sábado, 26 de janeiro de 2013

Por que o CEFET/RJ não vira UNIRIO?




Em primeiro lugar, quero deixar claro que este é meu blog pessoal, portanto, dentro do que se pode esperar em termos de indissociabilidade, essas opiniões não são do Igor professor do CEFET/RJ, e sim do Igor ex-estudante e que tem um carinho grande pela instituição. Essa é uma visão pessoal, portanto; jamais institucional.

Pois bem: para quem não acompanha essa novela há muito tempo, a história é a seguinte: o CEFET/RJ pleiteia há pelos menos dez anos a sua transformação em UTFRJ, Universidade Tecnológica Federal do Rio de Janeiro. No governo Lula, o modelo CEFET foi deixado de lado em detrimento do modelo IFET, Institutos Federais de Educação Tecnológica, que prioriza cursos técnicos e licenciaturas. Todos os CEFETs do Brasil viraram IFETs, exceto três: os do Rio de Janeiro, do Paraná e de Minas Gerais. O CEFET do Paraná virou UTFPR, modelo hoje perseguido pelos CEFETs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que continuam sendo CEFETs, os únicos do Brasil.

Nesses CEFETs, a graduação é destaque, de forma que se torna inviável adotar um modelo que priorize licenciaturas e cursos técnicos. Em especial no caso do Rio de Janeiro, a graduação se fortaleceu muito nos últimos quinze anos, com a criação de vários cursos de engenharia, além de programas de pós-graduação. Vale lembrar que os egressos desses cursos de engenharia no Rio não têm dificuldade de se estabelecerem no mercado e a qualidade dos mesmos é facilmente percebida por quem os contrata.

Mas por que o CEFET quer tanto virar Universidade Tecnológica? Em primeiro lugar, o impacto psicológico: quem é do CEFET/RJ sabe que tem um peso enorme estudar em um lugar que comece com U. É sério. Em segundo lugar, a questão da autonomia universitária, da contratação de professores, da criação de novos cursos e da ampliação geográfica da atuação universitária, tudo isso fica cada vez mais difícil à medida que o CEFET/RJ continua operando em um modelo antigo, no qual não se recebem nem os benefícios relativos ás Universidades, tampouco aqueles relativos aos IFETs. Vive-se um estrangulamento político que faz com que se torne muito difícil que os CEFETs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais continuem sua trajetória de excelência em ensino, pesquisa e extensão, e isso não é segredo para ninguém.

A solução, óbvia, é transformar o CEFET/RJ em UTFRJ. Simples, não? Não! O MEC tem deixado claro que não quer esse caminho para o CEFET/RJ nem para o CEFET/MG. É lógico que a luta tem que continuar e tem que haver pressão em cima desta alternativa, por parte dos alunos e dos professores.

Mas é preciso olhar a questão com um pouco mais de calma, de forma a tentar entendê-la e pensar em soluções alternativas (é isso que nós, engenheiros, estamos acostumados a fazer). Em primeiro lugar: por que, afinal, o MEC não quer transformar os CEFETs em Universidades? Vamos olhar para os estados. Minas Gerais e Rio de Janeiro  são os estados com a maior quantidade de universidades federais do Brasil. O estado de Minas Gerais tem, acreditem, 11 universidades federais. Além das mais conhecidas como UFMG e UFJF, existem também algumas menos conhecidas como a UNIFAL (Alfenas), UFLA (Lavras), UFU (Uberlândia), etc... No Rio de Janeiro, somos um estado de proporções mínimas e temos 4 universidades federais,. dentre as quais a maior do país: UFRJ, UFF, UFRRJ, UNIRIO. Imagino que a pergunta que o MEC deve estar se fazendo ao recusar a proposta de transformação dos CEFETs em UTFs é: “Será que cabe mais uma universidade federal nesses estados?”.

Pensando nisso, foi que tive a ideia: Por que o CEFET/RJ não vira UNIRIO em vez de UTFRJ? Esta pergunta provocativa do título do post é uma opção que até agora, não vi ninguém considerar.

Se olharmos para as quatro federais do Rio, vamos ver que a UNIRIO é praticamente o complemento do CEFET/RJ: são fortes em humanidades, artes e sociais aplicadas, mas têm pouquíssimos cursos de caráter tecnológico. A única engenharia que eles têm é a engenharia de produção com foco em inovação e criatividade, que não formou nem a primeira turma ainda.

Se o CEFET/RJ fosse absorvido pela UNIRIO, não seria preciso criar mais uma universidade federal no estado, o que aumenta as chances de aprovação pelo MEC. Além disso, cria-se uma UNIRIO mais forte, com direcionamento também para a parte tecnológica.

Os únicos cursos que há em comum entre as duas universidades é o de administração (mas na UNIRIO é Administração Pública e no CEFET/RJ é Administração Industrial) e o de Engenharia de Produção (no CEFET/RJ, sem ênfase; na UNIRIO, com ênfase em criatividade). O curso da UNIRIO poderia ser transformado em Engenharia da Inovação e serem mantidos os corpos docentes de ambas. O mesmo valeria para os cursos de Administração.

Passaríamos a ser o Campus Maracanã da UNIRIO. O Campus Maria da Graça poderia ser a Escola UNIRIO, na qual poderia haver algum modelo de integração entre a formação de licenciados da atual UNIRIO e as aulas dadas na Escola.

Algumas disicplinas optativas da graduação poderiam ser de livre escolha (existentes em outros cursos) tal como é hoje na UFRJ. Dessa forma, o estudante da engenharia poderia fazer uma matéria interessante na Biblioteconomia, ou fazer aulas de canto e violão.

Para quem não sabe, a UNIRIO é uma faculdade relativamente recente e foi formada pela união das Faculdades Isoladas do Rio de Janeiro. Então, a Faculdade de Medicina do Rio (a primeira do Rio), uma Faculdade de Direito e algumas outras se juntaram, e criou-se a universidade. Portanto, para a UNIRIO, a ideia de acoplamento e fusão não é nada nova: é a essência da criação da própria universidade.

Naturalmente, é um processo que burocraticamente não é fácil e tem um custo, inclusive político (condensação de estrutura conduz a um enxugamento de cargos, o que pode fazer com que aqueles que têm cargos hoje no CEFET fiquem meio receosos de perdê-los...). Mas acho que esse custo de mudar ainda é menor do que o custo de permanecermos exatamente como estamos.

O mesmo acontece com o CEFET/MG e acredito que deve haver uma solução parecida de acoplamento, considerando alguma das onze universidades federais de que o estado dispõe.

Algumas pessoas podem argumentar que o CEFET/RJ é uma instituição centenária, de reconhecida excelência, e que é importante ser reconhecido como UTF, etc, etc, etc... Sei que nossa excelência não está no nome (já fomos ETN, ETF, CEFET...), e sinto que esse é o momento de uma mudança radical na estrutura do CEFET.

Eu também quero UTFRJ, caso seja possível. Mas parece não ser. E olhando para o problema de uma outra forma, pensei nessa solução alternativa. Pode ser que isso tudo não passe de um enorme devaneio, mas a cada vez que olho para o problema, mais fico convencido de que essa é uma solução viável e muito boa.

Decidi compartilhar isso, em primeiro lugar, porque acho que as ideias devem ser compartilhadas. Além disso, ainda não falei disso com quase ninguém, e estou querendo sondar a repercussão dela, e principalmente ouvir uma contra-argumentação ou algo que demonstre o quanto isso pode ser absurdo e não-factível. Porque, na boa, já estou começando a achar que virarmos UNIRIO seria até melhor do que virarmos UTFRJ...