sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Pierrot



Ontem um amigo meu veio me visitar no trabalho. Amigo? Bem, não sei. Não é um colega, mas também não é um amigo. Eu gosto dele, ele gosta de mim. Não nos vemos com freqüência; aliás, não nos vemos quase nunca. Não temos muitos assuntos em comum. Os laços que nos ligavam se perderam, mas nós ficamos ali, nos recusamos a nos abandonar. No entanto, permanecemos sem construir nada, sem qualquer intenção de edificar alguma coisa para além do que existe. Talvez pareça estranho que duas pessoas que se gostam se mantenham propositalmente distantes. Mas o fato é que sabemos que cada um tem os seus próprios compromissos, as suas pessoas, as suas vidas. E são mundos diferentes. Sabemos que as tentativas de fundir os mundos serão provavelmente infrutíferas. Mas não nos culpamos por isso, não somos hipócritas. A gente ACEITA as coisas como são. A gente se gosta e isso basta. Aliás, não; não basta. Mais do que gostar, a gente se respeita, o que é fundamental pra qualquer relação, por mais peculiar que seja. Mas esse gostar que eu sinto não é um “gostar” qualquer. Eu não gosto como eu gosto dos meus amigos, não gosto como eu gosto das pessoas com as quais eu me envolvo afetivamente. Uma das grandes diferenças é que eu não sinto falta da presença física. É ótimo quando nos encontramos, mas não é fundamental, não é necessário. O que eu sinto por ele é um carinho muito grande, uma estima enorme, que não depende do estar fisicamente presente. Em contrapartida, gosto de acompanhar a vida dele, ligar de vez em quando e constatar que as coisas estão indo bem. Ele me concedeu um perdão quando eu mais precisei. A gente compartilhou segredos numa madrugada na praia uma vez. Não existe muito mais do que isso, a gente fica feliz quando se vê. Ele é alguém que eu prezo, que eu quero bem. Na verdade, existe um monte de gente que eu gosto, que eu admiro, que eu prezo, mesmo de longe, mesmo que a vida, cheia de escolhas e bifurcações, não nos permita compartilhar o caminho por muito tempo. Não preciso ser amigo para gostar das pessoas, para torcer por elas. As relações humanas são complexas.

2 comentários:

B. Pina disse...

Engraçado porque eu tenho uma amiga que nossa relação é parecidíssima com essa sua situação. Eu adoro encontrá-la ao acaso, e vez por outra marcamos de fazer alguma coisa juntas, mas se eu não vê-la por um bom tempo também tudo bem, eu vou continuar gostando dela sem pedir nada em troca, sem sentir culpa por não ligar, sem aquela cobrança que existe em geral nas nossas relações afetivas...por esse ângulo isso é muito bom mesmo!
Como as relações humanas são malucas, concordo Igor.

beijo.

Anônimo disse...

Seres humanos são complexos. Essa complexidade aparece quando ele tenta se entender e dobra quando um ser humano tenta compreender o outro. Não tendo. Vou acompanhando, como você, mesmo de longe. Sem me meter, ser fazer parte dos cálculos.