terça-feira, 29 de dezembro de 2009

O meu 1968



Tenho procurado como um doido por aí o meu 1968. O ano da revolução dos costumes, da mudança brusca, do mundano e do etéreo, do amor e da revolta; da liberdade: ampla, total e irrestrita. Não achei. Em vão, acreditei que 2007 fosse o ano de tudo isso. Foi um pouco. 2007 foi um tanto quanto revolucionário pra mim. Não posso simplesmente jogar a beleza de 2007 no lixo; foi um ano que teve lá a sua importância, não tenho como negar. Mas 2007 foi uma coisa meio Revolução Francesa, tanta coisa eclodindo, tanta coisa explodindo, tanta degola e tanta guilhotina. Tal e qual a Revolução Francesa, seus efeitos foram sentidos muito depois, bem como o entendimento claro dos fatos. Tinha muita coisa certa e muita coisa errada, muito despreparo, muito exagero. Não posso negar que 2007 sedimenta as bases de tudo que viria depois. Foi um bota-abaixo de Pereira Passos. Foi preciso derrubar o casario para abrir avenidas largas, para crescer. Melhor opção? Não sei. Há cidades que nunca crescem: seus habitantes são pacatos e medíocres, mas insuportavelmente felizes. Daí veio o ano de 2008, que foi um ano perdido. Uma espécie de anos 80 da minha vida, uma melancolia estúpida, um saudosimo injustificável, um medo grande: do mundo, das pessoas. Não se pode dizer muito de 2008. Talvez o ideal fosse esperar mais um pouco pra julgar, mas não é o caso. Esse foi um ano definitivamente vazio, pacato. Mais do que isso, medíocre. E burro. Mas tudo bem, a vida tem seus altos e baixos. Enquanto 2007 me abriu todos os caminhos, 2008 me fez testar os caminhos errados. Mas as coisas têm o seu bem. Aprendi em 2008. Aprendi muito. Provavelmente, mais do que em toda a minha vida. Tenho consciência de que ainda tateio um pouco na caverna escura da vida, mas 2008 me fez distinguir a luz da sombra. E eu posso não saber exatamente aonde ir, mas sei exatamente para onde eu NÃO vou, para onde eu NÃO quero ir, o que eu NÃO quero ser. Não posso negar a importância meio torta do ano de 2008 também, ao seu modo. Mas aí veio o ano de 2009, e eu disse: faça-se a luz. E fez-se. 2008 foi devidamente enterrado e eu me abri para o novo. E veio. Novas pessoas, novos amigos, novos relacionamentos, novos trabalhos, novos estudos, novos lugares. Acho que não seria exagero dizer que 2009 foi o melhor ano da minha vida! Tomei as rédeas de mim mesmo, me governei. Existe um mundo aí fora que não tem controle, eu sei. Mas eu faço o melhor por mim. Já sei do que gosto e do que não gosto, o que quero e o que não quero. Aprendi a economizar e a partilhar. Aprendi até a comemorar, hábito que tenho tão pouco. Vi os céus diferentes mundo afora, me encantei. Não quero e não vou perder esse meu encantamento com as coisas e com as pessoas. Às vezes, sei que é difícil, tem muita desilusão por aí. Mas eu não quero conto de fadas, eu quero o concreto, o pé-no-chão, o feijão-com-arroz bem temperado. E eu também quero o etéreo, o brilho que me ofusca, o deslumbre. Muita gente talvez não entenda porque não pára pra pensar na própria vida e eu só posso lamentar, mas é que SER não é nada fácil. Eu agora vivo nessa corda bamba, nesse tênue equilíbrio entre o feijão e o sonho, na plenitude ímpar que acontece entre o que foi e o que será, o presente da vida. 2009 está indo embora, eu sei; mas é que me custa muito me despedir. Ademais, 2010 há de ser também um bom ano. E quanto ao meu 68, desisti de buscá-lo. Talvez tenha sido mesmo 2007, pelas características mágicas da novidade e pela ausência de sensatez. Mas agora eu descobri que 68 não é o melhor ano. O tempo passa, e eu venho descobrindo que eu prefiro a evolução à revolução.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pierrot



Ontem um amigo meu veio me visitar no trabalho. Amigo? Bem, não sei. Não é um colega, mas também não é um amigo. Eu gosto dele, ele gosta de mim. Não nos vemos com freqüência; aliás, não nos vemos quase nunca. Não temos muitos assuntos em comum. Os laços que nos ligavam se perderam, mas nós ficamos ali, nos recusamos a nos abandonar. No entanto, permanecemos sem construir nada, sem qualquer intenção de edificar alguma coisa para além do que existe. Talvez pareça estranho que duas pessoas que se gostam se mantenham propositalmente distantes. Mas o fato é que sabemos que cada um tem os seus próprios compromissos, as suas pessoas, as suas vidas. E são mundos diferentes. Sabemos que as tentativas de fundir os mundos serão provavelmente infrutíferas. Mas não nos culpamos por isso, não somos hipócritas. A gente ACEITA as coisas como são. A gente se gosta e isso basta. Aliás, não; não basta. Mais do que gostar, a gente se respeita, o que é fundamental pra qualquer relação, por mais peculiar que seja. Mas esse gostar que eu sinto não é um “gostar” qualquer. Eu não gosto como eu gosto dos meus amigos, não gosto como eu gosto das pessoas com as quais eu me envolvo afetivamente. Uma das grandes diferenças é que eu não sinto falta da presença física. É ótimo quando nos encontramos, mas não é fundamental, não é necessário. O que eu sinto por ele é um carinho muito grande, uma estima enorme, que não depende do estar fisicamente presente. Em contrapartida, gosto de acompanhar a vida dele, ligar de vez em quando e constatar que as coisas estão indo bem. Ele me concedeu um perdão quando eu mais precisei. A gente compartilhou segredos numa madrugada na praia uma vez. Não existe muito mais do que isso, a gente fica feliz quando se vê. Ele é alguém que eu prezo, que eu quero bem. Na verdade, existe um monte de gente que eu gosto, que eu admiro, que eu prezo, mesmo de longe, mesmo que a vida, cheia de escolhas e bifurcações, não nos permita compartilhar o caminho por muito tempo. Não preciso ser amigo para gostar das pessoas, para torcer por elas. As relações humanas são complexas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Corpo


o alheio

frenesi







o próprio

desassossego

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Clara

Clara era uma mosca. Poderia ter escolhido ser um elefante, um raio, uma caneta, um pedaço de borracha velha, mas era uma mosca. Quis ser uma mosca. E era; era uma mosca. Clara era uma mosca.

Uma noite clara estava voando e ao deparar-se com o pólen duma flor estranha debaixo de uma lua clara, decidiu Clara pousar.

Pousou e lá ficou clara, a mosca na flor sob a lua. Pôde ver com seus olhos de fractais uma realidade toda espelho, na qual aparecia, repetidas vezes, um menino que a olhava do parapeito da janela.

A janela de grade prata era brilho na lua da noite e clara, naquela hora, era fulgor. Clara no que podia ver, por detrás, no através e pela fresta, era frêmito; era flor e era frêmito; era flor clara.

Desistiu da flor e voou para a janela, a lua de prata gradeada. O menino, moreno, de olhos bem negros, viu a mosca que vinha. Não sabia que a mosca era Clara. Não sabia que a mosca tinha abdicado da flor no jardim para vir pousar à sua janela.

Não sabia e nunca soube que Clara era uma mosca porque quis, um dia, ser mosca. Poderia ser moça, mas mosca Clara. Só para que ao olhar o negrume dos olhos espelhados do menino, pudesse ver-se enquanto via; só para que não se pudessem distinguir os olhos dos outros olhos; só para que aparecessem como incontáveis terços de queijo a Lua clara, ali, no improvável caminho dos olhos multifacetados.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Usa-me
Fuça-me
Esmiúça-me

Ata-me
Desata-me
Bata-me

Xinga-me
Chama-me
Língua-me

Coisa-me
Sinta-me
Cala-me

Masturba-me
Perturba-me
Mata-me

Afoga-me
Deixa-me
Larga-me

Olha-me
Nina-me
Durma-me

Faz,

p o r f a v o r

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Breve ensaio sobre o lado de dentro e o lado de fora

Não é difícil vislumbrar o que não se vê. O que está por trás, está e sempre esteve, de forma que não é difícil imaginar a presença e os mecanismos que personificam o que vem de dentro, ainda que não se veja. É engraçado reparar como cada um de nós sempre se vê no eterno dilema entre a cabeça e o coração, entre o racional e o emocional. Sempre dividimos o mundo e as coisas nesse embate imaginário entre o que pensamos e o que sentimos, e temos dúvida. No entanto, esse embate, é falso. Ou ainda que admitamos a sua existência, não podemos desconsiderar que a razão e a emoção são as duas faces de uma mesma moeda. Explico: a razão e a emoção são coisas que estão do lado de dentro. Elas precisam de um motor, quer seja o raciocínio ou o sentimento, para se externalizarem. Mas é tudo muito interno, ainda; é uma coisa que não se atinge e não se vê. O sentimento é uma espécie de racionalidade travestida, é um pseudo-automatismo da ação. Mas o sentimento, inúmeras vezes, permanece onde está sem se converter em ação, sem se converter em nada, plástico em si mesmo. Alguns podem atribuir a essa inércia do sentimento uma espécie de freio advindo da razão, mas muitas vezes, é a força do sentimento que, tal qual a da razão, não é capaz de lutar contra um outro elemento, mais forte que ambos e, geralmente desconsiderado: o corpo. O corpo é a parte externa, é o que se vê, é o movimento. A razão e a emoção interferem no corpo, no comportamento do corpo, mas é como se tudo dependesse de uma expressa autorização advinda dele e só dele. O corpo tem vida própria, ainda que façamos um esforço enorme para negar isto o tempo inteiro. A razão e o sentimento, cada qual à sua maneira, são elementos que tentam frear o corpo, na ânsia exasperante de ir à frente por si mesmo. Entender o corpo, conhecer o corpo, é tão difícil quanto necessário. É preciso que se saiba que o corpo é mais do que instrumento, ferramenta. Ele é dotado, não de vontade, mas de uma autonomia sobre si e sobre o que há do lado de dentro, que insistimos em desconsiderar. É do corpo a voz e a vez; ele, só o corpo, para além da razão e da emoção, par a par com o sublime, o etéreo. O corpo vai por si mesmo, na sua sagrada missão de ser, e seguir sendo. Boca, nuca, mão; pêlos, boca e cabelos; dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Criação coletiva do pé-sujo a cinco mãos

Para a iconoclasta "Zogaraibe":

Noites de inverno, quartas frias
Ali, um bar quase triste
Movimentam-se corpos bem quentes
Em frenesi, mais que ardentes,
Uns membros, assim, quase em riste,
De repente, surge uma pergunta:
Posso te photoshopar?
Photoshope toooooda, ah, delícia!
Photoshopando me torno outros
Cada um lhe dando um gozo
Sem sequer mostrar seu rosto,
Ou uma perna, um peito,
Um cotovelo que fosse,
Me torno vários, photoshopado, chupado,
E lhe concedo graça
De moral despudorada - orgia!
Ah, orgia... movimentos acelerados, calorosos...
E num ardor de verão, surge
A primavera! Viva a viadagem!!!
A liberdade dos sentidos, que as ninfas da primavera evocam
Porque de qualquer forma, eu te testo,
Te provo
E na papila, na pupila, no poro,
Sorvido és
A intensidade que te provo é densa, é violenta
E a estoca que provoca o gozo vem...
Devassador, quente e intenso
O toque que se aproxima do calor perene
Lambida do joelho!
E esse joelho, essa orelha, esse braço,
Esse teu tudo!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Breve ensaio sobre a luz e o movimento


Eu tinha prometido a mim mesmo, ao começar este blog, que não postaria textos de caráter muito pessoal aqui, etc... Peço permissão a mim mesmo, desdigo o que outrora disse, me preparo e vou. É mais ou menos por aí, mais uma vez: desdigo o que outrora disse, me preparo e vou. Ou ainda, redigo o que outrora disse, me preparo e vou. Como seria bom, no meio de tudo isso, poder optar por não ir. Agora que está tudo tão bem, agora que as coisas fluem de um jeito quase mágico e é tudo tão gostoso, agora que amanhece o dia e a gente vê quão bonito é. É, é mágico, é bom, é gostoso. Gostaria de, com todas as minhas forças, evitar que voltasse a ser noite, de novo, fazer com que a Terra parasse de girar, contemplar cada coisa em seu lugar na maravilha que é a inércia, a falta de movimento, a luz acertando em cheio as coisas sem que as coisas se movam, numa espécie de beleza eterna e etérea. Mas as coisas movem, a Terra gira, os dias vão e vêm, as horas passam, o movimento está aí, tudo se move, a luz mal tem tempo de tocar os objetos e lhes imprimir uma sombra ou um ângulo inquestionavelmente belo sem que venha o movimento seguinte, brusco, abrupto, e destrua todo efeito fosco ou fluorescente paulatinamente trabalhado para que, então, venha a sombra mole e a luz disforme, de forma que todo sol e toda luz penetrem nos corpos de uma maneira um tanto quanto insípida e desleixada. Tudo isso porém não aconteceria se pudéssemos parar o movimento, se pudéssemos não depender do sol a nos iluminar, ainda que seja mais natural, talvez, ainda que o sol rode junto com os corpos e o efeito seja sempre novo, mas sempre vinculados a uma fugacidade impressionante, a uma necessidade de desfrutar de cada nesga, de cada instante de luz porque adiante, aí está, uma variação do ângulo do sol, um movimento sutil do corpo precedendo o movimento brusco, outros timbres, outras nuances, uma espécie de transmutação eterna, de mudança indubitável. Estar sempre à mercê do sol e da luz do sol, e movendo-se de um lado para o outro, tentando capturar a beleza já tão passado, que não se permite voltar ainda que se volte o corpo à mesma posição, porque o sol já caminha em outros passos, já projeta outros horizontes, já não permite uma mesma imagem. Aquela imagem estonteamente bela já não existe, não volta é quase uma ilusão de óptica. O sol rodou, girou, projeta ao meio-dia agora. As coisas são agora, tal como são. Virá a tarde, que precede a noite. A noite é dia pra quem está do lado de lá. Pra quem está do lado de cá, a tarde é a madrugada de quem vai e ainda não chegou, é um esperar triste e silencioso pelo dia que amanhecerá imprevisível, nublado ou ensolarado, talvez com chuva, granizo, quiçá neve. Ninguém poderá saber a intensidade do frio ou da saudade pra quem vai e pra quem fica, mas o sol que nos ilumina é sempre o mesmo, ainda que com suas variações de humor, seus fusos horários invertidos, suas nuances intempestivas de um aquarela dourada antes de dormir embaixo de uma de nossas camas e acordar tal e qual uma moeda de um centavo, redondo ou quadrado, do lado de lá. As nuvens, no entanto, são de cada um. A chuva que chega e que molha pode ser boa, pode ser má, pode ser a enchente ou a colheita. A chuva é de cada um. A noite pode ser treva ou pode ser farra, pode ser ócio ou pode ser tédio, ou pode ser só. A noite é de todos, o sol não vê a noite. A lua que míngua, um dia se enche. E quando se encher da cheia, esvazia, até ficar nova. A lua nova é o espaço vazio, é a ausência de luz que se projeta à frente, no espaço morto entre o minguar e o crescer. A lua cresceu, e cresceu bem; foi bonito, não foi? Veio a lua cheia, ah, que plenitude. Agora, a lua míngua, visivelmente e com força, um estágio antes. Virá o período da lua nova. A lua nova é ausência, é escuridão e céu negro. É ainda novidade, é o porvir, é a noite com seus guizos e grunhidos, talvez choros. Depois, com fé, a lua cresce, de novo, reluzente e tenaz, até que nasça a lua cheia, branquíssima, iluminada, a lua cheia mais bela que já se viu. E ainda com fé, há de se esperar que, ainda que a lua se decida por minguar de novo, que se demore na cheia, que não se vá tão breve, que seja suficiente sempre para encher de plenitude e luz os tempos vindouros, as outras luas, planetas, cometas e satélites que, porventura, um dia cheguem.

Quanto ao sol e ao movimento do sol, bom seria se pudéssemos nos fechar em um quarto, naquele quarto onde pudéssemos ver o mar imponente lá fora pela fresta da cortina, sem se importar se é dia ou se é noite, se o sol brilha com força ou sem, porque o que importava mesmo era nos ver através do espelho assim, inertes, inebriados de nós mesmos e de nossa própria luz artificial, contemplando a beleza do contorno e da sombra, sob o feixe de luz exato e pelo tempo que quiséssemos, bastando, à nossa vontade, regular, segundo nossas próprios anseios e desejos, ainda que inconscientes, as posições dos corpos e a intensidade da luz ou da penumbra daquela lâmpada incandescente do motel.

Por enquanto, porém, há uma natureza e uma meteorologia clamando do lado de fora: há lobos, corujas, cigarras, dias, noites, lua, sol, movimento. O inerte, por enquanto, é devaneio, é sonho de verão azul. Peço desculpas se não consigo evitar a existência e a intensidade da luz do sol, ainda que não agora, ainda que tente colocar uns óculos escuros para ver melhor as coisas e não me perder do caminho. Não posso refutar a luz, entenda, não agora, não posso negar a liberdade da luz do sol, ainda que o tempo acabe por ficar nublado às vezes, ou sempre, e ainda que eu me recuse, por vontade própria a me mover para tentar variar o menos possível a incidência da luz. Entenda que não posso me furtar a nada disso porque para optar pela inércia é preciso conhecer o movimento e, porque, lá, onde fulgura o outro lado do sol, não haverá motéis com lâmpadas incandescentes, onde me bastaria olhar a tua própria imagem naquele ângulo peculiaríssimo para que não fizesse questão do sol, mas não terei escolha; estarei do lado de fora, se fizer sol ou se chover.

Isto é um desabafo. Tem um monte de metáforas, mas continua sendo um desabafo. Acho que é uma forma de dizer o que eu quero dizer, o que eu preciso dizer, sem dizer necessariamente, ipsi litteris, aquilo que eu estou dizendo. É confuso, eu sei. Peço que não tente analisar meu texto palavra por palavra, isso vai me irritar; as idéias vão e vêm, se sobrepõem, se misturam, etc... Esse texto foi/está sendo escrito de uma só vez e não pretendo relê-lo, como não costumo fazer com textos desse tipo. No fundo, sei que você pode achar tudo isso uma grande babaquice, ou achar que eu fiz um texto bonito que demonstre o quanto minhas idéias são babacas; é uma interpretação possível. Falar dessas coisas todas é muito difícil, me abrir nesse blog é muito difícil; tentar expor, de alguma forma, aquilo do qual eu sempre me esquivo e sempre fujo é difícil pra cacete. Entendimento pleno dessas palavras nem eu as terei, mas é uma tentativa de tentar pôr as coisas em ordem, ainda que eu não consiga ou só embaralhe mais as coisas todas.

Se eu fosse desses, faria uma prece pra setembro chegar mais rápido. Mais para que setembro chegue, é preciso passar por agosto. E para agosto chegar, ainda temos julho inteiro pela frente. E, a despeito da vontade em contrário, esses dias, todos eles, terão de ser vividos, um por um, ainda que doam. Mas pode ser ainda, e tenho fé, de que haja o famigerado pote de ouro no final do arco-íris. Ou, quem sabe, um arco-íris inteiro quando acabar o pote de ouro.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Manifesto

Declaro que faço parte dessa juventude de olhos cegos, mãos atadas e pensamento paralítico. Declaro que, no direito inalienável do meu silêncio, compactuo com todas as atrocidades cometidas diariamente contra toda sorte de pessoas: da fome ao preconceito, do desemprego à depressão. Declaro ainda que, como representante da classe, penso apenas em mim, nas minhas coisas e nos meus objetivos particulares. Desde cedo, aprendi que a felicidade é algo que devo buscar por mim mesmo, algo que não pode ser construído coletivamente. Prefiro indiscutivelmente ser um indivíduo a ser um cidadão. Esnobo a puta e o mendigo, não os encaro. Percebo que sou frágil; tenho medo, muito medo. Da morte, da solidão e da polícia. Não vou às ruas. Não tenho causas nem preceitos. Não vejo motivo para protestos porque acho que as coisas estão indo sempre muito bem. Declaro que não sou conservador nem liberal, porque pouco sei da política. Como todos os outros, reclamo por entre os dentes, digo que o Brasil que não vai pra frente, que os políticos são todos uns safados. Declaro que acredito na verdade que me chega pela televisão, não preciso de outras fontes. Minhas músicas são meu combustível diário, coloco os fones nos ouvidos e afasto-me da realidade, crio uma barreira entre mim e o que acontece ao meu lado. Declaro que sou guiado pelo prazer a qualquer custo, a qualquer tempo. Sempre corro, não sei de quê, não sei pra onde. Prefiro não saber o que nos move à frente, ou ainda, o que não nos move. Declaro que faço parte da massa pálida e descafeinada que engrossa as filas de emprego sem se questionar e sem protestar. Somos uns cordeiros, todos. Tenho fé ainda de que a felicidade virá na caixa do Sucrilhos do dia seguinte. Declaro que meu projeto mais ambicioso é erguer minha casa de gramado verde e cercas brancas e construir uma família onde vivamos todos tal e qual o comercial de margarina. Eu, filho do carbono e do amoníaco, espero sempre. Pelo beijo ou pelo escarro. De minha face, contudo, nenhum músculo se moverá. Declaro, em nome de todos que represento, que optamos por ser assim, que é nossa escolha estar sempre indiferente ao que quer que seja, que temos até um certo orgulho em não sermos mais do que pedaços inertes de plástico.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Twitter poem #001

desenho um asterisco com os pés
tento crer
ainda
que a força do lápis
ou a câimbra
me presenteará com uma árvore
um barco à vela

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Verso do caderno, em 30/03/2009


Que saudade daqueles tempos nos quais eu escrevia qualquer coisa no verso da última folha do caderno e aquelas horas passavam lépidas, ligeiras, a aula sempre muito inútil do lado de lá, ali, no conhecimento projetado à frente com tanta intenção acreditando ainda que os alunos dos cursos superiores são diferentes daqueles do colégio e vão estar muito preocupados em aprender aquilo que se dá, mas na verdade, no fundo mesmo, ninguém está nem aí, talvez porque as aulas sejam mesmo desinteressantes ou porque as pessoas estão preocupadas demais com o futebol de amanhã e a menina de saia curta que passou. Mas a verdade é que os tempos idos são os mesmos de agora, salvo algumas pequenas mudanças de contexto, mas estão aí o trabalho, as mesmas pessoas gelatinosas que povoam o espaço, os mesmos traços, as mesmas letras; ainda essas pessoas presas nessas vidas de pão e circo e que vão casar e ter filhos e ser felizes para sempre, e tanto faz que se mudem os rostos e os nomes, não importa, é esse mesmo espírito vazio e essa falta de cultura que faz com que não se possam distinguir os medos de agir, de pensar e de ser, uniformíssimos. Mas hoje, apesar de tudo, já há muita coisa sólida para além de toda falta de coragem e para além de todo conformismo: há estrelas no céu. Há liberdade e há verdade. Não há medo, ou quase. Não há o eterno, não há o pra sempre. Não há o incurável, não há o crônico, há só o presente, e que presente. Há tanta coisa dentro para além do que se vê e para além do que se pensa, mas agora já não há essa necessidade torpe e crônica do travar-se, não há fronteiras para o corpo, não há o pensamento paralítico. Porque a coisa crônica não passa de um monte de letras no papel; e é quase conto e, sendo conto, já é quase poesia; e sendo poesia já é quase bela, sem que haja meio de fugir da beleza porque ela está em todo lugar; para onde quer que se olhe lá está a beleza, para além do aparente e para além do turvo, para além do próprio belo. Essa necessidade de transcender, de querer acreditar que há algo que transcende e que transcende de verdade já é tão passado, já é tão anteontem, já é tão cheia de ilusão e de mentira que já não faz mais sentido; a libertação, a liberdade, nada disso é uma questão transcendental, é uma questão de aqui e agora, pura e simplesmente, de se livrar dos medos e de tudo que não presta porque, olha, ser feliz é simples, ou ainda que não seja, vá lá, mas é tanta beleza, tanta beleza desperdiçada nos raios de sol, na cidade que brilha aqui, na cidade que brilha do lado de lá, na cidade poluída, pequena, industrial, megalopolizada, cinza,turva, limpa, desacreditada, segura, violenta, luxuosa, popular, hospitaleira, nessa cidade na qual nada transcende, na qual as coisas são harmônicas por si mesmas ou não, na outra cidade também, em qualquer cidade, em todas as cidades onde há prédios e essa necessidade vital que é mais que existir, que é ainda mais que contemplar e mais que estar, tudo tão real, tudo tão ao vivo e pleno de sentido em si mesmo e tudo belo, belo, insuportavelmente belo. E essa beleza já não fica encalacrada numa redoma de sinapses desconexas, já se expande para além do limite do pensamento, já se deixa entrever nuns olhos que brilham e num sorriso desmedido, real, sincero, que não transcende e que não se propõe a transcender nada, não se propõe a ser qualquer outra coisa que não um sorriso real e sincero, ocupando um lugar no espaço, um lugar cartesiano, ou ainda que não, mas um lugar real, puro, sólido, concreto. As coisas no mundo emanam uma vontade natural de essência, ou é preciso que emanem, ou não, mas é o que se vê; no fundo, são as coisas sendo, existindo, ocupando o espaço, um átomo, um lápis, uma cidade, uma necessidade inexpugnável de ser e de seguir sendo. O mundo, ou ainda que eu, através dos olhos do mundo, sorri, sorri porque acha graça de si mesmo quando tropeça ou quando chove, ou ainda quando morre a flor e quando nasce o rato até que o rato morra e que outra flor nasça, sem que nada transcenda, mas que tudo seja riso, ainda, de uma forma ou de outra, de preferência largo, mas às vezes discreto, entre os dentes, mas sempre sincero e sempre riso, porque as coisas são e vão continuar sendo, desta forma ou de outra, flores e ratos nascendo e morrendo o tempo inteiro, as cidades crescendo e existindo, as pessoas remoendo suas vidas, chorando suas mágoas, comprando carros, casando, tendo filhos, fingindo que lêem, achando que podem e achando que sabem, derrubando muros, pulando cercas, tramando teias e um riso honesto por cima de tudo isso não pela mudança, pela revolução ou pela transcendência, mas pelo simples e pelo cotidiano, pela beleza e pelo nada, pela aula que segue fluida enquanto escrevo.

twitter

blog says: twitter is killing me softly...

terça-feira, 26 de maio de 2009

Saúde

É engraçado. Às vezes, a gente não se dá conta de como é importante ser/estar saudável. A saúde é o tipo de coisa que a gente raramente presta atenção, exceto quando falha. Funciona mais ou menos como um elevador ou um ar-condicionado. Um belo dia se está bem, e no outro, cataploft; eis aí o acidente, a doença ou a tragédia. Como quase tudo nessa vida, passa. Uns remedinhos aqui, outros ali e, voilà, a saúde vem junto com o oxigênio e o corpo retoma o viço e o vigor. Mas, e nessas duas semanas? O que passa pela cabeça quando não se sabe o que se tem? O que passa pela cabeça quando o diretor da emergência do hospital te encaminha prum especialista porque não sabe resolver? O que passa pela cabeça quando nada se cura e a quantidade e a intensidade de remédios só faz aumentar a dor e o estrago? Nada, nada passava pela cabeça, nem pela garganta; E o corpo ia ficando magro, e o coração ia ficando triste, e era um desespero esquisito. E quanto à dor, vale saber que a dor física é horrível. A dor intermitente não acostuma, faz questão de se mostrar sempre ali.

Não lembro de ter ficado tão doente assim antes, de ter que parar a vida por três semanas. Fui mais vezes ao médico nesse período do que em toda a minha vida. Relatórios, artigos, projetos; tudo que era pra ontem virou supérfluo. O que era fundamental virou acessório. Ficar doente, por pior que seja, serviu pra mostrar o valor real das coisas. Conseguir falar e conseguir comer são mais importantes do que apresentar aquele artigo no mestrado. Agora eu vejo que o gozo da saúde, por si só, já é motivo pra festa. E eu to fazendo a festa! =D

Nos meus primeiros dias de recuperação, quando eu estava há uns cinco dias sem comer, eu só conseguia tomar coisas líquidas, de canudo. Quando, pela primeira vez em muito tempo, eu consegui sentir o sabor, mastigar e engolir um pedaço de peixe, eu chorei.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Questionário

1. Que horas você acordou hoje?
5 pras 9, muito atrasado, como sempre

2.Diamantes ou pérolas?
Diamantes.

3. Qual foi o último filme que viu no cinema?
Divã

4. O que normalmente come no café da manhã?
Geralmente saio de casa com muita pressa e acabo não comendo nada. Se acordar mais cedo, como um pão com requeijão e um copo de leite. Mas se eu sair de casa com fome e insistir em tomar café, eu como um pão na chapa e um suco de espinafre, salsa, tomate e laranja. =D

5. Qual é o seu nome do meio?
Tenho dois. E agora?

6. Qual comida você não gosta?
Jiló. Parece clichê, eu até tento gostar, mas olha, é ruim mesmo. Detesto carambola também, que acredito ser uma das pouquíssimas frutas que não gosto.

7. No momento, qual é o seu CD preferido?
Ah sei lá, um monte. To num momento muito off-music

8. Que tipo de carro dirige?
Fui reprovado duas vezes na prova prática da autoescola. Desisti de dirigir, ao menos por enquanto.

9. Sanduíche preferido?
X-Bacon da Lapa ou X-Burguer da cantina da UFF. E um Big Mac Tb! =PP

10. Que características despreza?
Mentira.

11. Roupas preferidas?
Cores! XD

12. Se pudesse ir pra qualquer lugar do mundo de férias, para onde você iria?
Índia/Nova York/Finlândia/Londres (ah, desculpa, era um só, né?!)

13. Marca preferida?
No pescoço. =P

14. Onde gostaria de se aposentar?
Dando aula num faculdade.

15. Qual foi o seu aniversário recente mais memorável?
Meu último aniversário, de 22 anos, foi o melhor que já tive. Foi a primeira vez que EU me mobilizei pra fazer alguma coisa pra mim e chamei os MEUS amigos. Foi tão legal! ^^ Tinha só pessoas que eu gosto, de verdade!

16. Esporte preferido pra assistir?
Troco de canal.

17. Quando é o seu aniversário?
05/04

18.Você é uma morning person ou uma night person?
Night person

19. Quanto calça?
44. Pezão. (idem à resposta que estava aqui antes, oh my god!)

20. Animais de estimação?
Tive dez peixes que morreram todos porque o aquário minúsculo. Minha grande frustração foi minha mãe não ter me deixado jogá-los pela privada, que nem eu tinha visto no desenho do Dexter. Eu tive também cinco girinos que eu peguei num riacho uma vez. Trouxe-os para casa numa garrafa pet e os quatro maiorzinhos morreram; só ficou o mais novinho. Daí eu me liguei que eles eram anfíbios e não podiam ficar na garrafa, precisavam de um ambiente com água e terra. Criei um aparato com um pote de margarina inclinado onde tinha ao mesmo água e areia. O girino foi se desenvolvendo até que ele virou um sapinho muito bonito, mas que começou a pular muito alto, quase na altura do pote. Daí, tive que deixá-lo num lodo lá perto de casa. Espero que ele tenha sido feliz. Não gosto de cachorros. O Orkut foi brilhante ao definir minha relação para com os animais: prefiro que fiquem no zoológico. A propósito, prefiro plantas.

21. Alguma novidade que gostaria de compartilhar?
Fui mais vezes ao médico nos últimos 30 dias do que em toda a minha vida.

22. O que você dizia que queria ser, quando criança?
Astronauta. Cientista. Qualquer coisa, menos engenheiro de produção... rsrsrsrs

23. Como você está hoje?
Ocioso, apesar das obrigações. Particularmente contente.

24. Qual é o seu doce preferido?
Brownie com sorvete de creme e calda de chocolate; aliás, qualquer coisa que envolva chocolate, sorvete ou as duas coisas. I’m an ant.

25. Qual é a sua flor preferida?
Particularmente, acho uma pergunta meio idiota. Ok, sei lá... Cara, não faço a menor idéia...

26. Por qual dia do calendário você está esperando ansiosamente?
31 de julho.

27. Qual é o seu nome completo?
UUhhhh prefiro manter o mistério.

28. O que você está escutando agora?
O barulho do ventilador e do teclado.

29. Qual foi a última coisa que você comeu?
Pão com requeijão (muuuuuito requeijão, como convém) e um copo de leite.

30. Você faz pedido pra estrelas?
Não.

31. Se você fosse um lápis de cor, que cor seria?
Verde. Ou laranja.

32. Como está o tempo agora?
Nublado. Começa a fazer frio lá fora.

33. Última pessoa com quem você falou no telefone?
Yuri.

34. Refrigerante preferido?
Não tomo refrigerante há mais de um ano. Aboli num belo dia em que disse, sem motivo: “a partir de hoje, não tomo mais refrigerante.” E não tomei.

35. Restaurante preferido?
Carretão.

36. Qual era o seu brinquedo preferido quando criança?
Gogo’s! XD

37. Inverno ou verão?
Inverno, acho. Mas posso mudar de opinião se sentir muito frio. =P

38. Beijos ou abraços?
Abraços

39. Chocolate ou Baunilha?
Chocolate.

40. Café ou chá?
Café.

41. O que tem debaixo da sua cama?
Uma segunda cama e umas gavetas com toalhas e tênis (sim, guardo alguns tênis embaixo da cama)

42. O que você fez na noite passada?
Estudei como há tempos não fazia.

43. Do que você tem medo?
Do incognoscível.

44. Salgado ou doce?
Doce.

45. Quantas chaves tem no seu chaveiro?
3.

46. Há quanto tempo você está no seu atual emprego?
1 ano e 3 meses.

47. Dia preferido da semana?
Surpreendentemente, tenho gostado das quartas-feiras.

48. Em quantos lugares você já morou?
4. Centro, Riachuelo, Rocha e Catete.

49. Você faz amigos facilmente?
Nem sim e nem não. Me entroso fácil, mas me torno amigo de poucos.

50. Gostaria que alguém respondesse esse questionário?
Sim, todo mundo acho. É divertido! XD

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Diálogo com o meu irmão de 13 anos

- Igor, o que é or-gi-ás?
- Rui, essa palavra tá em português ou em inglês?
- Tá em português, eu to lendo no livro da escola.
- Ahn... Soletra pra mim.
- O-r-g-i-a-s.
- Ah, orgia! Orgia é bem... como eu vou te explicar... Orgia são várias pessoas fazendo sexo no mesmo lugar e ao mesmo tempo...
- Ah, é uma suruba.

o.O (!)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Botafogo

Há quem diga que Botafogo é um bairro de passagem. Bairro de passagem mesmo é Copacabana, como pode ser visto aqui. Botafogo é um bairro bonito e completo. A infra-estrutura de lazer é das mais completas do Rio. Dois shoppings, uma vista estonteante para o Pão de Açúcar, uma impressionante densidade de cinemas, bares e restaurantes. O renascimento dos cinemas de rua está em Botafogo, com o Estação, o Espaço e o Arteplex. O Drinkeria Maldita e o Boteco Salvação estão entre os bares mais descolados da cidade. Por falar em descolado, o que dizer da Casa da Matriz, Pista 3, Cinemathéque? A noite alternativa tem grande concentração em Botafogo. A Cobal, por si só, valeria um post inteiro. Sem falar das ruazinhas escondidas que são um charme à parte: no final da Eduardo Guinle tem uma pracinha bucólica; O entorno das ruas Assunção e Bambina é uma volta no tempo, um bucolismo encontrado em poucos lugares do Rio. As vias quase expressas do bairro, a São Clemente e a Voluntários da Pátria, permitem que o bairro seja acessível e que uma relativa calma possa existir nas vias transversais. Aliás, há quem diga que a Voluntários é feia: não é. A Voluntários tem uma beleza exótica. É a beleza do caos, mais ou menos como a beleza da Av. Rio Branco, no Centro, que poucos conseguem enxergar. Por falar em Centro, o metrô torna o bairro muito perto do Centro; o custo de vida em Botafogo é levemente menor do que o de outros bairros da Zona Sul, com uma qualidade de vida muito superior. Botafogo é um bairro estrategicamente posicionado, mas nem por isso um bairro de passagem. Não lembro recentemente de ter passado por Botafogo sem ter parado lá por qualquer motivo, seja pra ir ao cinema, tomar um chopp, encontrar os amigos, ir pra night ou comer um pastel.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Ônibus

Nos ônibus do Rio, há um letreiro que diz: “Gratuidade assegurada para estudantes de escolas públicas uniformizados, maiores de 65 anos e deficientes físicos”.

Quando eu era criança, eu pensava que aquilo era uma puta estratégia pra fazer com que ninguém entrasse de graça nos ônibus porque, veja bem, o cara tinha que repetir de ano várias vezes (muitas mesmo!), até completar 65 anos e, depois, tinha que torcer pra ficar paraplégico ou perder uma perna.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

] ("Xampoo")


os parênteses
se inconformam com a injúria
proclamada
contra o casto colchete

e se abrem
junto com as aspas
jocastas e as caspas
dos cabelos já grisalhos

até que dure o protesto
cinza nos cabelos
presos com o colchete

fazendo tic-tac
e tac-tic

para que se repudie
a infâmia e o falso testemunho
contra os ossos e o ofício
os cabelos e a gramática

e se possam enfim
fechar
após terem concluído
necessariamente

entre lêndeas natimortas
e vernáculos apodrecidos

o que quer
que tivessem para dizer

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

naftalina


o post seria colocado aqui, mas, senhores, tenho que contar-lhes que o post não existe. é. na verdade, é mais ou menos assim: o post me ocupou a ideia por esses dias, meio sorrateiro e elétrico, mas sem nunca se concretizar em qualquer coisa que não fosse mais do que uns pensamentos esparsos e desordenados. qualquer coisa poderia caber no post se ele existisse: qualquer rastro de lucidez, nesga de sonho, literatura de algodão. qualquer poesia adubada teria valido a pena para que não crescessem nas paredes brancas deste blog o bolor da inércia continuada. mas o post, é, pois, nada mais do que isso: uma naftalina para que não se embolore o quer que haja, e para manter as fantasias deste carnaval tão limpas e vistosas como as daquele.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Melô do acadêmico

Lattes, lattes, lattes que eu to passando, vai...

[risos]

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

os dias vão e vêm

os dias vão e vêm. sexta-feira última, 23, foi um dia profissionalmente ruim. 24 foi um dia complexo e intenso; mais ou menos como um 2 de agosto do ano passado, mas em menores proporções. não houve morte, não houve perda, não terminei nenhum relacionamento. mas quanta dor, quanto choro convulso depois do verbo proferido avulso, por impulso. mas foi bom, um dia o mundo haveria de mostrar sua face, e eu haveria de saber. mas se o dia só acaba depois do sono, a noite quase compensa o dia e o saldo não foi tão ruim. 25 foi um dia desajeitado, abusado; diferente, divertido. belo sem ser planejado. eu junto amigos, eu conecto os mundos alheios em si. alguns fantasmas fizeram menção de voltar com seus assombros, mas quem tem medo de assombração é criança; pros adultos, fantasma é lenda, não existe, é um velho com lençol branco; que olha assustado quando se vê pelado, depois que lhe tiram o lençol manchado. é, os dias vão e vêm. quanta vida cabe num final de semana...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

ideia, cacete. eu quis dizer ideia.

post (ou a idéia não está morta)

agora eu me sinto livre. livre para escrever um post sem uma imagem centralizada; livre para não escrever uma poesia ou qualquer coisa literária. livre pra falar de um filme, uma música, o gosto do café. livre pra ser frívolo; ou não. cai em mim agora a realidade de que eu tenho um blog. e quero que o blog a partir de agora seja alguma coisa mais ou menos como talvez tenha sido no início; alegórico, sem ser carnavalesco; talvez pessoal, mas sem detalhes (sórdidos, elucubrativos, sexuais, sensitivos, esmiuçadamente psicológicos), que serão dados, naturalmente, a quem merece, por telefone ou ao vivo. eu quero que esse blog seja algo que eu ainda não sei bem o que é, mas que com certeza, não é o caminho que se vê nele agora. será mais freqüente, espero. a revolução começa agora, mas nada prometo porque o paes e o obama já fazem isso por nós. o blog muda e abraça a liberdade; e vc?

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Orthographia

Já chegou ao pensamento e o medo agora é de que chegue também à fala: depois que a estréia virou estreia, a minha assimilação fonética só consegue entender estrêia.