Clara era uma mosca. Poderia ter escolhido ser um elefante, um raio, uma caneta, um pedaço de borracha velha, mas era uma mosca. Quis ser uma mosca. E era; era uma mosca. Clara era uma mosca.
Uma noite clara estava voando e ao deparar-se com o pólen duma flor estranha debaixo de uma lua clara, decidiu Clara pousar.
Pousou e lá ficou clara, a mosca na flor sob a lua. Pôde ver com seus olhos de fractais uma realidade toda espelho, na qual aparecia, repetidas vezes, um menino que a olhava do parapeito da janela.
A janela de grade prata era brilho na lua da noite e clara, naquela hora, era fulgor. Clara no que podia ver, por detrás, no através e pela fresta, era frêmito; era flor e era frêmito; era flor clara.
Desistiu da flor e voou para a janela, a lua de prata gradeada. O menino, moreno, de olhos bem negros, viu a mosca que vinha. Não sabia que a mosca era Clara. Não sabia que a mosca tinha abdicado da flor no jardim para vir pousar à sua janela.
Não sabia e nunca soube que Clara era uma mosca porque quis, um dia, ser mosca. Poderia ser moça, mas mosca Clara. Só para que ao olhar o negrume dos olhos espelhados do menino, pudesse ver-se enquanto via; só para que não se pudessem distinguir os olhos dos outros olhos; só para que aparecessem como incontáveis terços de queijo a Lua clara, ali, no improvável caminho dos olhos multifacetados.
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2 comentários:
acho q esbocei um choro, e isso é muita coisa. nem acho q seja um texto daqueeeles, mas arte é assim, não faz mt sentido, e é bom qd não faz.
Janaina/ hey_jayjay
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