quarta-feira, 4 de outubro de 2017

A revolta da camareira


No dia 04/10/2017, o jornal O Globo trazia uma reportagem que se intitulava ‘A revolta da camareira’. A matéria de página inteira era ilustrada por uma moça parda e sorridente que embalava nas mãos seu bebê de cerca de um mês de idade, e trazia o seguinte texto.

"Katielly Verônica da Silva está virando o Rio de Janeiro de pernas para o ar. A moça, nascida na comunidade do Borel, tem 25 anos recém-completos e foi camareira de motel pelos últimos três anos. Tendo começado no Hotel Rosa da Vila, no bairro do Sampaio, logo arrumou emprego no badalado Hotel VIPs, na Av. Niemeyer. Contudo, sua estada no Vidigal não durou muito tempo. “Era muito bom porque eu encontrava os jogadores de futebol e uns atores de novela também. Eu me sentia uma pessoa importante trabalhando lá, mas fiquei muito longe da minha família.” Por esse motivo, Katielly aceitou uma remuneração menor e uma vida mais distante dos famosos, e trabalhou por quase um ano no Hotel Corinto, na Tijuca. “Quem diria que trabalhando lá eu é que iria ficar famosa?”, provoca a morena. Morando com sua mãe, seu pai e seus dois irmãos na Rua São Miguel, na parte baixa da comunidade onde nasceu, Katielly foi alçada à fama nacional logo após sua demissão. “Eles não me quiseram, né? Aí eu tive que dar meu jeito.”, desabafa Katielly. Segundo a moça, sua demissão foi sem motivos. “Por corte de custos”, eles disseram. Foi nesse dia que Katielly teve a ideia que mudaria sua vida para sempre. “Foi uma coisa que veio assim, na hora. Uma ideia súbita mesmo. Se você me perguntar ‘Ah, mas por que você fez isso?’, eu não sei se eu conseguiria te responder. Acho que eu fiquei com raiva e queria fazer alguma coisa para extravasar. Daí, eu me lembrei que tinha uma amiga que era técnica de laboratório na Fiocruz e pensei: por que não?” Katielly, que não revela o nome da amiga, diz que fez tudo muito rápido. Ligou para ela, explicou a situação, e perguntou se ‘dava pra fazer’. A amiga disse que sim, desde que ela saísse de lá imediatamente e a encontrasse no laboratório. Após a resposta afirmativa da amiga, Katielly se preparou para a ação. Escolheu um quarto aleatório do Hotel Corinto e recolheu o sêmen que se depositava em cima da cama. Guardou o material no potinho vazio em que havia trazido sua marmita e, despedindo-se de todos, pegou um uber até a Fiocruz. “Eu não tinha dinheiro, mas fiquei com medo de não dar tempo se eu fosse de ônibus.”, disse a camareira. Chegando lá, dirigiu-se à sala de trabalho da amiga e perguntou sobre as técnicas de congelamento. Porém, como Katielly estava em seu período fértil, a amiga propôs que fizessem o procedimento imediatamente. “Nem precisou congelar. Ela pegou uma seringa descartável que ela tinha no laboratório, e fomos juntas ao banheiro. Foi lá que ela me introduziu o ‘material’”. Ao chegar em casa, Katielly ligou para a amiga e disse que estava nervosa e um pouco arrependida, mas esta lhe tranquilizou dizendo que era muito pouco provável que aquela loucura desse certo. O tempo, porém, provaria o contrário. Evangélica e sem namorado (e, segundo a própria, sem nenhum parceiro ocasional), Katielly viu sua menstruação cessar e sua barriga começar a crescer. “Eu custei muito a acreditar que aquilo tudo estivesse acontecendo. Mas não tive coragem de contar nem para os meus pais, nem para os meus amigos. Inventei uma história qualquer de um cara que eu conheci numa festa.” Ela guardaria esse segredo durante os nove meses de gestação. A verdade só viria à tona após o nascimento do seu filho, João Victor. “Quando ele nasceu, senti que era a hora de contar.”, disse a camareira. Entretanto, em vez de compartilhar sua intimidade apenas para os mais próximos, Katielly procurou uma emissora de televisão e literalmente se abriu durante um programa vespertino. Além da fama meteórica e do sucesso nas redes sociais, Katielly também ganhou um farto enxoval com roupas, fraldas e produtos cosméticos. Sobre a inescapável pergunta a respeito do pai da criança, a camareira revoltada parece ter uma resposta na ponta da língua: “Eu estou à procura de um grande amor, que me aceite do jeito que eu sou e que se dê bem com o João Victor. Pai é quem cria.” Sobre a última frase, essa parece não ser uma opinião compartilhada pelos homens desesperados que ligam para o Hotel Corinto todos os dias, pedindo cópias de recibos do cartão de crédito do mês de janeiro e exigindo filmagens da entrada dos carros no hotel, no fatídico dia. “A gente teve que colocar uma linha de telefone só pra isso.”, resmunga Irineu Valadão, gerente do hotel. Quanto à amiga de Katielly, a direção da Fiocruz emitiu uma nota na qual informou que “embora não tenha sido autuada judicialmente sobre o caso da autoinseminação artificial da camareira, permanece à disposição da sociedade para prestar os devidos esclarecimentos”."