Em primeiro lugar, quero deixar claro que este é meu blog
pessoal, portanto, dentro do que se pode esperar em termos de
indissociabilidade, essas opiniões não são do Igor professor do CEFET/RJ, e sim
do Igor ex-estudante e que tem um carinho grande pela instituição. Essa é uma
visão pessoal, portanto; jamais institucional.
Pois bem: para quem não acompanha essa novela há muito
tempo, a história é a seguinte: o CEFET/RJ pleiteia há pelos menos dez anos a sua
transformação em UTFRJ, Universidade Tecnológica Federal do Rio de Janeiro. No
governo Lula, o modelo CEFET foi deixado de lado em detrimento do modelo IFET,
Institutos Federais de Educação Tecnológica, que prioriza cursos técnicos e
licenciaturas. Todos os CEFETs do Brasil viraram IFETs, exceto três: os do Rio
de Janeiro, do Paraná e de Minas Gerais. O CEFET do Paraná virou UTFPR, modelo
hoje perseguido pelos CEFETs do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, que continuam
sendo CEFETs, os únicos do Brasil.
Nesses CEFETs, a graduação é destaque, de forma que se torna
inviável adotar um modelo que priorize licenciaturas e cursos técnicos. Em
especial no caso do Rio de Janeiro, a graduação se fortaleceu muito nos últimos
quinze anos, com a criação de vários cursos de engenharia, além de programas de
pós-graduação. Vale lembrar que os egressos desses cursos de engenharia no Rio
não têm dificuldade de se estabelecerem no mercado e a qualidade dos mesmos é
facilmente percebida por quem os contrata.
Mas por que o CEFET quer tanto virar Universidade
Tecnológica? Em primeiro lugar, o impacto psicológico: quem é do CEFET/RJ sabe
que tem um peso enorme estudar em um lugar que comece com U. É sério. Em
segundo lugar, a questão da autonomia universitária, da contratação de professores,
da criação de novos cursos e da ampliação geográfica da atuação universitária,
tudo isso fica cada vez mais difícil à medida que o CEFET/RJ continua operando
em um modelo antigo, no qual não se recebem nem os benefícios relativos ás
Universidades, tampouco aqueles relativos aos IFETs. Vive-se um estrangulamento
político que faz com que se torne muito difícil que os CEFETs do Rio de Janeiro
e de Minas Gerais continuem sua trajetória de excelência em ensino, pesquisa e
extensão, e isso não é segredo para ninguém.
A solução, óbvia, é transformar o CEFET/RJ em UTFRJ.
Simples, não? Não! O MEC tem deixado claro que não quer esse caminho para o
CEFET/RJ nem para o CEFET/MG. É lógico que a luta tem que continuar e tem que
haver pressão em cima desta alternativa, por parte dos alunos e dos
professores.
Mas é preciso olhar a questão com um pouco mais de calma, de
forma a tentar entendê-la e pensar em soluções alternativas (é isso que nós,
engenheiros, estamos acostumados a fazer). Em primeiro lugar: por que, afinal,
o MEC não quer transformar os CEFETs em Universidades? Vamos olhar para os
estados. Minas Gerais e Rio de Janeiro
são os estados com a maior quantidade de universidades federais do
Brasil. O estado de Minas Gerais tem, acreditem, 11 universidades federais.
Além das mais conhecidas como UFMG e UFJF, existem também algumas menos
conhecidas como a UNIFAL (Alfenas), UFLA (Lavras), UFU (Uberlândia), etc... No
Rio de Janeiro, somos um estado de proporções mínimas e temos 4 universidades
federais,. dentre as quais a maior do país: UFRJ, UFF, UFRRJ, UNIRIO. Imagino
que a pergunta que o MEC deve estar se fazendo ao recusar a proposta de
transformação dos CEFETs em UTFs é: “Será que cabe mais uma universidade
federal nesses estados?”.
Pensando nisso, foi que tive a ideia: Por que o CEFET/RJ não
vira UNIRIO em vez de UTFRJ? Esta pergunta provocativa do título do post é uma
opção que até agora, não vi ninguém considerar.
Se olharmos para as quatro federais do Rio, vamos ver que a
UNIRIO é praticamente o complemento do CEFET/RJ: são fortes em humanidades,
artes e sociais aplicadas, mas têm pouquíssimos cursos de caráter tecnológico.
A única engenharia que eles têm é a engenharia de produção com foco em inovação
e criatividade, que não formou nem a primeira turma ainda.
Se o CEFET/RJ fosse absorvido pela UNIRIO, não seria preciso
criar mais uma universidade federal no estado, o que aumenta as chances de
aprovação pelo MEC. Além disso, cria-se uma UNIRIO mais forte, com
direcionamento também para a parte tecnológica.
Os únicos cursos que há em comum entre as duas universidades
é o de administração (mas na UNIRIO é Administração Pública e no CEFET/RJ é
Administração Industrial) e o de Engenharia de Produção (no CEFET/RJ, sem ênfase;
na UNIRIO, com ênfase em criatividade). O curso da UNIRIO poderia ser transformado
em Engenharia da Inovação e serem mantidos os corpos docentes de ambas. O mesmo
valeria para os cursos de Administração.
Passaríamos a ser o Campus Maracanã da UNIRIO. O Campus
Maria da Graça poderia ser a Escola UNIRIO, na qual poderia haver algum modelo
de integração entre a formação de licenciados da atual UNIRIO e as aulas dadas
na Escola.
Algumas disicplinas optativas da graduação poderiam ser de
livre escolha (existentes em outros cursos) tal como é hoje na UFRJ. Dessa
forma, o estudante da engenharia poderia fazer uma matéria interessante na
Biblioteconomia, ou fazer aulas de canto e violão.
Para quem não sabe, a UNIRIO é uma faculdade relativamente
recente e foi formada pela união das Faculdades Isoladas do Rio de Janeiro.
Então, a Faculdade de Medicina do Rio (a primeira do Rio), uma Faculdade de
Direito e algumas outras se juntaram, e criou-se a universidade. Portanto, para
a UNIRIO, a ideia de acoplamento e fusão não é nada nova: é a essência da criação
da própria universidade.
Naturalmente, é um processo que burocraticamente não é fácil
e tem um custo, inclusive político (condensação de estrutura conduz a um
enxugamento de cargos, o que pode fazer com que aqueles que têm cargos hoje no
CEFET fiquem meio receosos de perdê-los...). Mas acho que esse custo de mudar
ainda é menor do que o custo de permanecermos exatamente como estamos.
O mesmo acontece com o CEFET/MG e acredito que deve haver
uma solução parecida de acoplamento, considerando alguma das onze universidades
federais de que o estado dispõe.
Algumas pessoas podem argumentar que o CEFET/RJ é uma
instituição centenária, de reconhecida excelência, e que é importante ser
reconhecido como UTF, etc, etc, etc... Sei que nossa excelência não está no
nome (já fomos ETN, ETF, CEFET...), e sinto que esse é o momento de uma mudança
radical na estrutura do CEFET.
Eu também quero UTFRJ, caso seja possível. Mas parece não
ser. E olhando para o problema de uma outra forma, pensei nessa solução
alternativa. Pode ser que isso tudo não passe de um enorme devaneio, mas a cada
vez que olho para o problema, mais fico convencido de que essa é uma solução
viável e muito boa.
Decidi compartilhar isso, em primeiro lugar, porque acho que
as ideias devem ser compartilhadas. Além disso, ainda não falei disso com quase
ninguém, e estou querendo sondar a repercussão dela, e principalmente ouvir uma
contra-argumentação ou algo que demonstre o quanto isso pode ser absurdo e
não-factível. Porque, na boa, já estou começando a achar que virarmos UNIRIO
seria até melhor do que virarmos UTFRJ...