terça-feira, 2 de dezembro de 2008

eu sou belo horizonte (ou a outra cidade)


I

eu sou belo horizonte

altos e baixos
sempre retilíneo
até o contorno
onde dou voltas
e voltas
insondáveis
sobre mim mesmo

apequenado
porque produto
das mentes menores

planejado
bem cuidado
mas inóspito
árido
vazio
onde as noites são sempre tristes
nas ruas mal iluminadas

à margem e ao lado
de um rio que brilha
e de uma são paulo que pulsa

quase sem identidade
quase despercebido

mas o horizonte ainda tem em si
alguma beleza
que não se mostra
aos turistas desavisados

e com algum esforço
para além dos guias
para além da apatia
para além das informações
nas bancas de jornal
lá estão

um fígado acebolado
um sorvete
uma cocada
um capuccino
com ou sem canela

mas sobretudo,
ainda que longe
existe também um aeroporto
lá nos confins
e também uma rodoviária
que sempre nos leva de volta
para onde queiramos

e a cidade
do horizonte belo
nas mangabeiras
das graças pinçadas
num final de semana
tão nublado

a cidade-pérola

encasqueta-se
porque a partida sempre dói

e essa dor
essa dor no nada
que é uma ausência
que é uma rua do amendoim
pros que não dirigem

faz com que a pérola se feche
do lado de dentro
da ostra
com saudade da maresia


II

por isso
esses vôos todos cancelados
essas estradas todas bloqueadas

porque agora
de belo horizonte
não é possível sair
em belo horizonte
não é possível chegar

a cidade está sitiada
porque se vão explodir
todas as pérolas
todas as ostras
todos os fígados acebolados
todos os sorvetes
todas as cocadas
todos os capuccinos
com ou sem canela

mas belo horizonte explodindo
belo horizonte em chamas
não tem apelo
não tem graça
não tem glamour

e pode ser que ninguém veja
e pode ser que ninguém ligue
porque bem
belo horizonte não é rio
belo horizonte não é são paulo

belo horizonte é essa savassi
abandonada
onde só resta o contorno
e o consolo
de sempre poder dar voltas
sobre si mesmo
sem chegar a lugar algum

enquanto do lado de dentro
do contorno
arde a pira

e lá de cima
nas mangabeiras
o horizonte que se vê
já não tem nada de belo

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Quinze anos












Saiu com todos os preparativos
Era sua festa de quinze anos
E tocariam até os Los Hermanos
Tinha chamado todos seus amigos

Gastaria muito com cheques vivos
Torcendo pra que não houvesse danos
Nem com os amigos bêbados, insanos
Todo esse luxo, sem muitos perigos

Na festa aconteceu grande surpresa
A sensação sentida foi geral
Quando ela entrou no salão de grinalda

A platéia tentou não rir, coesa
Por um penteado que, feito mal
Deixara-a igual à Vovó Mafalda

sábado, 23 de agosto de 2008

Niterói


O mestrado
and there's something beyond the bay
O abraço
and there's everything beyond the bay

e a cidade me recebe
com seus caminhos sinuosos
e seus olhos de disco voador...

sexta-feira, 25 de julho de 2008

escrito

Mais uma vez como todas as outras em que eu me deparo com a folha em branco e me questiono incrédulo sobre a matéria escrita próxima, se ficção, se realidade, ou ainda, quem sabe, se alguma coisa que oscila, alguma coisa como que em fragmentos, em pedaços de realidade, ou ainda algum tipo de fantasia em pó porque, no fundo, é essa necessidade inexpugnável de escrever alguma coisa que sirva, ainda, mesmo sabendo que talvez ninguém nunca leia, mesmo que talvez entre pra já quase infinita coleção das cartas que eu nunca irei mandar e que apodrecerão amarelentas dentro de caixas que estarão dentro de gavetas, que estarão dentro de armários, que estarão dentro de cômodos e que, por mais que eu queira negar, sei que sempre estarão lá, me olhando de dentro do fundo da caixa, me mostrando uma passagem, uma nesga de memória, um pedaço entrecortado de algum momento importante, uma nota de rodapé, uma crítica de um livro, uma anotação boba, um carinho, um presente, um marcador de livro, um cartão-postal, uma lembrança, outra lembrança, um envelope selado, uma conta de banco, um artesanato, um cartão de Feliz Natal, algum nada cheio de significado, uma etiqueta de roupa, uma agenda, uma foto, um cheiro, uma folha seca, umas contas de um colar que se assemelham a dois olhos e que sempre olham pra mim quando eu os encaro interrogativo e com violência, esses olhos que não se deixaram fotografar porque eram duas bolotas laranjas cada uma com um círculo mal desenhado e que ficavam assim, exatamente como dois olhos que me fitariam longo, muito embora os olhos de verdade ainda que dulcíssimos, se me recusassem a olhar e é como se tivesse ficado a lembrança, é como se as contas laranjas do colar colorido fossem a lembrança, porque elas me remetem ao olhar, aquele olhar, ao olhar dela que é assim, baixinha, arretada, com uma voz meio esganiçada mas muito senhora-de-si, altiva, inteligente, que sabe se impor, se expressa, conhece, escreve, lê, sabe, guia, muito guia, nos levando pela cidade fora do circuito, pela parte que ficou de fora do roteiro sempre tão mais divertida onde as pessoas fumam apreensivas suas pedras de crack pela calçada e vivem as suas alucinações sem se preocupar sobremaneira com o mundo que aí está e que desmesuradamente os exclui de qualquer coisa que transcenda os próprios limites da sua zona geograficamente delimitada para este fim, da zona que ficou demarcada como o refúgio da cidade, no local, naquele local onde a cidade é tão mais ameaçadoramente verdadeira que é preciso fugir dela a qualquer custo e para isso, sim, os cachimbos de crack aqui, ali, por todos os lados, em todas as calçadas, em todas as pessoas, esta fuga do mundo, este não-estar, este não-ser, este negar que às vezes é tão mais fácil do que encarar o mundo de frente, mesmo que para isso seja preciso enxergar a vida assim, feia, feiíssima, tal como ela é, de forma que reste para nós o desafio de que não sejamos apenas transeuntes e que, por mais que não saibamos contornar essa vida urbana tão cheia de mazelas, por mais que não consigamos mudar o mundo, é preciso que se o percorra, de todos os modos, de todas as maneiras, porque isso é sério, a vida é séria, e por isso é preciso avisar a todos os seus amigos, a todas as pessoas que você conhece que a vida é séria, que a vida séria pra caralho e que por isso, justamente por isso, é preciso que se ria, é preciso que se ria ao máximo e sempre que se possa, rir, sim, rir, rir para o mundo, e rir do mundo ainda, quando isso for possível, dos tropeços, das quedas, da cara das pessoas no elevador quando elas entram sempre com as suas caras de chaminé e você pensa que ainda terá que encará-la por mais uns quarenta segundos, mas vá lá, é definitivamente melhor do que perguntar sobre a chuva, sobre o jogo, sobre a notícia sensacionalista do jornal de anteontem mostrando mais uma vez os episódios folhetinescos das menininhas que são jogadas das janelas, de todas as janelas, todos os dias, de todos os sextos andares, de todos os edifícios London, de todas as São Paulos que existem dentro de cada um de nós com suas contas de colares, casacos perdidos, faculdades, amigos, cafés gelados, festas, ônibus, cracolândias, corridas, dúvidas, hotéis, conversas, pessoas, sim, pessoas, muitas pessoas, aos montes, as que não voltam, as que ficaram, as que foram viver suas aventuras mochileiras mundo afora, as que dão saudade, as que tomaram um chopp comigo por aí algum tempo depois, as que reencontrei e que faço questão de ser amigo e de ser amigo pra caralho e agora é preciso que se faça uma interrupção brusca no que quer que se tenha dito porque a pessoa da qual eu falava de ser amigo, de ser amigo pra caralho, acaba de entrar no msn porque, sim, eu sou desses que se desacostumaram à velocidade lenta, lentíssima da caneta imprimindo sua marca, imaculando a folha de papel, e bem, estamos aí, na Internet, na rede, no mundo e, de vez em quando somos presenteados com uma dessas coincidências tão contemporâneas, do pensar em alguém e o alguém te ligar, aparecer no msn, logar no Orkut, quando eu fico mesmo imaginando do lado de cá que a coincidência mesmo seria receber uma carta de alguém que se gosta quando se passou o dia inteiro pensando nela e chegar na sua caixa de correio e ter lá um envelope com seu nome, sobrenome, endereço, CEP, selo, carimbo, mas bem, já não importa e já não mais é possível porque as cartas são contas, todas, sempre, de forma que abrir a caixa de correio já provoca uma espécie de náusea programada e, bem, ninguém passa mais pensando o dia inteiro numa só pessoa porque acabou esse negócio de amigos, todo mundo sabe, amizade é last week à beça, a onda agora são contatos, pessoas que formam uma rede, o que se chama de networking e aí, aí é o fim da poesia, das ligações de madrugada, do liguei só pra ouvir a sua voz, do ligar pra não dizer nada, do mandar uma carta pra alguém que está longe porque, veja bem, os contatos, diferentemente dos amigos, devem ser gerenciados, sim, gerenciados, como contas, documentos, arquivos, processos, tudo devidamente classificado, catalogado, categorizado, hermeticamente fechado, dentro de uma estrutura virtual, lógica, algo que é construído sistematicamente, isso, por ordem alfabética, você talvez nunca tenha pensado no fato, mas está aí, você tem contatos organizados por ordem alfabética, reflexo de um mundo que faz questão de colocar em ordem todas as suas coisas, em ordem e progresso, destruindo qualquer tentativa vã da poesia, da fotografia, da pintura, da expressão, da vanguarda, da arte, obrigando qualquer manifestação artística a ser linear e taxonômica como os insetos numa aula de entomologia, sem que se possa ousar sem explicar a ousadia, sem que se possa explodir o sentido sem que haja sentido, sem que se possa criar algo que transcenda, de verdade, as malditas classificações, a maldita ordem que aí está e que nunca se configura em progresso, nem em regresso, e que nunca se configura em nada, ainda que as coisas queiram movimentar-se, ganhar vida por si próprias, mas há um gancho, alguma coisa que prende, alguma coisa que não permite, alguma coisa que sufoca, sim, que sufoca, mas é preciso que se saiba que não é preciso sufocar, que sufocar não é preciso, que por mais que a vida seja um sufoco às vezes, e que sufoco, é preciso que não se sufoque pois, pelo contrário, é preciso que se deixem as coisas, todas elas, livres, soltas, fluidas, por aí, meio a esmo e sem controle, como palavras chovendo, como palavras brotando, como palavras em orvalho que jorrariam das pétalas e matariam todas as sedes do mundo, essa sede de arte, de proximidade, de toque, de abraço, de cidades, canções, aventuras, lojas, bolos de chocolate, jogos, sorvetes, cafés, lugares, pessoas, pessoas, pessoas, muitas, todas as pessoas, as sedes de todas as pessoas, até daquelas que estão alucinadas em seus alucinógenos e daquelas que fazem de suas vidas uma estrada muito mais alucinante, que acreditam na paz, no amor, na poesia, numa foto encontrada na rua, na magia de um encontro casual com um desconhecido numa terça-feira às quatro horas da tarde em frente à livraria com um camisa xadrez e uma calça jeans meio surrada e um cabelo loiro com dreadlocks e um piercing no lábio e outro na orelha e outro, e outro, e que perguntava as horas entusiasmado num idioma incognoscível enquanto falava rápido e apontava desesperado pro meu relógio de pulso de ponteiros magníficos e eu teria dito que eram quatro horas, exatamente, quatro e três, quatro horas e três minutos, em português, inglês, espanhol, italiano, alemão, árabe, mandarim, finlandês, turco, romeno, quéchua, sueco, guarani, zulu, húngaro, língua do pê, maspas nãopão hapavipiapa línpínguapa quepe epelepe enpentenpendepessepe, donde eu só pude lamentar profundamente e continuar seguindo a minha trajetória, um tanto quanto desapontado e completamente desorientado porque já não era mais possível saber se eu iria pra direita, pra esquerda, se iria a pé, se tomaria um metrô, um táxi, um ônibus, e eu adoro ônibus, sim, um ônibus, tomaria um ônibus, o primeiro que aparecesse, pra qualquer lugar, um ônibus, um ônibus circular, e a gente ia conversando e rindo, falando mal dos outros a viagem inteira, sem qualquer tipo de pudor, aliás a gente não tinha mesmo nenhum pudor, rotulando as pessoas que passavam e rindo tão deslavadamente da cara delas, mas num riso só nosso e tão entre a gente que as pessoas jamais poderiam saber que comentávamos o seu nariz torto, a sua cara de infelicidade, as suas roupas tão feias, os seus arquétipos de mamãe-quero-ser-indie-parte3, ou ainda de mamãe-não-tenho-marido-parte2 ou ainda de mamãe-acabei-de-descobrir-que-sou-gay-e-estou-doido-pra-dar-parte4 ou ainda outros, aos montes, múltiplos, porque os arquétipos se explodiam, e era sempre uma forma fácil de fazer com que o trajeto valesse a pena dentro daquele ônibus sem que de forma alguma soubéssemos pra onde estávamos indo, sem que isso tivesse qualquer importância até que qualquer de nós dissesse um agora, vamos, e então desceríamos do ônibus ali, lépidos e descompromissados, exercitando sempre por aí o nosso riso solto, fagueiro, nosso e só nosso, sem que tivéssemos que nos preocupar com qualquer outra coisa além de nós mesmos ali, naquele instante, mesmo sabendo que para cada um de nós haveria um cômodo e dentro de cada cômodo haveria uma gaveta, que conteria, cada qual um caixa, e dentro dessa caixa, haveria coisas nossas, umas cartas, uns ecritos, umas recordações, cartões-postais, memórias enevoadas, páginas viradas, olhos perscrutadores, contas de colar, ataques de riso, choros, segredos, artes, improvisos, eu, você, todos nós.

domingo, 25 de maio de 2008

Vendedores de Farmácia


Vendedores, de forma geral, são irritantes. Mas poucas coisas me irritam mais do que vendedores de farmácia. Não, não são os farmacêuticos que ficam atrás do balcão. São os vendedores mesmo, que circulam entre os esmaltes e tintas pra cabelo. Em primeiro lugar, eles são totalmente desnecessários, isto é, na quantidade em que existem. Tenho fé que um dia os donos de farmácia vão entender que poderiam muito bem trabalhar com metade ou um terço do contingente de vendedores.

Mas, como se não bastasse apenas a existência desses seres (que, como já disse, é mais do que suficiente pra irritar qualquer consumidor), eles sempre vêm pra te oferecer uma pseudo-ajuda, com as cestinhas, as malditas cestinhas. Não sei se é assim em todo lugar, mas aqui no Rio isso é bastante corriqueiro. Você entra na farmácia e já vem alguém te dando uma cestinha, sem ao menos você pedir. Dentro dessa cestinha, onde você supostamente colocará as suas compras (desodorante, shampoo, etc...), tem uma ficha com um número. Esse número é o código do vendedor e quando você passa suas mercadorias pelo caixa, fica registrado que o vendedor Alfabetagama te vendeu aqueles produtos e que vai ganhar uma comissão em cima das suas compras. Acho que eu, como consumidor, deveria somente ganhar a cestinha com o número quando o vendedor efetivamente me ajudasse a encontrar um produto que eu não acho, ou me ajudasse de alguma forma, sugerindo um produto, mostrando um lançamento, etc... Mas não, basta que a pessoa me dê uma maldita cesta sem nem olhar pra minha cara e pronto, já vai ganhar dinheiro às minhas custas. Mas sabem o que eu faço, muitas vezes? Recuso. Recuso solenemente a cesta. E muitas dessas vezes (olha o tamanho do abuso!), o vendedor pede apenas “então leva esse número lá no caixa”, retirando a cesta e me dando apenas a ficha com o número. E eu, digo, “Não, não. Não precisa.”, enquanto esboço um sorriso amarelo e uma cara meio sem paciência e me dirijo ao caixa sem qualquer ficha.

Certa vez, em uma farmácia, foram me oferecidos três números, de três vendedores diferentes. Fui recusando todos, um por um. “Mas é só apresentar o número no caixa”, disse a vendedora, levantando levemente a voz. E eu, sorridente, “Não, não, não precisa”, enquanto pensava que eu não iria de forma alguma dar dinheiro a um vendedor que não me atendeu, até porque eu não precisava de nenhuma ajuda.

É tão difícil assim entender que nem todo mundo precisa de ajuda quando vai comprar alguma coisa numa farmácia? Eles todos devem me detestar. Mas lamento, lamento muito. Só faço o que acho que devo.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Encontros


Eu sempre achei o encontro uma das coisas mais bonitas na vida. E é engraçado, porque eu estava justamente conversando com um amigo meu sobre isso anteontem e ele tem uma opinião muito parecida com a minha. Acho que os encontros têm qualquer coisa de mágico. Penso sempre que é uma coincidência muito grande estar exatamente na mesma hora e no mesmo lugar que outra pessoa. Penso também nos diversos encontros frustrados. Imagina só: se você encontra alguém na rua, quantos desencontros você viveu e nem sabe? Quantas pessoas passaram exatamente ali, mas dois minutos antes, quantas pessoas passaram exatamente naquele instante mas um quarteirão depois? Mas, bem, os encontros como digo, têm qualquer coisa de mágico. Às vezes (e isso já aconteceu mais de uma vez comigo e não foi com a mesma pessoa), você pensa em alguém durante o dia inteiro e, no fim do dia, encontra com ela por acaso e sabem, isso é tão bonito. Acho que a vida é feita de encontros. Eu tenho uma grande amizade que nasceu de um encontro. Ela esperava na porta da festa uns amigos chegarem, eu esperava uns amigos meus. Puxei assunto, conversamos, trocamos telefone, ficamos amigos. Hoje ela é uma grande amiga minha e posso afirmar com certeza que esse encontro mudou a minha vida. Outro exemplo: anteontem, estava com um grupo de amigos na Lapa e vi uma garota sozinha na noite, com sua latinha de cerveja, remoendo seus pensamentos. Fiquei preocupado, instiguei meus amigos a perguntarem se ela estava bem, se queria vir conosco, mas ela preferiu ficar sozinha. Não a conhecia, mas fiquei como que preocupado, pensei nela durante a noite. E encontrei-a no dia seguinte, andando pela rua no sentido oposto ao meu. Não falei com ela, decerto não me reconheceria. Mas fiquei com uma espécie de felicidade esquisita por vê-la, por reconhecê-la, por saber que ela estava (ao menos aparentemente) bem. Esse meu amigo com quem conversei anteontem disse que Clarice Lispector escreveu algo como “o encontro às vezes é tão mágico que ultrapassa o objeto encontrado” e, embora, eu particularmente não goste dela, tenho que admitir que o que ela disse é de uma genialidade ímpar e sintetiza o que eu quis dizer aqui.

Aproveito para pedir desculpas aos leitores porque não tenho postado na freqüência que gostaria. As coisas aqui pelo trabalho têm me ocupado bastante. Às vezes, posto final de semana, mas prefiro postar daqui do trabalho. E só hoje que as coisas deram uma arrefecida por aqui que consegui escrever (espero) alguma coisa à altura dos que me lêem.

Beijos e abraços.

Observação pós-escrito e pré-postagem muitíssimo válida: tenho o hábito de escrever o post e, então, pesquisar alguma coisa no google pra ilustrar o que eu digo, antes de efetivamente postar. Na busca por imagens, sempre digito o nome do post, ou uma palavra-chave que acredito que vá me dar um resultado útil. Tasquei lá na busca por imagens: “encontro”. A primeira imagem que apareceu foi uma cujo título é “Encontro dos Túneis”. Não, eu não a postarei aqui. Deixarei àqueles cuja curiosidade não caiba dentro de si a missão de procurar a tal imagem.

sábado, 10 de maio de 2008

Postcrossing

A internet é mesmo sempre um espaço de novidades. Óbvio que por algumas vezes ficamos entediados, mas é só fuçar que você acaba achando alguma coisa nova e interessante. E o mais legal da rede é quando você encontra uma novidade que não fica só no virtual, quando acontece uma interação com o mundo real. Pois é, foi numa dessas que eu sem querer, acabei fazendo uma das minhas melhores descobertas dos últimos tempos: o Postcrossing. O postcrossing é um sistema muito interessante de troca de cartões-postais, mas cartões-postais de verdade, em papel, que viajam pelo correio! XD

É assim: você solicita ao sistema um endereço para mandar um cartão-postal. Daí, vem lá um endereço de uma pessoa aleatória e você envia o postal. Essa pessoa não sabe de onde receberá o postal. Quando ela receber o postal, ela acusa o recebimento no site e o sistema então libera o seu endereço para a próxima pessoa que pessoa que solicitar. Daí, você vai também receber um cartão-postal de uma pessoa aleatória, de qualquer lugar do mundo (às vezes de lugares que você nem imagina...)! XDD Eu sei que tentando explicar por aqui pode parecer complicado, mas é bem simples, acreditem. E é realmente divertido! =D Já enviei e recebi sete postais até agora. Escaneei alguns e vou colocá-los aqui.

o/

sent by Mario - Germany


sent by Mirka - Finland

sent by Chris - Thailand
sent by Nilo - Netherlands

domingo, 4 de maio de 2008

Teatro: Yes, I do.

Pra quem não sabe, agora faço teatro. Faço um curso livre, todos os sábados pela manhã, na CAL, Casa de Artes de Laranjeiras. Pra quem não sabe, a CAL é uma das melhores (senão a melhor) casa de teatro do Rio. XD Bom, aquilo lá, mais do que qualquer coisa, é uma senhora terapia pra mim. Saio sempre leve depois dos ensaios, gosto, me envolvo, levo a sério. Sinto que tenho potencial. Estou lá há um mês. Deixei o teatro entrar na minha vida e estou gostando, de verdade. Em breve, na próxima novela das oito. =PP

terça-feira, 29 de abril de 2008

Não-lugar

Andando pela rua, ao sair do trabalho, encontrei um papel em branco no chão. Parecia o verso de uma fotografia. Chutei, o papel voou baixo, mas se manteve apenas com o verso à mostra. Chutei outra vez e, mais uma vez, só o verso. Na terceira vez, chutei o papel com mais força, de tal forma que consegui virá-lo e confirmei: era mesmo uma fotografia. E era justamente esta foto feia que aí se mostra: um cano enferrujando, uns vergalhões, uns blocos de cimento, umas folhas de mato.

Entre a via expressa que vai e a via expressa que volta, sem querer, encontrei um não-lugar. E este não-lugar é tão feio e tão vazio que não precisa mesmo ser lugar algum. Mas por não termos qualquer referência, qualquer informação adicional, este não-lugar pode ser qualquer lugar: aqui, , lá, acolá, ali adiante.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

A Gaivota


Obrigado, não há de quê, e assim começa. Poderia ter sido de propósito, poderia ter sido complexo, mas foi assim, simples, sem tramas, sem ardis. Obrigado, não há de quê. Um agradecimento que eu joguei, você retribuiu, e a gente se olhou e se viu, apesar da calçada cheia de lixo e do cheiro podre que insistia em se fazer notar. Nesse momento, a gente olhou pro céu, não sei se com o intuito de disfarçar qualquer coisa, qualquer precipitação que poderia ser mal-interpretada. Acho que, no fundo, a gente buscou não se olhar, porque se a gente se olhasse (e a gente já tinha se olhado), teria a obrigação de progredir, de ir além, mas quem ousaria transpor o muito-obrigado-não-há-de-quê? E quem de nós quebraria o gelo invisível, quem de nós pronunciaria qualquer palavra tola e estúpida pra quebrar aquilo que ainda não tinha nome? Mas bem, a rua fedia, fedia mesmo, e o céu estava nublado e a gente olhava pro céu. E ao mesmo tempo em que não podíamos quebrar o gelo, não podíamos deixar que derretesse, que ficasse assim, se desmanchando pouco a pouco e fosse escorrendo pro ralo da via pública, se misturando ao chorume do lixo que fedia cada vez mais.

Então, olhávamos por céu. E o céu era cinza. E passou uma gaivota no céu. E aí, aí, eu olhei pra você e sorri. Perguntei se você tinha visto a gaivota e, olha só que coisa estúpida, isso não é lá coisa que se pergunte, mas bem, o gelo não tinha se derretido ainda, fiz o melhor que pude antes que você pudesse pensar em me virar as costas pra ir embora sem que eu soubesse nem o seu nome. Foi um recurso, a gaivota que passou, uma função fática bem empregada, isso, função fática, essa função lingüística que só serve pra manter contato e a gente aprende na oitava série, um oi, um alô, uma gaivota, poderia ter sido o táxi que passou quase nos atropelando enquanto olhávamos para cima, uma bicicleta, o bêbado que cambaleava no pé-sujo do outro lado da rua. Mas foi a gaivota.

Você baixou os olhos no momento em que eu falei com você, talvez um pouco antes porque você sorriu um sorriso sem graça e disse que não tinha visto e ficou parecendo naquilo tudo que eu te interrompi, que interrompi o que quer que você fosse fazer com os olhos longe do céu, acho que me olhar. Sim, você ia baixar os olhos e ia olhar de volta pra mim, talvez fosse embora, talvez olhasse pros meus pés pra ver se eu calçava uns All Stars que nem os seus, talvez, talvez. Mas nunca soube. Soube que baixou os olhos e me fitou, longa, profunda, num riso sem graça que se dissipava e te deixava com um aspecto de inexpressão crônica, assim, a fitar-me, a medir-me, de dentro dos seus olhinhos pretos.

Eu lembro do seu aspecto, inquisitiva, quase soturna. Mas, de repente, e muito de repente, você perguntou se eu tinha visto o bêbado, no outro lado da rua. E quando você me perguntou isso, você abriu um sorriso tão largo que, putz, pude contar todos os seus vinte e oito dentes, é, você não tinha sisos. Eu juro, diria que não, não pelo fato de que eu realmente não tivesse mesmo visto o bêbado do lado de lá, mas é que eu também fiquei com uma certa raiva incontida de você porque você não tinha visto a maldita gaivota que agora ninguém nunca mais verá, mas ok, decidi dar um crédito, um voto de confiança a você, ao mesmo tempo pelo seu sorriso e pela sua atitude de jogar uma contra-função fática para mim, porque, analisando as coisas sob outra óptica, você poderia muito bem ter girado nos calcanhares e ter me virado as costas sem que as coisas evoluíssem além desse passo e eu ficaria aqui, terno, com uma cara de bobo, um toco seco no meio da calçada que fedia. E decidi, por fim, olhar pro bêbado do outro lado da rua, não pelo bêbado, mas só pra poder dizer que o tinha visto e dar um sorriso tão largo quanto o seu. E, para que a partir daí, talvez, quem sabe, pudéssemos avançar para um outro tipo de assunto, adotar outros estratagemas que permitissem uma aproximação mais real e mais franca, sem que tivéssemos necessariamente que ficar ali naquela rua que fedia mais que qualquer coisa.

Então, eu olhei pro bêbado. Eu vi o bêbado que cambaleava trôpego, apoiando uma das mãos no pequeno poste de metal que indicava que ali era um ponto de ônibus e carregando um terço na outra mão. E eu ri, ri um riso meu, mas o meu riso é feio. Feio sem motivo aparente, feio por ter sido assim sempre, sem que me precisassem faltar os dentes ou ter a boca torta. Feio porque não harmonizava com o meu rosto e a boca, não sei, meio que não abria espaço pros dentes aparecerem e os dentes, grandes, exigindo espaço para se mostrar ao mundo, brancos e incólumes, mas essa boca que se retesava, esse riso preso, aparentemente preso apesar de sincero e muito sincero, essa guerra visível entre a boca e os dentes, isso, era isso que se externalizava pro mundo fazendo com que o meu sorriso ficasse muito feio, desarmonioso, sem que ninguém conseguisse achar uma causa à primeira olhadela descompromissada. Você deve ter achado o meu riso bonito, ou ao menos, não tão feio, porque você, e só aí, só dessa vez, sorriu pra mim de verdade, e eu soube que o seu riso era pra mim e só pra mim, não pra situação, como fora o seu riso largo anterior sem sisos.

Então, eu fiz menção de dizer alguma coisa, possivelmente o bêbado, sim, deveria ser sobre o bêbado, o nosso cupido cristão, deveria pegar um gancho para falar do bêbado, da sua aparência malcuidada, dos seus hábitos condenáveis, sim, bebo, mas socialmente, jamais chego a esse estado, se bem que sim, enfim, uma vez, quando eu ainda era adolescente, mas quem nunca, e enfim, e a partir daí estaríamos todos já bem-resolvidos, já teríamos entrado em contato, já teríamos despidos nossas armaduras e nossos elmos, deixaríamos que nossas espadas descansassem sem que precisássemos tê-las sempre à mão para o caso de qualquer emergência.

Mas antes que eu pudesse falar sobre o bêbado e divagar sobre o seu torpe cristianismo, antes disso, no incomensurável instante antes que as cordas vocais vibrassem para que eu começasse a minha fala que daria margem a toda essa gama de possibilidades onde poderíamos ser nós e só nós, com a boca já entreaberta, você fala alguma coisa e eu quase atropelo a sua fala porque, bem, eu estava tão preocupado e tão concentrado em falar, a começar o assunto que certamente mudaria o curso das nossas vidas dali pra diante, mas bom, talvez você tivesse tido a mesma idéia, no mesmo instante, e tenha ganhado de mim só por uma questão de reflexo e de velocidade, mas, bom, é preciso não só que eu admita a perda e o ter que calar a um instante do som, mas que eu admita que também não consegui mesmo entender o que você disse. Sou forçado, portanto a lançar mão de um oi, como, repete, não entendi, ou de outras artimanhas que certamente demonstrariam um grau, ainda que pequeno, de surdez ou de déficit de atenção. Você repetiu, um pouco mais alto e pausadamente, sinceramente em dúvida se o meu problema era de surdez ou de retardo, que ali fedia.

Achei na hora, confesso, um disparate você ter dito aquilo assim, sem preparo, na lata, um “aqui fede” que soa quase como um “você fede” depois de um obrigado e de uma gaivota e de um bêbado. Contemporizei e, tentando levar pelo lado positivo da coisa, talvez você estivesse querendo dizer não que fosse eu quem estivesse fedendo ou que o assunto fedia, não, nada disso. Talvez você estivesse querendo apenas dizer que o lugar fedia, e fedia mesmo. E que poderia ser interpretado como um convite de vamos-sair-daqui, porque bem, fede.

O problema dessa hora é que você olhou pra mim com uns olhos interrogativos, sem sorriso nem muxoxo. Olhou como quem mais do que interrogar, alfineta, propõe um desafio, algo como “e agora, o que você vai dizer, o que você fazer?”. Confesso que a primeira coisa que me veio naquela hora foi dizer um “fede mesmo” e te devolver esses olhos de charada, certo de que te colocaria em uma sinuca de bico e você ficaria desesperada, atônita, aflita, sem saber o que fazer. Sim, passar a bola pra você, igual a gente faz quando está conversando na internet e diz alguma coisa só pra dizer que disse, só pra dizer “agora é com você, seja capaz de puxar um assunto mais interessante”. Mas pensando um pouco melhor, descobri que não seria o melhor caminho, porque veja, você ali, donzelinha, com um cara estranho que agradecia e falava de gaivotas, estaria no pleno direito de virar as costas sem dizer palavra se se sentisse amedrontada, como um coelho em fuga. E, novamente, eu, pretenso vitorioso dessa guerrinha estúpida e sem sentido mesmo antes de nos conhecermos, ali, a olhar pra paisagem fétida enquanto você ia embora.

Não, definitivamente não. Eu tinha que dizer alguma coisa, rápido. Alguma coisa que, ao mesmo tempo que não te encurralasse, deixasse transparecer que eu tinha entendido o seu truque, o seu jogo sujo, e que, por mais que não fosse a tão fatídica e previsível sinuca de bico, fosse uma outra jogada, nova, que abrisse o jogo do tabuleiro de xadrez para que pudéssemos jogar com classe e com liberdade de movimentos, sendo cada um de nós responsável por cada jogada, por cada palavra, cada lance, cada passo em falso.

Saí com meus cavalos e parti pro jogo, não sem antes vestir uma deslavada carapuça de perdedor. Lancei o “fede mesmo”. E fingi que deixaria nisso, fiz questão de deixar aqueles três segundos no ar, aquele silêncio no qual as pessoas matutam suas dúvidas, aquele instante no qual você se questionaria resoluta, mas então, será que é só isso? Mas não poderia deixar o fede mesmo solto. Emendei logo depois dessa pequenina pausa estratégica um “você aceita uma carona?”. E a partir daí, a situação fiou quase cômica porque era muito surpreendente pra você que eu puxasse a carona como uma carta na manga e você retrucou um “oi?”, assim, como pra ver se era realmente isso que tinha sido dito e não alguma coisa como fanchona, bobona, acetona.

Mas sim, era uma carona, exatamente uma carona aquilo que eu te oferecia naquele instante. Você se valeria dos seus artifícios, certamente pra ganhar tempo, mas bem, eu deixei as suas aritméticas sem variáveis, seus orçamentos sem margens, você não tinha com o que jogar.

Você não sabia pra onde eu ia, não sabia quem eu era, não sabia nada de mim. E, agora numa perspectiva mais material, você não sabia qual era o meu carro, se tinha ar-condicionado, som stereo, quatro portas, conforto, air-bag, e não me venha com o papo de que as mulheres não pensam nisso porque pensam sim: as mulheres, os homens e as crianças. Não sabia a quantos metros o meu carro estaria estacionado. Não sabia se era uma demonstração singela e descompromissada de educação ou se era uma tentativa de fazer a côrte, de dar início a qualquer desses joguinhos de demonstração de poder, de abrir a cauda como um pavão, de mostrar-me desde aquele instante um macho alfa.

E teria que negociar com os pensamentos que lhe rondavam, você, naquela hora, porque teria que decidir-se se me respondia ou se me retrucava e se me retrucasse, se tentaria me colocar numa sinuca ou se me faria uma pergunta honesta e ainda, qual pergunta. Mas era preciso que a ação se desenrolasse e você não tinha todo o tempo do mundo. Depois de pensar tanto a ponto de fazer nascer uma ruga sutilíssima logo em cima da sobrancelha esquerda, você disse que aceitava. Pronto, era o que faltava. Você aceitou. Você não soube jogar o maldito jogo, disse que aceitava. Você também fugiu a toda e qualquer previsibilidade, você tinha que ter tentando me ludibriar, tinha que ter querido saber mais: de mim, do carro.

Naquele momento, eu percebi que você entregou os pontos, ao mesmo tempo em que jogava o jogo com uma pretensa habilidade. Ali, você, entregando os pontos, olha só, virava o jogo sem querer. Porque agora, nesse momento em que já não havia mais gaivotas, nem bêbados, nem sorrisos, eu jamais deixaria você desconfiar que não havia também carro. E eu tive que fazer uma manobra, mas uma manobra mal-feita, uma barbeiragem, dessas de quem acaba de tirar a carteira de motorista e quer ficar se achando o tal.

Eu perguntei, sem tempo para devaneios, num átimo, pra onde você ia. E você apontou pra rua, no sentido do fluxo dos carros. E eu fiz uma cara descarada de não-vai-dar-mesmo, porque veja só, eu estou indo para lá, olha, no contrafluxo, justamente no sentido contrário ao seu.

Você olhou fundo pra mim. Fundo, muito fundo, profundo dos meus olhos. Você olhou, eu contra-olhei. No meu contra-olhar, você descobriu que eu mentia, você soube, ligeira, fácil, que não era verdade. E aí você aproveitou as delícias da regra do jogo e jogou. Fluida, meio descompassada e atarantada “Puxa, inda bem, lembrei mesmo que eu preciso resolver umas coisas no banco e ele fica logo ali”, e apontou para o sentido do contrafluxo. Eu poderia tentar insistir para que fôssemos a pé, que meu carro estava estacionado longe, que o trânsito está ruim e que a gente pode ir de trem, metrô, barco, avião.

Mas não havia meio de escapar. Eu me enredei nesse novelo insalubre, caí na própria trama, pisei no ardil. E era preciso que eu falasse alguma coisa porque você me olhava muito dura e não tínhamos tempo e não tínhamos nada. E por não termos nada, pensei que poderia fugir ao pseudo-compromisso de ter que dar satisfações, poderia virar as costas derradeiro, resoluto, olha só que simples, e nunca mais nos veríamos e a situação estaria feita. Mas havia alguma coisa ainda dentro de mim que se compadecia, uma mistura de ética e vontade e eu sabia que não seria capaz de dar-lhe as costas.

E o que quer que eu dissesse era preciso que fosse rápido, porque bem, era sempre possível e provável que o outro de nós estivesse tão cheio com os seus afazeres que não poderia ficar perdendo tempo ali com um desconhecido, numa conversa extravagante, muito embora esse não fosse o motivo principal porque qualquer coisa parecia secundária e menor ante o fedor que se fazia.

E aí, lembro como se fosse hoje, baixei os olhos. Fiquei assim uns trinta segundos, como uma criança que sabe da própria culpa. E depois, depois levantei os olhos até os seus e te encarei. E eu falei que menti. Mal nos conhecíamos e eu já lhe presenteva com uma mentira deslavada, suja, da pior espécie. Esperei os seus olhos me encararem cheios de rancor, de raiva, de mágoa condensada. Mas você me olhou plácida. Depois me olhou pura. Depois compreensiva. Depois complacente. E riu um riso que não era largo, mas que também não era estreito. Riu um riso que não sei descrever, um riso bonito, o riso mais bonito que já vi, mas sem exageros, sem glamour, um riso sincero, belo de dentro pra fora. E rindo, você me disse quase num sussurro que também mentira, que tinha visto a gaivota.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Pra quem nunca me viu...



Agradeço o selo ao Thiago, mais uma vez! XD E aproveito para colocar umas fotos minhas, já que a galera da blogosfera nunca me viu, acho... o/






domingo, 20 de abril de 2008

Além

Fico sempre do lado de cá me perguntando o que será de nós quando deixarmos de ser aquilo que sempre fomos, quando passarmos a enxergar para além do lado de lá, para além do concreto, do tangível, do cognoscível.

Questiono sempre a tua modorra tão cotidiana esperando chegar o dia em que alguma rede nos trague para o invisível, para além do limite do alcançável, para além da névoa, da neblina, da bruma.

Queria inda algum dia que nos encontrássemos na rua por acaso e discutíssemos aquela filosofia que ficou esquecida, alguma coisa além daquele Wittgenstein guardado, além dos sinais, dos códigos, das linguagens.

Sei ainda que, não importa o que aconteça, estaremos sempre à margem de nós mesmos e, por mais que nos forcemos a negar, existe algo que subsiste, algo nosso ainda em nós que, mesmo ora separados, nos impele sempre para o lado de lá, para além do carrossel, da roda-gigante, para além de toda essa gente babaca que aí está.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Selos, memes e que-tais

Ê! Ganhei meu primeiro selo aqui no blog! XD O curioso é que fui indicado duas vezes ao mesmo selo. Fui indicado pelo Thiago e pelo Yuri a este selo que atesta que meu blog vale medalha de ouro! Ficam aqui, desde já, os agradecimentos! XD

O Yuri aproveitou e me indicou um meme. Coincidentemente, também o meu primeiro meme. XD Sempre vi os memes por aí e ninguém nunca me indica. Fiquem sabendo que eu adoro memes, podem me indicar sempre! XD

Neste meme, eu tenho que dizer os cinco discos que mais fazem a minha cabeça. Na verdade, é uma tarefa complicada (bastante!), mas tentarei fazê-la cometendo o mínimo de injustiças possível (já que, de qualquer forma, será inevitável).


5°) Värttinä - Iki


Värttinä é uma grupo finalndês de folk. Pra quem não sabe, eu curto muito folk e world music. E curto muito a Finlândia também. No som desse grupo, as vocalistas (só tem mulheres no vocal) mesclam instrumentos e elementos típicos da música finlandesa a arranjos mais contemporâneos. O grupo tem uns 20 anos de estrada e tem uma sonoridade ímpar. Esse CD fez com que eu me apaixonasse pela língua finlandesa. Iki é de um lirismo avassalador.


4°) Mawaca - Astrolabio.tucupira.com.brasil


Mawaca, pra quem nunca ouviu falar, é um grupo de brasileiras (sim, outro grupo só de mulheres... rsrsrsrs) que tem uma proposta interessantíssima: elas cantam em dez línguas diferentes e tentam sempre buscar paralelos das músicas de outras culturas com a música brasileira. O resultado? Astrolabio.tucupira.com.brasil é um CD incrível, que tem entre as suas faixas um canto indígena antropofágico, uma ladainha de beatas do interior de Minas, uns cânticos africanos, uns maracatus, umas cantigas de roda, uma música indiana acompanhada por um berimbau e uma música cantada em japonês que emenda numa ciranda. É, na minha modesta opinião, o que existe de mais criativo e genial em termos de música no Brasil hoje. Quem não ouviu, ouça, vale muito a pena!


3°) Weezer - Pinkerton


Curto Weezer à beça. Conheci por acaso, apresentado por um amigo da faculdade. Houve uma fase da minha vida em que eu ouvia os 4 CDs do Weezer (antes do lançamento do Make Believe, que é um lixo) e sabia quase todas as letras de cor. Mas de todos, o Pinkerton é o melhor. Tem uma melancolia característica e, ainda por cima, é rejeitado pelo grupo (pra quem não sabe, o Weezer considera o Pinkerton um erro, um acidente de percurso e nunca tocam uma música dele nos shows). O Weezer veio antes, por acaso. Mas foi a mola propulsora de toda a minha fase mamãe-quero-ser-indie, que embora arrefecida, ainda não acabou.


2°) Chico Science & Nação Zumbi - Da Lama ao Caos


Descobri o Chico Science dia desses. Na verdade, minha irmã descobriu um dia desses. Ela se viciou. E ouvia esse treco o tempo inteiro. Um dia, depois de tanto criticar sem ouvir, decidi dar um crédito e ouvir sem preconceitos. Mal eu sabia que perdia um puta som esse tempo inteiro. É fantástico. Chico Scicence é de uma criatividade e de uma inventividade que a música brasileira nunca mais teve (talvez os Los Hermanos, mas enfim). O manguebeat é música, manifesto, maracatu, mistura. Acho que eu gosto do Chico Science porque a sua música é muito urbana. E eu sou urbano pra cacete! XD


1°) Arnaldo Antunes - O Silêncio



Difícil escolher o primeiro da lista, hein? Pois é, mas consegui. Esse CD foi escolhido não porque ele é melhor do que os outros. Mas por uma questão de memória. Ele vai fundo na minha infância. Depois de muito tempo sem ouvir este CD, parei pra ouvir outro dia e sabia as letras todas de cor, guardadas em algum lugar do meu subconsciente. E é muito bom saber que desde cedo me puseram boa música nas mãos, o que havia de mais poético e de mais vanguarda na época. Arnaldo Antunes (ainda que agora numa fase mais chata) faz parte, inegavelmente, dos meus primeiros contatos com a música. Não posso dissociá-lo das minhas descobertas musicais posteriores.


Bom, tenho que passar adiante o selo e os memes. Os escolhidos (para ambos) são:

Bárbara
Raquel

Até! o/

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Eu e o Estado

Local onde trabalho: Palácio Guanabara - Laranjeiras / Rio de Janeiro (RJ)

1) Quando eu tinha 9 anos, fiz um concurso público para o Colégio Pedro II e passei. Pra quem não sabe, o Colégio Pedro II é uma escola pública de referência no Rio de Janeiro, sendo a única instituição federal no país que possui os ensinos fundamental e médio sem vínculos com ensino técnico ou instituições militares. Tenho muito orgulho de ter estudado lá, mas talvez um dia eu faça um post só sobre ele (eu e minhas promessas de post... huahsuhausu)

2) Aos 14 anos, fiz concurso para o ensino técnico e passei. Estudei no CEFET/RJ e me formei em técnico de informática, concomitantemente ao ensino médio no Pedro II.

3) Para que meu diploma do curso técnico tivesse alguma validade, eu deveria ter um estágio no currículo. Realizei meu estágio (remunerado, diga-se de passagem), na própria coordenação de informática do CEFET/RJ.

4) Chegado o momento de “tomar um tino na vida”, prestei vestibular. Fiz para Engenharia de Produção e acabei passando para o... CEFET/RJ. Estou formado desde o final do ano passado.

5) Dentro da faculdade, decidi participar da empresa júnior, a CEFET Jr. Empresas juniores são empresas geridas apenas por estudantes, situadas dentro da faculdade. Então, por mais que nós movimentássemos o dinheiro dos projetos vendidos pela empresa (era uma empresa júnior de consultoria), o CEFET/RJ pagava as contas de luz e telefone da empresa, além de ceder o espaço. Fiquei na CEFET Jr por um ano e meio, sendo que um ano como Diretor de Qualidade, liderando uma equipe de cinco pessoas. A CEFET Jr foi determinante no meu sucesso profissional.

6) No meio da faculdade e não muito certo do “tino na vida” que eu escolhi quando fiz Engenharia de Produção, prestei vestibular pra Filosofia. Passei pra UFRJ. Em 2006/2 eu estava na Engenharia de Produção, na empresa júnior e calouro de Filosofia (não me perguntem como!). Apesar de eu ter feito só um período, foi uma das melhores épocas da minha vida. Fiz vários amigos e arrumei uma namorada (tá, durou um mês e meio... rsrsrsrs)

7) Após a empresa júnior e depois de ter visto que Filosofia era muito bonito mas não me daria dinheiro, fui procurar estágio em uma área diferente da que eu tinha trabalhado (qualidade). Fui, então, pra área de logística, tendo estagiado no Centro de Estudos em Logística por dez meses. O Centro de Estudos em Logística é uma empresa privada vinculada à COPPEAD, que é a escola de pós-graduação da UFRJ para o curso de Administração. Porém, os estagiários eram pagos com fundos de uma fundação da UFRJ, chamada Fundação Coppetec, isto é, dinheiro público.

8) Depois de sair do estágio, me formar e me dar um merecido descanso de dois meses (sim, de novembro do ano passado até janeiro deste ano, eu não fiz nada, nada, nada!), fui procurar um emprego. Fiz um processo seletivo e passei. Adivinhem pra onde era? Sim, para o Governo do Estado do Rio. Trabalho na área de Planejamento há menos de um mês (meu primeiro salário saiu ontem! XD). E, ainda que extra-quadro (pois não sou concursado), sou funcionário público, isto é, tenho matrícula, crachá, contracheque, horário de entrada e saída reais (sem hora extra), folha de ponto, etc, etc, etc...

9) Estou fazendo um curso do Sebrae chamado Empretec, um curso de formação de empreendedores. O curso é intensivo: tem nove dias de duração, de 8:00h às 18:30h, com muitos trabalhos pra casa e emendando sábado e domingo. To no quarto dia de curso hoje, é bem pesado. O curso é reconhecido pela ONU. Preço? Na faixa de uns R$4.000 a R$5.000 por participante. Ah sim, o Estado está bancando (inclusive cedendo estes dias, nos quais eu não estou trabalhando).

10) Minha mãe é funcionária pública municipal, eu sou funcionário público estadual, meu pai é funcionário público federal. Meu irmão e minha irmã estão estudando no Colégio Pedro II.

Não sei quanto a vocês, mas eu estou fazendo valer cada centavo dos meus impostos. Aliás, pague seus impostos em dia, farei bom uso deles! =PP


o/

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Aniversário

U-hu! Fiz 21 anos este sábado. Tudo caminhava para um dos aniversários mais tristes da minha vida, porque enfim, eu estava (estou) meio em crise, com algumas questões em aberto, mas óbvio, não entrarei em detalhes. Mas como aniversário é aniversário, acabei tendo um dia legal! XD Podem me chamar do que quiserem, mas acho que uma das coisas mais legais de fazer aniversário são os scraps que vc recebe. Não aqueles que estão ali só pra somar um recado, mas é legal vc ver os recados bem elaborados, escritos de coração, inda mais de pessoas que vc já não vê há um tempo, mas estão lá, e aí vc se lembra delas, pensa que elas se preocuparam em escrever alguma coisa bonita, que se destacasse. Scraps de aniversário são a melhor forma de aumentar a auto-estima. XD To tendo vááááárias idéias pra posts, só que meu pc ainda não voltou pra casa, to aqui de uma lan e não quero ficar gastando muito dinheiro. hohohoho

Ah sim, parabéns pra mim! XD

Abraço pra quem é de abraço.
Beijo pra quem é de beijo.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Uma merda

O mundo cult vive um grande crise. Dias atrás, a coluna do Ancelmo Gois, no jornal O Globo, informou que em um evento de cinéfilos, no Cine Odeon, o humorista Marcelo Madureira afirmou a frase que dividiu o mundo em dois: Glauber Rocha é uma merda. A notícia pode ser vista aqui (não coloco o link do jornal o Globo porque tem que ter login, etc...) Na verdade, a questão sobre se Glauber Rocha é ou não uma merda é uma questão de cada um. Mas não nego que fico realmente feliz de alguém ter ousado quebrar o dogma, desmistificar o mito, dizer que o rei está nu. Cada um tem que ser livre pra dizer quem acha uma merda, até porque gosto é que nem c*, cada um tem o seu. Vou dar aqui o meu depoimento: depois de tanto ouvir falar em Glauber Rocha, fui assistir a um filme dele, na Videoteca do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Obviamente, optei pela obra-prima, “Terra em transe”. Por sorte, vi numa cabine sozinho, não precisei ostentar nenhuma cara de conteúdo (não que eu a fosse ostentar se a visse numa sessão de cinema, mas enfim...). Creio que não darei outra chance ao Glauber. Um filme chato, pretensamente cult, pretensamente político, no qual não se diz nada com nada e todo mundo finge que entendeu. Na verdade, ninguém entende nada, não é um filme pra ser entendido. Um saco, uma chatice, não pretendo ver nenhum outro filme dele. Glauber Rocha? Uma merda! Aliás, acredito que minhas opiniões sobre o que/quem eu acho uma merda deixaria boa parte do mundo estarrecido. Monteiro Lobato? Uma merda. O Pequeno Príncipe? Outra merda. Clarice Lispector? Uma chata. Martha Medeiros? Outra chata. Paulo Coelho? As colunas do jornal já me bastam pra não ler o resto dos seus escritos. Feliz Ano Velho – do Marcelo Rubens Paiva? Ruim, muito ruim, mas perde pra “O Velho e o Mar” que só não é pior por ser curtinho (não passa de umas 100 páginas). Grease – nos tempos da brilhantina? Um dos piores filmes que eu já vi (talvez perca pra “Terra em transe”?) The Killers? Chaaaaaato, barulho ruim. Monet e Machado de Assis? Ex-merdas (o tempo passa e a gente reconsidera certas opiniões... rsrsrsrs) Como vocês podem ver, tem muita coisa que eu não gosto. O mundo está cheio de coisas boas. E cheio de merda.

edição do dia seguinte (03/04): Esqueci de dizer a merda-mor; essa sim eu acho que causa mais polêmica do que Glauber ou Lispector: Radiohead é uma merda. Pronto, falei.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Erro

edição (02/04): Data corrigida!

Não sei se está acontecendo com vocês. Mas eu fui postar aqui e tá dando um erro aqui que na minha caixa de postagem não aparece a ferramenta de Rich Text, nem o "Editar HTML", nem inserção de figuras, nada, nada... Dá pra eu alterar manualmente a data da postagem, portanto, vou fingir que estou postando daqui a uma semana, dia 07, vamos ver se ele aceita. Isso deve ser algum truque bobo do pessoal da Google por causa do dia primeiro de abril... ¬¬ To aqui no trabalho, com o post pronto. Mas vou deixar pra postar só quando as coisas se normalizarem... rsrsrsrs

o/

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mudança

Como já disse aqui, eu estava pra mudar de casa. Pois é, me mudei. Continuo morando com toda a minha família, isto é, meus pais, minha irmã e meu irmão. Nosso projeto de mudança é antigo, a gente já queria se mudar há uns dois anos e finalmente conseguimos! Estamos todos muitíssimo felizes. XD Bom, pra quem conhece um pouco do Rio de Janeiro, eu me mudei do Rocha para o Catete, isto é, da zona norte para a zona sul, o que significa uma mudança da água pra vinho: um salto em qualidade de vida, uma mudança de estilo de viver. A zona sul é a zona nobre da cidade. Na zona sul estão as praias, o Cristo Redentor, o Pão-de-açúcar, etc... É o Rio turístico. É também o Rio fashion, cult, moderno, noturno. Enfim, é o filé mignon da cidade. Vcs não fazem idéia (enfim, talvez façam, mas eu não fazia... rsrsrsrs) do quanto é bom ter uma lanchonete 24h na esquina da sua rua! E ter uma estação de metrô pertinho de casa (acesso ao metrô foi um dos grande motivos da nossa mudança). Bom, o apartamento pro qual eu me mudei é maior e tem um quarto a mais. Mas eu continuo dividindo quarto... É, o apartamento tem três quartos, mas a minha irmã ficou com um quarto só pra ela, porque ela é menina, blá-blá-blá. Divido o quarto com o meu irmão de 12 anos, mas hei de convir que é melhor dividir só com ele do que dividir com ele e com a minha irmã (17 anos). Perdas? Sim. Eu morava na zona norte, mas num condomínio com uma senhora infra-estrutura (quadra de esportes, mercearia, bar, pista de cooper, sete prédios de, em média, dez andares, muitas pessoas, alguns amigos, etc...) E me mudei prum prédio bonito. Mas é só isso: um prédio bonito! O que a gente realmente queria era levar o apartamento e o condomínio para a zona sul, mas como não foi possível... Operacionalmente, posso dizer que está tudo um caos. Caixas empilhadas no meio da sala, computador a instalar, inexistência provisória de sofá e de estantes, uma vida um tanto quanto desregrada, lanches fora de hora, etc... Tá dando um trabalho monstro arrumar todas as coisas, ter que dormir até mais tarde arrumando, arrumando e arrumando. Mas tá ficando lindo! XD Ademais, nem me importo de arrumar tanto: to acordando uma hora mais tarde, porque... bem, to indo a pé pro trabalho... =PP

Ê, vidinha chata! =DD

terça-feira, 25 de março de 2008

sou a favor

Legalize já, legalize já!

  • aborto
  • maconha
  • drogas
  • eutanásia
  • união civil entre pessoas do mesmo sexo
  • jogo
  • redução da maioridade penal
  • criminalização da homofobia
  • prostituição
  • pesquisa com células-tronco

Legalize já, legalize já!

Pergunta que não quer calar: Você é contrário à proibição da venda de armas?

domingo, 23 de março de 2008

A Páscoa

Êta feriadozinho desnecessário. Não poderia ter vindo em pior hora. Veio num momento em que eu absolutamente não estou cansado, isto é, não teria nenhum problema em trabalhar até sexta-feira. As minha coisas estão todas encaixotadas. Isso significa que eu não consegui pegar um livro pra ler, etc... A minha casa está um caos com todas essas caixas espalhadas por todos os lados. Ah é, não falei. Estamos de mudança aqui, vamos nos mudar esta semana, mas faço um post só sobre isso depois. Ademais, uns dias longuíssimos, fastidiosos, amontoando-se uns sobre os outros, como caixas. Parece que estamos há meses nesse feriado que se arrasta. Pra piorar, praticamente não saí de casa: nem nights, nem passeiozinhos diurnos; fiquei aqui, afundado no caos. Sem contar alguns desentendimentos, algumas frustrações, uma terrível sensação de abandono. A boa notícia? Pela primeira vez em anos, ganhei um ovo de páscoa. Meus pais sempre ficaram me tapeando todas as páscoas com coelhinhos de chocolate, caixas de bombom, cenourinhas de chocolate, etc... Ovo de páscoa mesmo, não tenho registro... Ganhei um Alpino, enorme! XD Chocólatra como sou, foi o meu lapso de felicidade destes quatro dias. Feliz Páscoa a todos. Independente de qualquer caráter religioso, ainda assim Feliz Páscoa. Chocolate é sempre bom! XD

sábado, 22 de março de 2008

Algodão-doce

Não me importavam as idiossincrasias da mulher do algodão doce.

Estudos concluídos até à quarta série do ensino fundamental. Um filho aos dezessete, outro aos dezenove e depois ainda mais outro, aos vinte e cinco. Solteira, abandonada pelo marido que fugiu com o dinheiro e o cachorro. Dinheiro juntado, amassado e preso com elástico debaixo do colchão, aumentado a cada mês, até que pôde comprar uma máquina de algodão doce.

A máquina: linda, vultosa, prateada de doer os olhos. O açúcar cristalino virava fios, que se enroscavam no espeto de churrasquinho como em um carretel. E o troço ia tomando forma, a anilina ia dando cor, a embalagem plástica ia deixando aquilo tudo protegido e impermeável e as bolinhas de encher coloridas iam sendo coladas com durex a cada vez. E todos eles iam sendo espetados numa espécie de toco central, a estrutura que, segurada por baixo pelo vendedor, permitia a exposição e o comércio.

Pro Carnaval ela fez o triplo que de costume: trezentos. E o toco central ficara, assim, do dobro da altura costumeira. E o conjunto toco-algodões-doces ficou denso, vistoso, corpulento. E, com pouquíssimos algodões-doces ainda vendidos, ela teve o azar de me encontrar.

Eu passei por ela e pedi para comprar um algodão-doce. “Me vê um azul, troco pra vinte por favor.” “Peraí que eu vou ali no bar trocar, segura pra mim por favor, que eu já volto.” Eu estava já na minha sétima latinha, com outros três amigos, igualmente bêbados e arruaceiros. Saímos correndo por aí. Atravessamos o bloco, pegamos uma rua à esquerda, outra à direita; alguns foliões nos seguiram. O toco de algodões-doces era um estandarte. Desfilamos em marcha rápida. Alguém, a dado momento, ouviu uma patrulha policial ao longe. Distribuímos os algodões-doces, todos. A mulher chegou, chorosa, com cinco policiais, mas todos comíamos algodões-doces e o toco estava lá, sem qualquer espeto, jogado no meio-fio; não seria mesmo possível reconhecer o ladrão.

O bloco do algodão-doce completou cinco anos no último carnaval; é um dos mais badalados por aqui.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Duas folhas

O letreiro no banheiro do shopping (aliás, em qualquer banheiro) diz: "Mãos suavemente secas com apenas duas folhas." Mas eu quero as minhas mãos TOTALMENTE secas. Se eu as quisesse apenas suavemente secas, eu assoprava.

domingo, 16 de março de 2008

Aula de matemática

Dando continuidade ao post a respeito das coisas que me marcaram nos primeiros anos da escola, falarei de uma aula de matemática. O que marcou dessa vez, portanto, não foi uma aula, mas uma prova. Eu estava na terceira série do ensino fundamental e estudávamos os conjuntos: seus conceitos, propriedades e classificações. Uma das classificações a respeito dos conjuntos era dizer se o mesmo era “finito” ou “infinito”. Foi-nos explicado que finitos são as coisas que podem ser contadas e infinitas, as coisas que não podem ser contadas. E na prova, tinha uma questão mais ou menos assim: “Dentre os conjuntos abaixo, marque quais são finitos e quais são infinitos: a) números naturais; b) maçãs numa cesta; etc...” Um dos conjuntos que estavam lá pra serem definidos era “litros de água do mar”. Eu, muito sábio e muito convicto, tasquei lá: finito! Dias depois, recebi a prova e vi que a questão tinha sido dada como errada. Esperei a correção coletiva, questão por questão e neste item, protestei: “Professora, o número de litros da água do mar não é infinito”. E foi um alvoroço geral na sala porque a professora dizia que era infinito, e todos os alunos (ou quase) concordavam com ela. E os alunos, apoiados pela professora, usavam argumentos do tipo: “Mas você já parou pra contar”, “Você sabe quantos litros tem?” “Cara, o mar é muito grande”. E eu: “Gente, não é infinito. A questão é que nunca ninguém parou pra contar. O conjunto formado pelos litros da água do mar é incontável (eu tinha lido esse conceito numa enciclopédia)”. Eles: “Mas alguém já contou?”. Eu: “Não que eu saiba, mas também não importa. É só alguém se dispor a contar”. Eles: “Mas o cara vai morrer até acabar de contar”. Eu: “Mas essa não é a questão...”. Eles: “Você não sabe de ninguém que tenha contado. Se ninguém, contou, é infinito”. E fim de papo, a correção da prova tinha que seguir. Eu fiquei com raiva, com muita raiva. Porque eu sabia que eu estava certo. E eu discuti a questão com meus pais, comecei a discutir com outras pessoas fora do colégio, a maioria me dava razão. E, depois, o que era uma prova ante à verdade? E daí, se estava errado lá na minha prova se eu tinha a certeza absoluta de que eu estava certo? Depois, essa raiva começou a se transformar numa certa pena: dos alunos, e até da professora. Pena porque eles não entendiam que os litros de água do mar podiam sim, ser contados, bem como os grãos de areia (na verdade, a questão dos grãos de areia é mais complexa, faço um post pra eles depois). Eu, na terceira série do ensino fundamental, tinha pra mim que só três conjuntos eram verdadeiramente infinitos: o Universo, os números e uma reta. Os litros de água do mar, pra mim, continuam sendo perfeitamente finitos. Nesse dia, eu aprendi que os professores não são deuses, não são os donos da verdade. Aprendi a não aceitar de cabeça baixa as informações que me chegavam como sendo verdade.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Copacabana

Pretendo dar início aqui a uma série de posts sobre os bairros do Rio (o que pode vir a se tornar mais um dos projetos inacabados desse blog... rsrsrsrs) Começarei por Copacabana. Realmente não consigo entender o fascínio que algumas pessoas têm por esse bairro. Vá lá, existe uma história bonita, um passado de glória e de glamour. Mas o que Copacabana tem hoje? A praia é ruim. É até bonita no cartão-postal, mas na vida real, todo mundo sabe que o Rio tem praias muito melhores. O calçadão e o Copacabana Palace parecem ser as únicas coisas que restaram de um charme que já não se vê mais pelo bairro. Mas o cerne da questão não é o charme. É a degradação. Copacabana é um bairro decadente e degradado. As coisas parecem todas meio envelhecidas, meio descuidadas. Permitam-me a inferência: Copacabana é um bairro feio. E, além de feio, não anda. A Barata Ribeiro, a Nossa Senhora de Copacabana, a Princesa Isabel: o tráfego é comparável ao do Centro na hora do rush. Muitos carros, muitos ônibus, muita gente na rua, muita gente feia na rua, muita fumaça, muita gente morando em muitos prédios. Pela número de habitantes e pela renda média da população do bairro, a quantidade e a qualidade dos serviços prestados deveria ser muito maior. Acredito que os turistas ainda fazem questão de conhecer Copacabana somente pelo peso que o nome carrega, mas é cada vez mais claro pros cariocas que Copacabana é cada vez mais apenas isso: um nome. Mendigos, prostitutas, ricos, pobres, cafajestes, caos urbano, desordem pública. Copacabana é um bairro que mistura tudo, só que sem nenhuma harmonia. Parece que fica tudo amontoado. Copacabana é o bairro que tem o ranço de uma aristocracia decadente. E, a despeito de sua localização (é o centro geográfico da Zona Sul do Rio de Janeiro), configura-se num extenso e fastidioso bairro de passagem, dificilmente alguma coisa diferente disso.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Fluidez



bata 5 ovos de codorna no liquidificador


com leite


misture


azeite


alho


farinha de trigo


ilumine o liquidificador enquanto estiver batendo


com luz de neon


olhe para o lado esquerdo


e jogue tudo pelo ralo


da pia do banheiro


sorria


se preferir, chore


a mistura é fluida?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Juramento

Prometo que, no cumprimento do meu dever de Engenheiro, não me deixarei cegar pelo brilho excessivo da tecnologia, de forma a não me esquecer de que trabalho para o bem do Homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou poluam, além de colocar todo o meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz Comigo e com Deus.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Café

Era uma quarta-feira como as outras, a primeira do outono, e eu à mesa, pensante, imaginativo, a escrever sobre tudo o que se possa pensar, à mesa, as idéias fluindo sobre as coisas e as coisas fluindo sobre as idéias. Só havia o shopping, o vai-e-vem inconstante das pessoas, o movimento natural de uma quarta-feira de trabalho e o caderno sobre a mesa, ao lado da cafeteria. As preocupações distantes, do lado de fora do shopping, o ar-condicionado refrescante, a temperatura ideal para uma tarde carioca de mais de 30ºC. Do lado de dentro, só o alívio de ser você mesmo e a felicidade de poder ser escritor das antigas, a escrever num café, vivendo a felicidade e o regozijo de tomar um café caro.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Sustente-se

Reduza a voz
Reutilize o corpo
Recicle o olhar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Anne Frank, no bunker
Aureliano Buendía, no front
Gregor Samsa, no quarto
Sofia, nas entrelinhas

Quem de nós não é cada um?
Quem se pode negar a sê-los,
sempre e a cada vez?

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Aula de português

Na terceira série do ensino fundamental, duas coisas me marcaram muito, a ponto de ainda lembrá-las, hoje, mais de dez anos depois. A primeira delas foi na aula de português. A professora (na minha época era tia, mas enfim) estava ensinando os nomes simples e compostos. Os nomes compostos eram aqueles formados por mais de um nome, como "guarda-chuva", "flor-de-lis", "antitetânica", etc... Eu então, inocente, perguntei se os dois nomes que formavam o nome composto tinham que necessariamente ter a ver um com o outro, porque, por exemplo, "palhaço" poderia ser um nome composto de "palha" + "aço". Nisso, um coleguinha de classe chegou e disse "dããããã, aí não, né?", ao que foi corroborado pela professora: "claro que não, né?". Acabei entendendo que o sentido de cada nome simples deveria colaborar com o sentido do nome composto. Mas até agora fico querendo entender o que tinha de claro e de óbvio quando eu estava aprendendo aquilo. Todo questionamento, sobretudo no momento da aprendizagem e, por mais estúpido que seja, é válido!

A outra coisa que me marcou foi na aula de matemática; me lembrem de postar depois.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Soneto ao pescador

Não há peixe que grite enquanto morre
Trêmulo frente à sedução da isca
Esse engodo a que em vão ele se arrisca
Contra o caudaloso fluxo que corre

Vacilante e veloz como se um porre
Fizesse de suas escamas faísca
É o porvir torpe que já se rabisca
Na vida insensata que já se escorre

E ao vislumbrar o semblante do algoz
Debate-se inconsciente e sem ar
Na instável jangada carcomida

Asfixiado, sem poder respirar
O peixe mudo encerra sua vida
Sem que se possa calar sua voz

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Você

Você era loira, na época. Agora já não sei mais porque os cabelos das mulheres mudam a cada mês, a cada dia, e posso encontrar você por aí loira, ruiva, morena, com mechas azuis, pontas verdes, cabelos em cacho, luzes, lisos, presos, soltos, armados, tiaras, laços, fitas, faixas, presilhas, arcos, coloridos, serenos, exaustos, enfastiados, mornos, molhados, suaves, indubitáveis. E não posso fingir surpresa porque os cabelos agora são assim, mutáveis, e oh, seus piercings, tatuagens, body art; somos todos incrivelmente contemporâneos.

Então, um dia, eu encontrei você na rua. E você tinha uns cabelos. Então, justamente, como eu dizia, uns cabelos assim, dos quais não consigo lembrar formacortextura, mas eu vou dizer que não importa porque eu aprendi que a sua essência, o seu você, não está nos seus cabelos, e muito me espantaria se tivesse porque não seria confortável a cada vez imaginar uma parte de mim sendo varrida bimestralmente para os cantos das paredes de umas barbearias por aí, por mais que fosse sempre a mesma, a barbearia. Mas no fim das contas, eu sei e você sabe, sempre importam, sempre importunam essas mudanças visuais bruscas, repentinas.

Então, você tinha uns cabelos. E você tinha um nariz que eu também custei a reconhecer porque você fez umas plásticas aí com uns pretensos pitanguys, e o seu nariz que era adunco, um nariz-de-tucano mas que era bonito, apesar de tudo, mas aí, você fez essas suas plásticas estranhas, e ficou com esse nariz que fica parecendo um retalho, uma coisa que, definitivamente, não é sua. E pra completar, colocou um desses piercings que eu acho horrorosos, esse que vai de uma narina a outra e fica aquele anel prateado pendurado, essa coisa que deixa qualquer ser humano parecendo um búfalo norte-americano ou um touro de rodeio em fúria.

E você tinha uns olhos que bem, por mais que fossem seus, no sentido de ser a sua retina, seus cones e bastonetes, aquelas células pra identificar as cores e os claros e escuros (lembra da nossa oitava série tão escandalizada?), já não era uma coisa muito sua, porque você deve ter comprado aí numa dessas óticas de fundo quintal essas lentes, esses olhos falsos, essa sua íris sempre mais clara, uma coisa meio azul-esverdeada mas tão escrachadamente falsa que eu tenho que falar, você ficou ridícula. Ficaram parecendo olhos de boneca, pregados no seu rosto, assim, de qualquer maneira.

E eu só reconheci você quando te vi lá de longe por causa desse seu jeito de andar tão peculiar, essa sua cifose, esses ombros preponderantes que se jogam sempre à frente. E veio vindo você com os seus passos sempre predispostos descendo aquela ladeira, os braços meio colados ao corpo e corcunda, cada vez mais corcunda. Por alguma excentricidade divina ou por alguma outra coisa que me escapa, você, agora toda endinheiradinha por causa daquele concurso, não alterou a sua postura, através de aparelhos cervicais, ioga, pilates, academia, fisioterapia, acupuntura, caminhada, cama elástica, quiropraxia. Você, andando exatamente como daquela vez, descendo a ladeira lá longe, corcunda que só, com uns peitinhos pequenos que balançavam pra lá e pra cá.

E foi por isso, só por isso que eu te reconheci, lá de longe. E você veio vindo e eu fui te desconhecendo, quase duvidando da sua identidade. E você chegou perto, tão perto de mim, que eu fiquei até meio encabulado. E você abriu um baita sorriso largo que eu não correspondi. Peço até desculpas se eu fui antipático, se eu pareci rude, mas é que eu não consegui mesmo olhar pra você, te encarar e entrever qualquer coisa que já não era, um nariz, uns olhos, uns cabelos. Fiquei ali, olhos fixos, perdido na beleza dos seus ombrinhos tortos.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Mitä kello on?


Kello on viisi yli kolme! Tervetuloa!

Não se assutem. Este é um blog brasileiro; bem brasileiro. Falo português e, dentre zilhões de outras coisas, estou tentando aprender a falar finlandês. A pergunta do título (que nomeia o blog também), significa: "Que horas são?". A resposta: "São três e cinco. Sejam bem-vindos!". Finlandês não é uma língua fácil. Mas um dia eu tiro o dia pra fazer um post, falando dela e só dela. No momento, quero falar do blog. Esse não é o meu primeiro blog. Venho de um outro, de uma plataforma quase falida, um blog que já tinha alguns anos de existência. Mas de vez em quando, é preciso renovar. Então quis fazer outro blog, com outra cara, outra proposta.

Esperem por aqui: literatura, encantos, desencantos, filmes, livros, música, frivolidades.
Abraços!