segunda-feira, 27 de julho de 2009

Breve ensaio sobre o lado de dentro e o lado de fora

Não é difícil vislumbrar o que não se vê. O que está por trás, está e sempre esteve, de forma que não é difícil imaginar a presença e os mecanismos que personificam o que vem de dentro, ainda que não se veja. É engraçado reparar como cada um de nós sempre se vê no eterno dilema entre a cabeça e o coração, entre o racional e o emocional. Sempre dividimos o mundo e as coisas nesse embate imaginário entre o que pensamos e o que sentimos, e temos dúvida. No entanto, esse embate, é falso. Ou ainda que admitamos a sua existência, não podemos desconsiderar que a razão e a emoção são as duas faces de uma mesma moeda. Explico: a razão e a emoção são coisas que estão do lado de dentro. Elas precisam de um motor, quer seja o raciocínio ou o sentimento, para se externalizarem. Mas é tudo muito interno, ainda; é uma coisa que não se atinge e não se vê. O sentimento é uma espécie de racionalidade travestida, é um pseudo-automatismo da ação. Mas o sentimento, inúmeras vezes, permanece onde está sem se converter em ação, sem se converter em nada, plástico em si mesmo. Alguns podem atribuir a essa inércia do sentimento uma espécie de freio advindo da razão, mas muitas vezes, é a força do sentimento que, tal qual a da razão, não é capaz de lutar contra um outro elemento, mais forte que ambos e, geralmente desconsiderado: o corpo. O corpo é a parte externa, é o que se vê, é o movimento. A razão e a emoção interferem no corpo, no comportamento do corpo, mas é como se tudo dependesse de uma expressa autorização advinda dele e só dele. O corpo tem vida própria, ainda que façamos um esforço enorme para negar isto o tempo inteiro. A razão e o sentimento, cada qual à sua maneira, são elementos que tentam frear o corpo, na ânsia exasperante de ir à frente por si mesmo. Entender o corpo, conhecer o corpo, é tão difícil quanto necessário. É preciso que se saiba que o corpo é mais do que instrumento, ferramenta. Ele é dotado, não de vontade, mas de uma autonomia sobre si e sobre o que há do lado de dentro, que insistimos em desconsiderar. É do corpo a voz e a vez; ele, só o corpo, para além da razão e da emoção, par a par com o sublime, o etéreo. O corpo vai por si mesmo, na sua sagrada missão de ser, e seguir sendo. Boca, nuca, mão; pêlos, boca e cabelos; dentes, pernas, bandeiras, bomba e Brigitte Bardot.

2 comentários:

B. Pina disse...

mas é louca essa coisa dos sentimentos e pensamentos virem à tona atráves do corpo, do olhar, de um gesto com a mão, com a boca...né? A máquina humana me fascina...essa arquitetura toda, onde sentimento estrutura corpo, corpo estrutura sentimento e por aí vai...

Obrigada por me linkar aqui.
XD


beijão Igor.

Jay Jay disse...

na primeira vez que li não entendi patavinas, mas agora faz todo o sentido pra mim. sempre nos acostumamos a subestimar a ação do corpo, enquanto na verdade ele também pode determinar razão e emoção, e não apenas ficar no papel de subordinado.

sinto falta dos seus textos =)

Janaina