quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
Juramento
Prometo que, no cumprimento do meu dever de Engenheiro, não me deixarei cegar pelo brilho excessivo da tecnologia, de forma a não me esquecer de que trabalho para o bem do Homem e não da máquina. Respeitarei a natureza, evitando projetar ou construir equipamentos que destruam o equilíbrio ecológico ou poluam, além de colocar todo o meu conhecimento científico a serviço do conforto e desenvolvimento da humanidade. Assim sendo, estarei em paz Comigo e com Deus.
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Café
Era uma quarta-feira como as outras, a primeira do outono, e eu à mesa, pensante, imaginativo, a escrever sobre tudo o que se possa pensar, à mesa, as idéias fluindo sobre as coisas e as coisas fluindo sobre as idéias. Só havia o shopping, o vai-e-vem inconstante das pessoas, o movimento natural de uma quarta-feira de trabalho e o caderno sobre a mesa, ao lado da cafeteria. As preocupações distantes, do lado de fora do shopping, o ar-condicionado refrescante, a temperatura ideal para uma tarde carioca de mais de 30ºC. Do lado de dentro, só o alívio de ser você mesmo e a felicidade de poder ser escritor das antigas, a escrever num café, vivendo a felicidade e o regozijo de tomar um café caro.
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Aula de português
Na terceira série do ensino fundamental, duas coisas me marcaram muito, a ponto de ainda lembrá-las, hoje, mais de dez anos depois. A primeira delas foi na aula de português. A professora (na minha época era tia, mas enfim) estava ensinando os nomes simples e compostos. Os nomes compostos eram aqueles formados por mais de um nome, como "guarda-chuva", "flor-de-lis", "antitetânica", etc... Eu então, inocente, perguntei se os dois nomes que formavam o nome composto tinham que necessariamente ter a ver um com o outro, porque, por exemplo, "palhaço" poderia ser um nome composto de "palha" + "aço". Nisso, um coleguinha de classe chegou e disse "dããããã, aí não, né?", ao que foi corroborado pela professora: "claro que não, né?". Acabei entendendo que o sentido de cada nome simples deveria colaborar com o sentido do nome composto. Mas até agora fico querendo entender o que tinha de claro e de óbvio quando eu estava aprendendo aquilo. Todo questionamento, sobretudo no momento da aprendizagem e, por mais estúpido que seja, é válido!
A outra coisa que me marcou foi na aula de matemática; me lembrem de postar depois.
A outra coisa que me marcou foi na aula de matemática; me lembrem de postar depois.
domingo, 10 de fevereiro de 2008
Soneto ao pescador
Não há peixe que grite enquanto morre
Trêmulo frente à sedução da isca
Esse engodo a que em vão ele se arrisca
Contra o caudaloso fluxo que corre
Vacilante e veloz como se um porre
Fizesse de suas escamas faísca
É o porvir torpe que já se rabisca
Na vida insensata que já se escorre
E ao vislumbrar o semblante do algoz
Debate-se inconsciente e sem ar
Na instável jangada carcomida
Asfixiado, sem poder respirar
O peixe mudo encerra sua vida
Sem que se possa calar sua voz
Trêmulo frente à sedução da isca
Esse engodo a que em vão ele se arrisca
Contra o caudaloso fluxo que corre
Vacilante e veloz como se um porre
Fizesse de suas escamas faísca
É o porvir torpe que já se rabisca
Na vida insensata que já se escorre
E ao vislumbrar o semblante do algoz
Debate-se inconsciente e sem ar
Na instável jangada carcomida
Asfixiado, sem poder respirar
O peixe mudo encerra sua vida
Sem que se possa calar sua voz
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
Você
Você era loira, na época. Agora já não sei mais porque os cabelos das mulheres mudam a cada mês, a cada dia, e posso encontrar você por aí loira, ruiva, morena, com mechas azuis, pontas verdes, cabelos em cacho, luzes, lisos, presos, soltos, armados, tiaras, laços, fitas, faixas, presilhas, arcos, coloridos, serenos, exaustos, enfastiados, mornos, molhados, suaves, indubitáveis. E não posso fingir surpresa porque os cabelos agora são assim, mutáveis, e oh, seus piercings, tatuagens, body art; somos todos incrivelmente contemporâneos.
Então, um dia, eu encontrei você na rua. E você tinha uns cabelos. Então, justamente, como eu dizia, uns cabelos assim, dos quais não consigo lembrar formacortextura, mas eu vou dizer que não importa porque eu aprendi que a sua essência, o seu você, não está nos seus cabelos, e muito me espantaria se tivesse porque não seria confortável a cada vez imaginar uma parte de mim sendo varrida bimestralmente para os cantos das paredes de umas barbearias por aí, por mais que fosse sempre a mesma, a barbearia. Mas no fim das contas, eu sei e você sabe, sempre importam, sempre importunam essas mudanças visuais bruscas, repentinas.
Então, você tinha uns cabelos. E você tinha um nariz que eu também custei a reconhecer porque você fez umas plásticas aí com uns pretensos pitanguys, e o seu nariz que era adunco, um nariz-de-tucano mas que era bonito, apesar de tudo, mas aí, você fez essas suas plásticas estranhas, e ficou com esse nariz que fica parecendo um retalho, uma coisa que, definitivamente, não é sua. E pra completar, colocou um desses piercings que eu acho horrorosos, esse que vai de uma narina a outra e fica aquele anel prateado pendurado, essa coisa que deixa qualquer ser humano parecendo um búfalo norte-americano ou um touro de rodeio em fúria.
E você tinha uns olhos que bem, por mais que fossem seus, no sentido de ser a sua retina, seus cones e bastonetes, aquelas células pra identificar as cores e os claros e escuros (lembra da nossa oitava série tão escandalizada?), já não era uma coisa muito sua, porque você deve ter comprado aí numa dessas óticas de fundo quintal essas lentes, esses olhos falsos, essa sua íris sempre mais clara, uma coisa meio azul-esverdeada mas tão escrachadamente falsa que eu tenho que falar, você ficou ridícula. Ficaram parecendo olhos de boneca, pregados no seu rosto, assim, de qualquer maneira.
E eu só reconheci você quando te vi lá de longe por causa desse seu jeito de andar tão peculiar, essa sua cifose, esses ombros preponderantes que se jogam sempre à frente. E veio vindo você com os seus passos sempre predispostos descendo aquela ladeira, os braços meio colados ao corpo e corcunda, cada vez mais corcunda. Por alguma excentricidade divina ou por alguma outra coisa que me escapa, você, agora toda endinheiradinha por causa daquele concurso, não alterou a sua postura, através de aparelhos cervicais, ioga, pilates, academia, fisioterapia, acupuntura, caminhada, cama elástica, quiropraxia. Você, andando exatamente como daquela vez, descendo a ladeira lá longe, corcunda que só, com uns peitinhos pequenos que balançavam pra lá e pra cá.
E foi por isso, só por isso que eu te reconheci, lá de longe. E você veio vindo e eu fui te desconhecendo, quase duvidando da sua identidade. E você chegou perto, tão perto de mim, que eu fiquei até meio encabulado. E você abriu um baita sorriso largo que eu não correspondi. Peço até desculpas se eu fui antipático, se eu pareci rude, mas é que eu não consegui mesmo olhar pra você, te encarar e entrever qualquer coisa que já não era, um nariz, uns olhos, uns cabelos. Fiquei ali, olhos fixos, perdido na beleza dos seus ombrinhos tortos.
Então, um dia, eu encontrei você na rua. E você tinha uns cabelos. Então, justamente, como eu dizia, uns cabelos assim, dos quais não consigo lembrar formacortextura, mas eu vou dizer que não importa porque eu aprendi que a sua essência, o seu você, não está nos seus cabelos, e muito me espantaria se tivesse porque não seria confortável a cada vez imaginar uma parte de mim sendo varrida bimestralmente para os cantos das paredes de umas barbearias por aí, por mais que fosse sempre a mesma, a barbearia. Mas no fim das contas, eu sei e você sabe, sempre importam, sempre importunam essas mudanças visuais bruscas, repentinas.
Então, você tinha uns cabelos. E você tinha um nariz que eu também custei a reconhecer porque você fez umas plásticas aí com uns pretensos pitanguys, e o seu nariz que era adunco, um nariz-de-tucano mas que era bonito, apesar de tudo, mas aí, você fez essas suas plásticas estranhas, e ficou com esse nariz que fica parecendo um retalho, uma coisa que, definitivamente, não é sua. E pra completar, colocou um desses piercings que eu acho horrorosos, esse que vai de uma narina a outra e fica aquele anel prateado pendurado, essa coisa que deixa qualquer ser humano parecendo um búfalo norte-americano ou um touro de rodeio em fúria.
E você tinha uns olhos que bem, por mais que fossem seus, no sentido de ser a sua retina, seus cones e bastonetes, aquelas células pra identificar as cores e os claros e escuros (lembra da nossa oitava série tão escandalizada?), já não era uma coisa muito sua, porque você deve ter comprado aí numa dessas óticas de fundo quintal essas lentes, esses olhos falsos, essa sua íris sempre mais clara, uma coisa meio azul-esverdeada mas tão escrachadamente falsa que eu tenho que falar, você ficou ridícula. Ficaram parecendo olhos de boneca, pregados no seu rosto, assim, de qualquer maneira.
E eu só reconheci você quando te vi lá de longe por causa desse seu jeito de andar tão peculiar, essa sua cifose, esses ombros preponderantes que se jogam sempre à frente. E veio vindo você com os seus passos sempre predispostos descendo aquela ladeira, os braços meio colados ao corpo e corcunda, cada vez mais corcunda. Por alguma excentricidade divina ou por alguma outra coisa que me escapa, você, agora toda endinheiradinha por causa daquele concurso, não alterou a sua postura, através de aparelhos cervicais, ioga, pilates, academia, fisioterapia, acupuntura, caminhada, cama elástica, quiropraxia. Você, andando exatamente como daquela vez, descendo a ladeira lá longe, corcunda que só, com uns peitinhos pequenos que balançavam pra lá e pra cá.
E foi por isso, só por isso que eu te reconheci, lá de longe. E você veio vindo e eu fui te desconhecendo, quase duvidando da sua identidade. E você chegou perto, tão perto de mim, que eu fiquei até meio encabulado. E você abriu um baita sorriso largo que eu não correspondi. Peço até desculpas se eu fui antipático, se eu pareci rude, mas é que eu não consegui mesmo olhar pra você, te encarar e entrever qualquer coisa que já não era, um nariz, uns olhos, uns cabelos. Fiquei ali, olhos fixos, perdido na beleza dos seus ombrinhos tortos.
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