domingo, 31 de outubro de 2010

Ortografia e sexualidade


O travessão é masculino e o ponto final também. Talvez isso ocorra porque ao homem sempre foi dado o direito de falar e a ele sempre coube encerrar os assuntos.

No entanto, a exclamação, a interrogação e a vírgula são femininas. Naturalmente isto ocorre porque à mulher é dado o direito de exclamar, de questionar e, sobretudo, o direito de interromper.

O cifrão é masculino. O euro também é masculino. Os mais incautos podem depreender daí que o dinheiro está associado à masculinidade e ao poder. Mas a libra esterlina é feminina. E é a moeda mais cara de todas.

Os acentos são masculinos. Agudos ou cinrcunflexos, representam a força do homem, expressa na tônica de cada palavra.

O til também é masculino. No entanto, não atinge a força e a potência dos acentos. Não é formado por traços nem ângulos; é sinuoso, mas ainda assim, masculino. É metrossexual.

Os parênteses são masculinos, bem como os colchetes. Ambos têm formato simples e expressam coisas triviais. No entanto, as chaves são femininas. As chaves são utilizadas em expressões matemáticas de grande complexidade, e por si só, já são complicadas, difíceis de desenhar. Representam toda a complexidade da mulher moderna.

A barra e a barra invertida são femininas. Elas são como mães e avós, são opostas em si mesmas; mas estão sempre lá, ainda que pouco solicitadas. Quando, contudo, precisamos delas, nos guiam, nos mostram o caminho e, tal como arquivos de computador, fazem com que cheguemos exatamente onde queiramos.

A arroba é a mulher que está envolvida e a cedilha é aquela mulher mercenária que se pendura nos homens que, coitados, sempre minúsculos, têm sua vida radicalmente transformada.

A tralha é feminina, mas ninguém sabe. Os que ainda não perceberam tratar-se de uma mulher, insistem em chamá-la pela alcunha masculina de “o jogo-da-velha”.

Porém, quanto a outros elementos, não há dúvidas. As aspas são lésbicas, os dois pontos são gays e o ponto-e-vírgula é um travesti.