sábado, 25 de setembro de 2010

Ahead


Alguma coisa em mim muda, e apesar de parecer que muda devagar, muda depressa. E daí eu fico meio descompassado, desritmado: jogo montes de roupas fora, gasto dinheiro em coisas novas, invisto tempo em coisas diferentes. Do lado de dentro e do lado de fora tem muita coisa que não me representa mais, tem muita coisa em mim que já não sou, que não quero mais. Quero a vida menos fluida, quero crescer, quero ver o bolo tomar forma e consistência, quero projetos, ah, eu quero tanto.

Sei que a vida não é de graça e que os desígnios do destino são mesmo insondáveis. Mas estou tendo que aprender a ruminar esse cotidiano e a ir curtindo os melindres dessa coisa que não é alimento e que não é bolo alimentar ainda e que, portanto, tenho muita dificuldade em digerir.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

[re] conquista

ligar num fim de tarde
pra dizer que
nada basta
e tudo basta

que somos assim
espetáculo
tentativa de subversão

ainda que
afoitos e aflitos,
entre nós,

saibamos que
somos nossos
e que somos
nós, independentes

dessas coisas
pessoas e mundos
que nos prendem
que nos chamam
e nos gritam

a gente sabe que
tudo isso é nada
e que esse nada
também é tudo,
porque

nossos traços,
descompassados,
sem harmonia,

hão de revelar ainda
que não fomos feitos
um pro outro,
mas

a gente se tem
e se abandona,
todos os dias

incessantes
e paulatinos
certos de que

essa é
a melhor forma de
sermos

e estarmos

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Diálogo



Hoje eu fui a Angra dos Reis. Fui com o pessoal do meu novo trabalho, para conhecer o porto de lá. Éramos por volta de 70 pessoas e todas almoçaram no mesmo restaurante. Por motivos que não vêm ao caso [ok, eu estava sem dinheiro vivo e o restaurante não aceitava cartão], acabei indo comer em outro lugar, um salgado e um açaí. Volto para o restaurante onde estão todos e me recosto na parede do lado de fora, enquanto tomo o açaí. Nesse momento, pára ao meu lado um rapaz negro, alto, magro e visivelmente homossexual [e feio também, registre-se]. E então, dá-se esse curioso diálogo, que tentarei reproduzir de forma fidedigna aqui. Cabe ressaltar, que menti, e que menti deslavadamente. Sendo franco, menti e obliterei verdades com um talento que eu não sabia possuir [quem me conhece sabe que eu não minto e não sei mentir, e quem me conhece também vai perceber durante o diálogo quais são as mentiras e quais são as verdades].  O fato é que a forma excessivamente interrogativa do diálogo me incomodou, e portanto, as mentiras [por que eu abriria informações pessoais a um desconhecido, estando sozinho e em um lugar estranho?]. Enfim, eis aí:

- Você sabe se esse restaurante é bom?
- Não sei, eu nunca fui.
- Ué, como assim, nunca foi?!
- É que eu não sou daqui...
- Ah, é? E você é de onde?
- Eu sou do Rio.
- Ah, que legal... Como é seu nome?
- O meu nome é João.
-Prazer, o meu nome é Marcelino.
Ele estende as mãos na minha direção e nos cumprimentamos, ao que prossegue:
- Mas o que você está fazendo aqui? É alguma entrega?
- Não, eu estou em um treinamento pela minha empresa.
- Ah, mas você está dando treinamento ou está recebendo treinamento?
- Estou recebendo treinamento.
- Desculpa perguntar, mas qual é a sue empresa?
- Uma empresa de consultoria...
- Ah... legal. Qual é o seu signo?
- Eu sou Áries.
- De que dia?
- 3 de abril.
-Ah, eu sou do dia primeiro.
Pausa dramática, ao que ele prossegue:
-Você é bonito. Você é gay?
- Não. Por quê?
- Ah, por nada... Bom, deixa eu ir lá, que eu tenho que dar uma passada no shopping. Tchau.
- Tchau.