amigas, fala da vida e de como chegamos até aqui, até este ponto. nós dois numa mesa de bar, sozinhos, num momento só nosso, o que de mais nosso tivemos até então. virtualmente, somos só carência. na vida real, eu sei, é vida que nos tenta a cada instante, impulso carnal; tesão e cerveja. eu entendo. eu entendo tudo isso. nas três semanas eu quis e agora já não sei se quero; honestamente, acho que não. não quero discutir relações que não existem, não quero desconfianças e cobranças adicionais. eu quero é o sincero, o tête-à-tête. no fundo, eu sei que o que eu quero mesmo é alguma coisa que procurei incansavelmente nessas três semanas, mas que não encontrei. encontrei, em contrapartida, um tesão louquíssimo de minha parte, uma necessidade sexual intensa, quase violenta, voraz. encontrei também um brilho nos olhos surpreendente, uma candura e uma placidez que são lindas, mas que não se permitem. encontrei um dos sorrisos mais doces e irresistíveis que já vi. no entanto, desculpa, não era o que eu procurava, apesar de saber que cheguei perto, bem perto. faltou em você uma vontade de se dar, de se jogar de verdade. faltou vontade de escolha a meu favor. no mais, pro que se vai cedo é antes brisa que bofetada. e somos todos jovens, temos o mundo inteiro no nosso quintal. e eu poderia dizer que agora eu sei como o mundo funciona, dizer que não me engano mais, dizer que não caio mais nessa; mas é inevitável: ainda caio.

porque eu não consigo ser outra coisa diferente desse tipo de polvo que me tornei, sondando o mundo e as pessoas com tentáculos longos, procurando abraços em pedras no fundo do oceano.

ademais, agora eu sou de todos.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Soneto LXIX



Garoto que ainda não me pertence,
Vou dançar pra você, eu sou fogosa
Eu tenho o mamilo bem cor-de-rosa
Eu sou Carla, a garota do pole dance

E se você me quiser, antes pense
Que eu cobro caro, mas sou carinhosa
Que se eu quiser, posso ser perigosa
Faço de tudo, normal ou nonsense

Mas se você fizer cara de mau
E então, me olhar com nojo, com desdém
Vir querendo fazer sexo comigo

O meu trabalho eu faço; faço bem
Mas como moral nenhuma eu não sigo
Se eu te chupar, eu arranco seu pau

sábado, 17 de julho de 2010

das amizades perdidas

Nessa semana, perdi uma amizade. Quiçá duas. Ah, foi o orkut que me contou. Foi assim: um dia, eu mandei um recado dizendo que estava com saudades. Depois de um tempo sem resposta, fui na página de recados e vi que meu recado não estava lá, que tinha sido apagado. Fiquei meio surpreso, na verdade, tão surpreso, que até supus que eu não tivesse mandado recado nenhum, que tinha havido algum erro no envio ou outro problema. Daí, mandei outro recado. Um recado mais doce, até. Reiterei que estava com saudades, fiz perguntas sobre a faculdade e sobre a vida. Não obtive respostas. Quando fui procurar, vi que não éramos mais amigos. Fui buscar o perfil através de amigos em comum. E lá estava, na frase de status, uma frase meio seca: alguma coisa sobre se deletar quem é descartável. Eu soube que era pra mim. Uma outra amizade nossa em comum também me deletou, mas sem frases de efeito. Sei lá. Fiquei triste. Fui sumariamente deletado do orkut e avisado de que nossa amizade tinha acabado. Confesso que tenho uma certa dificuldade ainda em lidar com isso. Primeiro, porque são pessoas que eu gosto, ainda gosto. E segundo, porque eu sempre fui acostumado a um senso de justiça, onde por mais que haja decisões unilaterais, sempre é dado direito de resposta, sempre se pode buscar um outro ângulo pros fatos, uma contraargumentação. É isso. O orkut me ensinou que sou descartável. Assim, fácil, sem conflitos. No mais, não vou pegar o telefone e ligar pra esclarecer essas coisas porque eu tenho algum orgulho. Mas não tenho raiva e nem ódio de ninguém. Nem rancor, ainda que algumas mágoas a gente acabe inevitavelmente guardando. Mas essas coisas fazem mal, sabe. Pra pele, pro cabelo. Vão deixando a gente feio, feio. No fundo, não acho que esse seja o caminho, não acho que valham a pena as coisas feitas dessa forma. Mas é bom a gente saber como funcionam as pessoas; no mais, eu cresço. Com sorte, até aprendo. Enfim, é isso. Foi desse jeito que eu perdi uma amizade. Quiçá duas.

natimorto

o feto
natimorto
por decreto
é quase aborto
é ruptura
antes do início
morte prematura
ao que no princípio
já não dura

é azar
jogo perdido
filho não tido

é ponderar

sem romance
pra se esgueirar
num relance
e prometer
adiante
arrefecer
do não quisto
e do mal-dito

é veredicto
sem vencer

é o não visto
é precipício
é o que não nasce
murro na face

desinício

quarta-feira, 14 de julho de 2010

desmotivo

mais é menos

destampa o tempo
destempero

entressafra dos dias
tudo é plástico
na ausência
da vontade

tudo é sopro
lufada de vento
frio polar

tarde geladas
ou quentes
entrementes
não importa

o que sobra
é o que não se diz

o que não se vê,
não se proclama

é o desmotivo
pro que se exclama
falta de flama
desmotivo
será castigo
ou abrigo

pros dias melhores que
hão de vir

enquanto a vida é estátua
sem pombos enquanto
a espera é compasso
marcado infinito

artimanha

pras coisas
que não acontecem?

sábado, 10 de julho de 2010

you and me

could write
a bad,


a bad




romance

sexta-feira, 9 de julho de 2010

do sono e da vigília

 
Amor, quanta coisa aconteceu enquanto você dormia... O mundo continuou girando suas engrenagens, como previsto. De minha parte, mantive os olhos atentos, fiz vigília pro nosso sono. Mas meu coração voou alto. Mais alto talvez do que devesse. Arrebataram-me outros amores, outros sorrisos. Houve outros encantos e outras cores, outras mãos, outros beijos. Na fanfarra dos olhos abertos, foi tudo alçando vôo, tudo se desprendendo e indo pra longe, pra outras paragens.

Mas se no acordado que estou, nas coisas que vejo, nítidas, claras, reais, penso ainda que nisso tudo você dorme e continua dormindo, e que apesar de talvez te recriminar por não ver as coisas que vejo e viver as coisas que vivo, fico aqui curioso e enternecido, perdido na possibilidade de seus encantos sonhados, no que acontece por detrás desses olhos que não vejo.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

do dizer

que a pele não tremule
que a voz não trepide
e que não se tripudie
do passo dado amiúde

que a presença não atribule
que o vulto não associe
e que o bafejo não denuncie
o que quer que se simule

pois se nessa hora vã
dá-se vez ao verbo avulso
proferido por impulso
atropelando a mente sã

haverá de ser bonito
aquele choro convulso
ao se lhe tomar o pulso
dizendo o que não foi dito?

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Carta de Maricá

Como vocês podem conferir aqui, não nego que sinto um certo fascínio pelas coisas achadas na rua. Se imagens já me atiçam, textos então, nem se fala. Se for uma carta, então, pronto: minha curiosidade é infinita!

Pois eis que nesse fim-de-semana, andando sozinho na Praia do Flamengo às seis e meia da manhã, cansado e querendo chegar logo em casa antes do sol ficar mais forte, encontro. Era um papel dobrado em 16 pedaços. Não resisto, abro. Era uma carta! Oriunda de Maricá, datada de 11 anos atrás e muitíssimo bem conservada. Assim, no meio da rua. Peguei, abri, corri os olhos. Era uma carta, de fato, uma carta de verdade. Não li naquela hora porque eu ainda tinha que andar umas seis quadras pra chegar em casa, mas levei comigo. Cheguei em casa, li.

É uma carta que não é boa e não é ruim. Entre o desasossego do desesperado e a placidez de quem não tem nada a dizer, o que temos é um texto bastante humano e afetuoso. Transcrevi a carta a seguir, sem correção de erros nem julgamento de valor. Enquanto a gente tem mania de floreios e complicações (nos textos e na vida), a carta de Maricá, do camarada que assina como Cuíca, é um tributo à simplicidade.



Maricá, 23/03/99

Oi! Tudo bem?

Por aqui está tudo bem, e pode ter certeza que não esqueci de vocês, esse tempo todo em que andei sumido foi devido a alguns compromissos com o vestibular, pois passei para a 2ª fase na UFF e na UERJ, e tive que estudar bastante, e após as provas estava saturado de ver tanto lápis, canetas, papéis, livros e etc..., e decidi curtir um pouco com os meus amigos para aliviar as tensões.

Falando sobre o resultado do vestibular eu consegui ser aprovado na UERJ, mas ainda não fui classificado, pois de 700 candidatos, minha posição foi 102º lugar para 80 vagas, e após 2 reclassificações, minha poisção atual é 84º lugar, e ainda falta 1 ou 2 reclassificações, e tenho chances de entrar no meio do ano. Um dos principais motivos para ainda não ter sido classificado foi a falta de experiência, pois não soube controlar o tempo, e deixei de passar a limpo duas questões de Geografia que estavam corretas porque acabou o tempo.

E teve mais um motivo para não ter mandado cartas para vocês, foi porque para continuar tendo chances de entrar na faculdade, tive que ir frequentemente para UERJ, mas agora estou mais tranquilo, estou frequentando a academia e procurando emprego, tentarei manter mais contato com vocês.

Antes que eu esqueça, só eu e a Clara passamos para a 2ª fase, a Clara já foi classificada, se Deus quizer serei o próximo.

Falando sobre o Carnaval, até que por aqui foi legal, pelo menos pra mim, pois conheci uma garota do Méier, nós ficamos no Carnaval, e algumas vezes mantemos contato por telefone, ela é demais...

Nos finais de semana tenho me divertido com os meus amigos do E.A.C, vou para festas, ou qualquer outro programa interessante, a única coisa que fico triste, é que não tenho muito contato com os meus amigos do colégio, que saudade, como o tempo passa rápido, queria voltar no tempo.

Mas o que importa é que graças a Deus nós todos estamos bem, e que mesmo através do pensamento estaremos sempre perto, pois a amizade, o carinho, é mais forte que a distância que nos separa.

Obrigado por terem lembrado do meu aniversário, é um dos presentes mais valiosos que Deus me deu, foram duas amigas tão especiais como vocês, que para sempre estarão guardadas no meu coração, não há presente de aniversário melhor, do que amigos te dizendo de coração Feliz Aniversário.

Agradeço a Deus por vocês existirem, e que esta amizade seja eterna como Ele.


Mande um abraço e um beijo para a Day e a mãe de vocês!

Tchau! Saudades!

CUÍCA BÃO!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Esfregar os olhos

Às vezes, tenho ímpetos esquisitos e muitíssimo prazerosos de esfregar os olhos com violência. Sou tomado de assalto por essa vontade súbita que me acomete de quando em quando: no meio da rua, dentro do ônibus, numa reunião. E ocorre que não posso nunca me furtar a essa vontade, não por um capricho ou qualquer coisa que o valha, mas porque a vontade quando vem logo se transforma em uma necessidade, uma necessidade enorme, inextinguível. Daí, esfrego os olhos com vontade, quase com volúpia e às vistas de quem houver, sem ousar fingir uma vergonha que não existe. Pressiono os olhos para dentro com as palmas das mãos e faço movimentos circulares, enquanto os dedos aproveitam para acariciar os cabelos. Pressiono até que as pálpebras se aqueçam ou que os olhos doam, o que acontecer primeiro. Quando abro os olhos, vêm os vagalumes. Infinitos pontos luminosos pululam numa imagem turva e desfocada, alguns espectros como que em negativo, algumas cores desajustadas. A imagem desarranjada, quase lisérgica, procura se ajustar à realidade enquanto os vagalumes começam a escassear. A um dado momento, todos os vagalumes somem, voltam para seus contos de fada, para seus reinos encantados. Quando isso acontece, ostento um cansaço sereno. Às vezes, me olham com desdém; às vezes, sou tachado de louco. Sinceramente, não importa muito. Não posso culpá-los por não entender quando depois de tudo, eu sorrio deliciosamente, os cabelos muito desgrenhados.

sábado, 5 de junho de 2010

Es_quadro


a moldura e_moldura

e cada es_cada

sacada

e cola es_cola

sacola

e tu es_guia

e tu es_mola

e tu-do:mina

e tu-do:ía

e TU_do_EU

[doeu!]



E tu_do-ce_do



Cede, seda

Sê tu-do-ce

sábado, 22 de maio de 2010

Paixões


Eu era um cara normal. Tinha meus amigos, meus estudos, minha cerveja no final de semana e umas contas pra pagar. Mas prestem atenção na história que eu vou contar.

Um dia eu me apaixonei pela Mariana. A Mariana era dessas mulheres normaizinhas, cabelos castanho-claros, olhos cor de mel, nariz fino e boca rosada. Não usava vestidos curtos nem saias apertadas, prendia os cabelos sempre do mesmo jeito e falava baixo. Tinha um quê de aeromoça e um olhar de esposa fiel; era pura graça e recato, a Mariana.

Um dia eu me apaixonei pela Fernanda. A Fernanda era uma mulher meio porra-louca, ruiva hoje e loira amanhã, e ouvia um rock só pra descontrair. A Fernanda era bissexual, e talvez até preferisse as meninas. Me contaram que ela tinha um piercing no mamilo, mas eu nunca soube se era verdade. Ouvi dizer que ela puxava um baseado e ia prumas festas moderninhas, mas eu também nunca soube; era mesmo extravagante essa menina.

Um dia eu me apaixonei pelo Pedro. O Pedro era um cara simpático e divertido. Era meio undergound, mas sem forçar a barra. Tinha lá os seus vícios pequeno-burgueses, comia quindim no café da manhã. O Pedro tinha gostos monocromáticos e uma cara de menino travesso; havia algo de mistério nele, um quê de indecifrável; interessante mesmo esse rapaz.

Um dia eu me apaixonei por um casal de japoneses. Eu os vi saindo de uma casa de swing no Jardim Botânico. Eles saíram a pé e pararam numa lanchonete pra tomar um café como se estivessem saindo de uma livraria. A minha paixão não estava em um, nem estava no outro. Eu me apaixonei pelo casal, pela unidade, por essa coisa que só existia quando os dois estavam juntos. Ademais, eu nunca soube distinguí-los.

Um dia eu me apaixonei por uma senhora cega que tocava um chocalho na esquina movimentada da Av. Rio Branco com Rua do Ouvidor. Ela devia beirar os 80 anos, uma pele enrugada do trabalho eterno. Parecia uma dessas senhoras de Minas Gerais que aparecem nos livros de arte fazendo artesanato ou dançando qualquer coisa folclórica; era tão doce essa senhora.

Um dia eu me apaixonei por um pato. Eu estava na Quinta da Boa Vista, e passou um pato que rebolava de uma maneira bastante sensual em torno da lagoa. Eram patas, penas, bico. E uma inaptidão pro nado e pro vôo, uma desesperança; mas andava e rebolava, mexia a cloaca de um lado pro outro, tinha aquela sensualidade que só os patos têm.

Um dia eu me apaixonei por uma cabra morta. Estava ali a cabra sem vida, as moscas rondando as vísceras e pousando suavemente nos pedacinhos ensanguentados dos tecidos enegrecidos, os ollhinhos que pendiam do rosto se decompondo e o sol iluminando o pasto, alheio a essas coisas todas; era meio Vidas Secas esse lance da cabra.

Um dia eu me apaixonei por um poste de luz. Depois por um vaso sanitário. Depois por uma pedra, por uma pedra que tinha no meio do caminho. Depois por uma barata agonizante. Depois por um plâncton. E por um grão de poeira grudado na vassoura. E por um incenso. E por um caco de vidro. E pela cor amarelo. E pelo número 912. E então eu me apaixonei pelo vento, pelo mar, pelo sabor do chocolate, pela cruz de Cristo, pelo parêntese que abre e pelo colchete que fecha; eu me apaixonei pela rosa em botão, pelo nitrogênio líquido, pela gravidade, pelo efêmero, pelo etéreo; eu me apaixonei pelo sobrenatural, pelo rabisco, pela coincidência e pelo não-dito.

Um dia eu era só paixão. Nada de amor, sexo, dedicação, carinho. Paixão! Eu era só paixão e mais nada. E nesse dia eu decidi me matar. Tomei essa decisão súbita por apenas um motivo: eu era só paixão, mas de todas as paixões que eu tinha, não havia uma, uma sequer, que fosse correspondida.

Agora eu sou carne putrefata, sou pele morta e sangue seco; agora eu sou água pútrida, eu sou necrochorume, sou água de adubo alimentando o lençol freático; sou o osso esnobe que restou da carne que ninguém quis; agora eu sou esse amontoado de órgãos sob a terra, eu sou essa espera e esse vácuo; eu optei por ser esse nada, ah, esse nada que eu sou que é tão tudo: porque eu agora sou Mariana, Fernanda, Pedro, japoneses, senhora do chocalho, pato, cabra morta, poste de luz e mais um pouco; eu sou um pouco de vocês todos agora, eu sou fantasma, sou assombração, sou o seu passado e a sua consciência.

Eu sou a sua última chance de se apaixonar por mim.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Pequena elucubração lógico-matemática sobre as relações humanas e o amor

A diz para B: "Vive a sua vida, relaxa. Eu vou estar aqui."

E então, como um cachorro mordendo o próprio rabo,
B diz para C: "Vive a sua vida, relaxa. Eu vou estar aqui."

E então, como uma cobra provando o próprio veneno,
C diz para D: "Vive a sua vida, relaxa. Eu vou estar aqui."

E então, como um ferreiro sendo ferido com o próprio ferro,
D diz para E: "Vive a sua vida, relaxa. Eu vou estar aqui."

F, G, H, I, J...

Pode-se presumir que em um dado momento,
o α-ésimo elemento vai fechar o ciclo,
dizendo para A: "Vive a sua vida, relaxa. Eu vou estar aqui."

Pois que dessa ciranda,
da qual todos fazemos parte,
se depreendem três grandes verdades,
absolutas, dogmáticas, universais.

1ª) Ninguém vai viver a sua vida.

2ª) Ninguém relaxa.

3ª) Ninguém nunca está.

domingo, 9 de maio de 2010

Silepse!

Você perdemos

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Letônia (Latvia)

Ano passado, eu fiz uma pequena Eurotrip, de umas cinco semanas. Apesar de alguns amigos terem considerado que eu cometi alguns pecados na escolha da minha trajetória (como não ir a Paris, a Londres ou a Berlim; ou de ter ficado duas semanas na Dinamarca sem ter conhecido Copenhague), eu fiz exatamente o trajeto que eu quis fazer; passando por alguns destinos mais badalados como Barcelona e Veneza, e por outros lugares menos conhecidos. Se eu pudesse colocar os oito países em que visitei numa espécie de ranking por interesse, certamente a Letônia seria o oitavo país. Seria o primeiro país a ser cortado se eu tivesse três dias a menos de viagem. Mas eu fui, e de tudo que vivi na Europa, certamente a experiência que eu tive na Letônia foi a mais rica, sem sombra de dúvida.

Pra começo de conversa, o meu vôo de Amsterdã para Riga (capital da Letônia) foi o meu único vôo dentro da Europa que não era da Ryanair. Fui por uma tal de Baltic Airlines, uma verdinha lowfare com cara de Webjet. De passagem nas mãos, a atendente do guichê olhou para minha cara, conferiu tudo e perguntou: “Don’t you need a visa?” e eu, naquela antipatia de quem tem razão: “No, I don’t need a visa. I’m from Brazil and I can travel across all over Europe Union within 90 days.” “Let me check.” E depois de conferir no site, abriu um sorriso: “Yes, you can travel for 90 days. Good trip.” Fiquei com raiva, mas ok. Cheguei em Riga e, surpresa, veio um cachorro cheirar as minhas malas. Não sei se era porque o vôo tinha v indo de Amsterdã ou se o procedimento padrão era esse, mas achei estranho. Não, eu não tinha trazido nenhum hemp gift comigo. =PP

O Couchsurfer que ia me pegar no aeroporto demorou 30 minutos pra aparecer... Fiquei esperando, esperando, e ele chegou. Conversa vai, conversa vem e, ele foi muito sincero ao dizer que “o país dele não gostava de gays, não era muito chegado a estrangeiros e que eles eram todos muito tradicionais”. Achei aquilo tudo muito esquisito, mas admirei a sinceridade. O povo brasileiro nunca vai admitir os seus preconceitos.

Jurijis (Yuri, em bom português) logo me revelou que não morava exatamente em Riga, mas em Ulbroka, um subúrbio de Riga no qual só passava uma única linha de ônibus, o 51 (ou 52, isso já tem quase um ano, eu não lembro bem). Era uma casa dessas de subúrbio norte-americano, onde habita uma família tradicional, cristã e com cachorro.

Ao andar pelas ruas de Riga, sentia que o modo como as pessoas me olhavam eram diferentes. Não eram exatamente xenófobas, mas não eram tão abertas ao estrangeiro quanto os países europeus ocidentais. Tal olhar desconfiado, entendi depois de algum tempo, tinha sua razão de existir. A Letônia, e os países bálticos de forma geral, vinham sendo os queridinhos da retomada do crescimento europeu, além de terem se tornado um must como atração turística. Eu tinha lido na internet e nos guias de viagem que os países bálticos estavam com tudo. Mas, ah, como a Terra gira... Veio a crise de 2008 e, cataploft, a Letônia mergulhou na sua mais profunda crise econômica desde a dissolução da União Soviética, com queda do PIB de 18%.

Eu não sabia, mas eu estava entrando num país muito triste: um país desolado, desconfiado, um país sem fé. Era o auge da crise e o desânimo era generalizado. Havia pouquíssimos turistas. O Yuri me acompanhou durante os dois dias que permaneci na Letônia. Me mostrou que uma das ruas mais bonitas era a Rua das Embaixadas estrangeiras. Me levou a um parque onde vi uma tradição que achei linda: casais que prendiam cadeados numa ponte para selar o amor eterno. (“they lock their love on a bridge”). Me levou para tomar cerveja em dois bares,por duas noites seguidas.

Mas teve uma hora em que eu fiquei sozinho na cidade. Isso porque ele tinha uma festa na qual apenas os letões podiam ir. Eu questionei, perguntei se era sério isso, e mais ainda, se era legal, e ele me disse na maior naturalidade que sim, que havia lugares na cidade que eram exclusivos para os letões. Ele disse que esses lugares existiam porque chegavam todos os finais de semanas hordas de britânicos vindo pela Ryanair interessados apenas em sexo com as garotas letãs. Eles criaram, então, espaços só deles. Eu entendo a lógica deles... Mas as mulheres brasileiras estão entre as mais cobiçadas do mundo, e os gringos vêm, transam com elas e tal... Eles fodem com elas e elas fodem com o bolso deles... =PP Como eu venho de um país muito livre, não acho que as coisas devem ser estigmatizadas desse jeito... Mas não questionei.

Fui ao McDonald’s e comi sozinho um McItaly, as pessoas olhavam pra mim, era muito estranho. Eu era um cara sozinho e com cara de árabe, num país hostil. Eu tinha marcado com o Yuri na volta de a gente se encontrar num bar cubano, o Cuba. Saí do McDonald’s, fui pro Cuba e fiquei esperando na varadinha do lado de fora do bar, bebendo sozinho no bar meio vazio... A polícia passou uma vez e ficou me olhando. Dez minutos depois, passou a mesma viatura mais lentamente, e ficaram me olhando de novo. Quê que eu fiz? Fui pra parte interna do bar, lógico; não ia esperar a polícia passar a terceira vez e pedi meu passaporte. =PP Depois o Yuri chegou e ficamos conversando, até que fomos encontrar a irmã dele (que trabalhava numa espécie de Cinemark de lá, e muito simpática por sinal), até que fomos pra casa.

Eu tinha ido ao Museu da Ocupação mais cedo, que é um dos museus mais importantes da cidade. É um museu sobre a invasão russa nos países bálticos e, em especial na Letônia. A Letônia foi invadida pelos alemães, e depois pelos russos. Aliás, apesar de a Letônia ter entrado na União Européia e ter tentado voltar os olhos para o Ocidente, toda a sociedade é voltada para a Rússia, em vez de para a Europa. A russificação da sociedade e da cultura é visível. Isso explica a repulsa que eles têm pelos estrangeiros, que, em vez de turistas, são sempre vistos como invasores no inconsciente coletivo. Dá pra ver que o povo letão é muito sofrido e isso justifica muita coisa. Além desse lance da repulsa ao estrangeiro, o Yuri estava me falando da fuga em massa do país. Segundo ele, lá existe o sonho norte-americano. Quase todos têm vontade de sair do país para ir pros EUA ou pro Canadá, onde as oportunidades são muito maiores. A irmã dele iria para os EUA no mês seguinte e, ele iria pro Canadá no final do ano. Aliás, foi bastante interessante pra mim perceber os russos como os grandes filhos-da-puta da História. Estamos acostumados por aqui a demonizar nossos colonizadores diretos, a meter o pau nos norte-americanos e no capitalismo selvagem, certos de que o bondoso sistema comunista seria muito melhor. Lá, o ponto de vista é outro: “um dia os russos vieram, tomaram todas as nossas terras e disseram que era tudo do Estado.” O sonho deles era a democracia, o direito de propriedade, o direito de comprar e vender.

Mas nessa última noite que passei lá, eu e Yuri ficamos conversando sobre muita coisa. Ele falou sobre essa questão da ocupação e da questão lingüística: ele é fluente em letão, russo, alemão e inglês. E eles têm que saber, porque a língua deles é praticamente uma língua isolada, só tendo parentesco com o lituano. De tudo, o que ele me falou, o que mais me marcou foi a seguinte declaração: “Our language is very poor, we have just a few words to say. Sometimes it’s easier to think in Russian.” Cara, isso me marcou profundamente. Eu não consigo imaginar uma lingua pobre, o português é tão rico e tão bonito. Não estou acostumado a ter uma língua que não seja motivo de orgulho...

Mas nesse dia ainda falamos sobre várias coisas. Eu falei pra ele que, definitivamente o “Caipiranha” é o nome de bar mais engraçado que eu já vi, mesmo no Brasil e expliquei pra ele o porquê. Ele ficou muitíssimo surpreso com o fato de as estações do ano no Brasil serem trocadas em relação à Europa (como assim, vocês não têm neve no inverno?), no que considerei como uma grave falha do sistema educacional letão. Ele faz arquitetura e o que ele sabe sobre o Brasil é Oscar Niemeyer. Me mostrou um livro sobre o Oscar Niemeyer escrito em russo, me mostrou imagens de Brasília e da Igrejinha da Pampulha em BH, perguntou se eu conhecia essas coisas. Me mostrou uns vinis seus também, tinha muita coisa legal. Ele estava se desfazendo deles e eu sinto qu e poderia ter conseguido um, mas ele iria quebrar dentro da minha mala, sem dúvida. Ele tinha uma músicas brasileiras no MP3. Me mostrou “Bala com Bala”, da Elis Regina, que eu não conhecia muito (e ainda hoje não conheço quase nada). Essa música é uma que ela canta “bala com bala bala com bala” muito rápido. Ele falou que ele e os amigos dele morriam de rir ouvindo essa música porque “bala” em russo tem o mesmo significado de “pussy” em inglês. Dei dois cartões-postais pra ele.

No dia seguinte, eu ia pegar o ônibus das 08:00h na rodoviária, no Centro de Riga. Yuri foi pontual. Me acordou às 5:00h, sua mãe me preparou um café e veio me chamar pra comer mesmo sem saber uma palavra em inglês. A única palavra que aprendi em letão foi “Paldies”, que significa “obrigado”. Mesmo assim, quando saí de casa, agradeci à mãe dele com um “Thank you”. Achei que um Paldies seria muito forçado, algo meio clichê, e eu sei que ela entenderia o meu “thank you”.

Agradeci muito ao Yuri e peguei meu ônibus para Tallinn, na Estônia. Fiquei pensando na Letônia dentro do ônibus. Teve um dia que teve um “Free Hugs” no centro de Riga. Passei ao largo. Decidi não abraçar um povo que não me abraçou. Escrevi uma referência no CouchSurfing para o Yuri depois. Ele deixou lá um “Will write soon” pra mim. Está lá até hoje. Nunca soube se ele gostou de mim, se me achou estranho, diferente; se teve medo, como todo o povo letão. Mas eu tenho certeza, que dentro das possibilidades dele, ele foi o melhor que pôde; e independentemente do que ele pense sobre mim, eu gosto dele e o perdôo.

Não gosto e nem desgosto da Letônia. Mas foi lá que eu tive contato com o diferente, é lá que a Europa é menos Europa. Foi a experiência mais rica que eu tive lá fora, como já disse e torno a dizer: o lugar onde eu mais aprendi.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Polícia para quem precisa



Na sexta-feira santa, eu fui a um churrasco no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro: um lugar bem bacana, mas naquela parte da cidade onde a chapa esquenta. Saímos às 4:00h, e tomamos um táxi em direção à Zona Sul, onde eu e uns amigos moramos, e onde a chapa esquenta menos, por assim dizer. Veio uma blitz e parou nosso táxi. O policial nos mandou descer do táxi. Nos revistou. Perguntou se tínhamos algum baseado conosco. Até aí, ok. É desconfortável, mas é o trabalho dele. Mas ele cheirou nossas mãos para verificar se nós tínhamos fumado maconha. Ele perguntou de onde a gente estava vindo, ao passo em que eu respondi que estávamos vindo de um churrasco de um amigo nosso no Méier. Ele perguntou se não estávamos no baile da Mangueira, ao que respondi que não. Perguntou de novo, ao que reiterei a negativa. Ele nos liberou dizendo “Salvos pelo taxímetro.”

Depois eu fiquei pensando. Cara, isso está errado. isso está MUITO errado. O policial tem o direito de parar nosso carro e nos revistar. Mas ELE NÃO PEDIU NOSSOS DOCUMENTOS! Ele cheirou a minha mão (nem a minha mãe cheira a minha mão!). E qual o sentido de ele dizer que fomos “salvos pelo taxímetro?” Por que, qual o problema haveria de estarmos curtindo o baile funk na Mangueira? É proibido? E se eu tivesse fumado e minha mão tivesse com cheiro de maconha e eu não tivesse nada comigo? Se eu tivesse fumado no Méier, o quê que ia acontecer? A sensação que passou foi a de que os policiais queriam que nós tivéssemos qualquer erro (qualquer!) pra conseguirem um dinheiro de propina e garantir os ovos de páscoa dos seus filhos no domingo. Com o perdão da expressão chula: se fuderam.

Teve uma outra vez, em que eu estava andando sozinho na Lapa, e quando passou a viatura, eu acabei, coincidentemente, dando meia-volta. Eu tinha percebido que a rua em que eu acabara de passar me levaria mais depressa ao meu destino. Mas daí, veio a viatura e me tomou como suspeito. Perguntaram da onde eu vinha, e eu estava bem nervoso por outras razões. Me revistaram, eu fiquei nu, dessa vez eu me senti bastante humilhado. Viram que eu não tinha nada (eu não sou usuário de drogas), mas me disseram um “Olha só, fica esperto.”

Eu fico pensando que essas coisas ocorreram comigo, que sou um cara estudado, de classe média. Nessas horas, você vê como é complicado negociar com um policial, com alguém que tem uma arma na mão e um poder instituído. Talvez seja mais difícil do que negociar com um bandido, porque eles se sentem poderosos mesmo. Afinal de contas, o que eu poderei fazer, chamar a polícia?

Eu confesso que eu sou um ferrenho defensor das UPPs, as tais Unidades de Polícia Pacificadora. Acredito neles não como um modelo de enfrentamento puro e simples (como é o caso do Bope e seus “caveirões”, que eu abomino), mas sim, como uma política pública de longo prazo. Mas algumas reflexões posteriores me levaram a um tipo de medo. Eu confesso que eu tenho medo do aumento súbito do efetivo e do poder da polícia. Porque são pessoas que, verdade seja dita, não são treinadas para lidar com seres humanos. São treinados para não negociar, e para tratar as pessoas como animais.

Fico pensando no que acontece por aí afora, na Baixada Fluminense, onde a chapa esquenta mais ainda. Eu tenho a sensação de que a truculência policial não tem limites. Porque, no fundo, não há NADA que me garanta que se eu tentar entrar numa discussão de negociação com um policial e entrar na viatura, ele não vai me matar e jogar meu corpo no caminho em vez de me levar pra delegacia. Às vezes, eu tenho medo da polícia, e eu não sei se é certo. Eu não sou culpado de nada e eles, em tese, estão ali pra me proteger dos outros. Mas e deles, quem me protege? Confesso, tenho medo.

E a verdade nua e crua é que a questão da truculência policial e da falta de critério para a abordagem policial não entram em discussão porque a classe média não está nem aí; porque uma blitz como essa, na qual TODOS os carros eram parados, sem distinção, não vai nunca ocorrer nas ruas tranqüilas e pacatas do Leblon, por onde circulam os bacanas e seus filhos. Esse tipo de coisa não entra em discussão nunca e nem vai entrar porque a classe média (e o Jornal O Globo, que monopoliza a mídia impressa no Estado do Rio e faz reverberar o pensamento da elite do Leblon por todo o Rio de Janeiro), porque estão todos eles encantados com a valorização dos seus imóveis, encantados com a polícia e seu poder de fogo legalmente instituído.

Eu pensei em escrever pro jornal, contar o que aconteceu, dizer pra polícia que não dou a NINGUÉM o direito de cheirar a minha mão. Mas eu não anotei a placa das viaturas. Na delegacia, iriam fazer chacota, dizer que é assim mesmo. O jornal talvez nem publicasse. A gente vai acreditando mesmo que tudo isso é muito normal.

Mas lá fora, longe das UPPs, d’O Globo, e da Zona Sul, lá onde a chapa esquenta, a polícia age e vai continuar agindo como se não houvesse lei que a regulasse, mais ou menos da mesma forma que os bandidos.

sábado, 27 de março de 2010

Carta aberta ao mundo



Mundo,

Espero que você saiba quem você mesmo seja. Você, mundo, é o meu mundo e é todo mundo, é o imundo e o submundo, o desmundo, o fundo das nossas cabeças, nossa pele e nossa casca, nossas idéias: as brilhantes e as estridentes; nossas vozes e nossas cores, nossas terras, nossas entranhas, nossas ausências e nossos muros; estrelas, galáxias, garrafas de vidro ao mar, garrafas de plástico boiando num rio, lendas, mitos, letras, códigos; sirenes e arbustos, santos, vocábulos, meias de algodão e de feltro, pedaços de dedos humanos carcomidos pela guerra ou pelo tempo, restos fósseis; petróleo e gana, piedade, todas as lápides, a saúde e a música; o mérito e o meretrício; aqueles que não têm nome, aquelas coisas que não são nada; o iodo e o bário, o formol; a contracapa da revista, as vicissitudes e idiossincrasias; eles, você, eu.

Então, mundo, diga lá: é tudo de propósito?

Um beijo,

Você

quinta-feira, 25 de março de 2010

Cinzas



Meu problema contigo é só pinimba
De truco, sueca, pôquer, baralho
De pierrô, arlequim, mico sem galho
De pipa sem cerol e sem marimba

Agora eu sei que meu cigarro é guimba
E também que meu leite agora é talho
E que a trama é na verdade retalho
Que a sede não se esgota na cacimba

Meu amor, anda, vai, se refestela
E vive para além da quarta-feira
Mantém pra sempre acesa esta folia

Que eu também aqui, à minha maneira
Escalpelo essa tão parca alegria
Por entre tanto choro e tanta vela

segunda-feira, 8 de março de 2010

Claudinha, querida

Em primeiro lugar, peço desculpas por estar te escrevendo tão tarde. Já tem seis meses que você está aí em Chicago e acabou que nem conseguimos nos falar nesse tempo. Sabe como é, tantas coisas pra fazer, o cotidiano acaba mesmo engolindo a gente. Mas espero que esteja se dando bem aí no seu novo emprego, mesmo com toda essa crise.

Bom, Claudinha, vou ser direta. As notícias que tenho para lhe contar não são das melhores. Agradeço muito as chaves do apê que você me deixou em Botafogo. Mas umas duas semanas depois de você sair, o apê pegou fogo; os bombeiros demoraram à beça a chegar, acharam que fosse trote e quase tudo se perdeu. Desculpa te dar uma notícia dessas assim, mas eu consegui salvar umas jóias e uns vestidos e também um elefantinho de prata que tinha na mesa da sala. Mas o fogo foi rápido mesmo, você tinha que ver. Daí o apartamento ficou todo queimado, teve que trocar fiação, a parte hidráulica também ficou bem comprometida e ainda tinha que pintar as paredes, porque ficou tudo queimado. Daí você nem sabe. Como tem muito tempo que a gente não se fala, acabei nem te contando. Eu fui demitida. Na verdade, uma semana antes do incêndio. Então foi isso. Você viajou, na semana seguinte eu fui demitida e na outra o apê de Botafogo pegou fogo. Eu ainda tentei ver o seguro-desemprego, mas acontece que faz uma coisa, faz outra, acabei nem conseguindo ver isso direito. Então, eu tinha que fazer as obras no apê. Em primeiro lugar, pensei em vender as suas jóias, mas achei que você nunca me perdoaria. Então, Claudinha, eu tive que pegar dinheiro emprestado num banco, mas como não deu pra cobrir todos os gastos, eu tive que ir num agiota também. Vai acompanhando, Claudinha. Eu consegui, felizmente, fazer as obras todas, o apartamento ficou um brinco, só vendo. Mas uns três meses depois, o banco já estava colocando meu nome no SPC e o agiota me ameaçando de morte. Os juros eram altíssimos e eu não tinha outra coisa a fazer. Vendi as jóias. Claudinha, por favor, me desculpa. Tinha até aquele pingente que estava escrito “Lembrança da Vovó”, um verdinho, eu tentei pedir um dinheiro maior pro comprador, dizendo que era uma jóia de família, mas ele não quis nem saber. Acho até que eu vendi tudo muito barato, mas é que eu não entendo muito dessas coisas, Claudinha. Acabou que com a venda das jóias eu só consegui pagar o agiota, mas bem, a gente salva a nossa pele primeiro, depois pensa no SPC, essas coisas. Mas era tudo pior do que eu pensava; eu fiquei só com a dívida do banco, que crescia cada dia mais, os credores estavam vindo na minha porta já pra me cobrar e me ligando quase todo dia. Claudinha, eu comecei a entrar em desespero aqui, eu estava desempregada e com a dívida enorme no banco. Vendi o apartamento. Claudinha, desculpa ter que te contar essas coisas todas assim, meio apressada, espero que você não fique muito chateada comigo. Mas eu não tinha opção, era o único dinheiro que eu poderia ter. Aliás, eu nem te falei, mas eu tive que mandar o Rex pra Suipa, porque eu não estava tendo condições nem comigo mesma, que dirá com o Rex também. Aliás, na Suipa tem outros cachorros também, acho que ele vai gostar. Mas bom, com a venda do apê, eu consegui pagar todas as minhas dívidas aqui, finalmente. E ainda sobrou um dinheirinho, coisa pouca, que eu vou ver se consigo te mandar. Mas é que esse negócio de depósito internacional é muito difícil, eu não sei como é que faz isso direito. De repente, é melhor deixar esse resto de dinheiro aqui pra quando você chegar; mas fica tranqüila, dessa vez não vai acontecer nada, e o seu dinheiro vai estar aqui quando você voltar, pode ter certeza. Dos vestidos que eu consegui resgatar do incêndio, eu até pensei em te mandar pelos correios, mas a taxa de envio ia ser tão cara, mas tão cara, que eu achei que não fosse compensar. Daí, acho que você nem vai se importar, mas eu estou usando os vestidos, porque, Claudinha, eu não ia deixar aquelas roupas lindas ficarem acumulando mofo no armário. Além do que, você sabe como eu sou uma pessoa cuidadosa, ainda mais com as coisas dos outros. Esse azul de rendinha é um escândalo, é o que eu mais uso; olha, acho que esse não vou querer te devolver não, hein... Mas, enfim, Claudinha, nem tudo nesse mundo é tragédia, tem a parte boa também. A parte boa é que eu arrumei um outro emprego, o Carlos me chamou pra trabalhar com ele. Aliás, Claudinha, o Carlos tem se mostrado um doce de pessoa, sempre me apoiando nos momentos difíceis. Ele é muito atencioso e sempre muito carinhoso, estamos nos dando muito bem por aqui. Que sorte a sua de ter um marido assim, Claudinha, tenho certeza de que um dia eu arrumo um igual.

Um beijo,

Beth

terça-feira, 2 de março de 2010


que agora já passou o calor
e o carnaval
já passou o verão
e o sol
os corpos morenos
esbeltos
tudo isso já passou

já passamos
agora é fácil
é frio
já é março e pode vir

o inverno é nosso

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Feliz é você

Infelizes os que não sabem que a vida tem uma gravidade própria
que não é newtoniana.

Aqueles que estão nos mais altos platôs
das mais altas montanhas
estão à beira do precipício.

Às vezes, a queda livre é liberdade,
às vezes impacto.

A vida é mesmo pouco cartesiana,
pouco ortodoxa,

é perfeitamente normal
subir pra baixo,
descer pra cima.

Infelizes mesmo são os que não sabem
que existe um mundo de ponta-cabeça
ao contrário
pelo avesso

onde perde muito mais
quem só ganha
quem não dá dois passos atrás

pra dar três à frente
pra pegar a moeda caída do bolso
pra fazer o moonwalk.

Felizes aqueles que têm as suas conquistas
porque podem prescindir delas
a qualquer momento.

A cada um o seu tempo
a cada pecado a sua cruz
e a cada cruz o seu calvário,

feliz é você que quebra o brinquedo novo sem culpa
que abdica de continuar o filme
que põe as roupas num brechó

feliz é você
que prescinde do que não precisa
que abdica do que não faz falta
que joga fora o que seria o sonho dos outros
que não vão saber nunca
que os sonhos são
na verdade
muito maiores.

Só você é você mesmo
só você sabe quando é dor
e quando é alívio
só você sabe que a felicidade
não está à venda
que
bom salário
internet o dia inteiro
pouco trabalho
vale alimentação
plano de saúde
plano de celular
estabilidade
o escambau
não vão manter você aí
inerte
sentado nesta cadeira enquanto o mundo explode,

porque você sabe
e só você sabe

o quanto do paraíso é cela
o quanto da cela é glória
o quanto da glória é poço
e o quanto do poço é redenção.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Às pessoas do meu trabalho

Danielle, desculpa ser assim tão franco, mas é que pra mim você não significa muita coisa. Na verdade, eu preciso dizer isso, eu gosto da sua ausência e odeio a sua voz.

Júlia, nós tínhamos tudo para ser grandes amigos; pela nossa idade, pela quantidade de assuntos em comum, pela crítica; Mas um dia, sei que você já deve ter esquecido, todo o seu preconceito veio à tona de uma só vez. Não dá para sermos amigos assim. A sua postura conservadora e preconceituosa em relação a um monte de coisas minou o apreço que eu tinha por você; essas coisas nos afastaram e continuam nos afastando. Você é o meu pilar que ruiu.

Lia, eu gosto de você. Eu acho a sua paz e a sua tranqüilidade admiráveis. Não importa nunca o tamanho do problema, a sua voz não se altera. Eu gosto muito dessa sua placidez, me faz muito bem. E tudo isso, sem deixar a desejar na competência. Você é a chefe que eu gostaria de ter.

Amália, eu te conheço pouco, mas eu gosto bastante de você também. Você é bonita, inteligente e incomensuravelmente doce. Você é uma mulher tradicional, o que não a torna avessa à modernidade. Preza os seus valores e segue. Você é moça de família como já quase não existe mais hoje em dia. Eu gosto de você ser tão doce e alegre. Apesar de crer que nossos caminhos talvez não se esbarrem mais quando eu sair daqui, eu tenho certeza que você será uma boa mãe e uma mulher muitíssimo feliz.

Mauro, você não faz idéia do quanto eu gosto de você. Você não faz idéia do quanto eu te admiro e do quanto você é importante pra mim. Você é uma pessoa transparente, íntegra, correta, divertida e apaixonada pelo que faz. Eu não te invejo. Eu quero que você seja o melhor que você possa, até pra mostrar pra todo mundo que certas coisas não importam. Eu nunca serei você, mas nas coisas boas que você tem, eu vou me esforçar pra ser exatamente desse jeito. Você nem imagina, mas em que pesem as diferenças entre nós, você é um esboço do meu projeto a longo prazo.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

eu sou um pouco de vocês todos.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010


incandesce
a tua chama
me chama
e desce