domingo, 16 de março de 2008

Aula de matemática

Dando continuidade ao post a respeito das coisas que me marcaram nos primeiros anos da escola, falarei de uma aula de matemática. O que marcou dessa vez, portanto, não foi uma aula, mas uma prova. Eu estava na terceira série do ensino fundamental e estudávamos os conjuntos: seus conceitos, propriedades e classificações. Uma das classificações a respeito dos conjuntos era dizer se o mesmo era “finito” ou “infinito”. Foi-nos explicado que finitos são as coisas que podem ser contadas e infinitas, as coisas que não podem ser contadas. E na prova, tinha uma questão mais ou menos assim: “Dentre os conjuntos abaixo, marque quais são finitos e quais são infinitos: a) números naturais; b) maçãs numa cesta; etc...” Um dos conjuntos que estavam lá pra serem definidos era “litros de água do mar”. Eu, muito sábio e muito convicto, tasquei lá: finito! Dias depois, recebi a prova e vi que a questão tinha sido dada como errada. Esperei a correção coletiva, questão por questão e neste item, protestei: “Professora, o número de litros da água do mar não é infinito”. E foi um alvoroço geral na sala porque a professora dizia que era infinito, e todos os alunos (ou quase) concordavam com ela. E os alunos, apoiados pela professora, usavam argumentos do tipo: “Mas você já parou pra contar”, “Você sabe quantos litros tem?” “Cara, o mar é muito grande”. E eu: “Gente, não é infinito. A questão é que nunca ninguém parou pra contar. O conjunto formado pelos litros da água do mar é incontável (eu tinha lido esse conceito numa enciclopédia)”. Eles: “Mas alguém já contou?”. Eu: “Não que eu saiba, mas também não importa. É só alguém se dispor a contar”. Eles: “Mas o cara vai morrer até acabar de contar”. Eu: “Mas essa não é a questão...”. Eles: “Você não sabe de ninguém que tenha contado. Se ninguém, contou, é infinito”. E fim de papo, a correção da prova tinha que seguir. Eu fiquei com raiva, com muita raiva. Porque eu sabia que eu estava certo. E eu discuti a questão com meus pais, comecei a discutir com outras pessoas fora do colégio, a maioria me dava razão. E, depois, o que era uma prova ante à verdade? E daí, se estava errado lá na minha prova se eu tinha a certeza absoluta de que eu estava certo? Depois, essa raiva começou a se transformar numa certa pena: dos alunos, e até da professora. Pena porque eles não entendiam que os litros de água do mar podiam sim, ser contados, bem como os grãos de areia (na verdade, a questão dos grãos de areia é mais complexa, faço um post pra eles depois). Eu, na terceira série do ensino fundamental, tinha pra mim que só três conjuntos eram verdadeiramente infinitos: o Universo, os números e uma reta. Os litros de água do mar, pra mim, continuam sendo perfeitamente finitos. Nesse dia, eu aprendi que os professores não são deuses, não são os donos da verdade. Aprendi a não aceitar de cabeça baixa as informações que me chegavam como sendo verdade.

2 comentários:

Bárbara Jovem disse...

Sensacional. aheuaheu Não só o fato de como vc percebeu aquilo sozinho na 3 serie... Mas o modo em que vc transformou a situação em uma lição para a sua vida ! ahhaueheuaeh

Professor de criança tem disso msm. As vezes omitem a verdade, pois acham que ainda não é hora do aluno (coitadiiinhoo) saber. Ou talvez somente para não causar alvoroço na sala. Outros, infelizmente de tanto passar isso adiante, acabam acreditando em sua propria mentira. Aquilo passa a ser uma verdade pra eles...

Valeu, Igor... Adorei o post !
e... Com certeza, os litros da água do mar são FINITOS ! xD

Beijão
o/

Thiago Borges disse...

Parabéns pelo post cara, concordo plenamente contigo...

E coitados dos alunos que acatam tudo que os professores dizem como sendo 100% de verdade...

E o que porcaria é uma prova de 3ª série comparada com a vida né?

hehehehehehehe
abraços