Carnaval para mim tem sempre um misticismo. É sempre tempo de repensar, de investir, de desistir, de descobrir, enfim, de se reinventar.
Desde 2005, o ano no qual começaram os meus carnavais, por assim dizer, eu me lembro cuidadosamente de cada um dos carnavais que tive.
Em 2005, eu tive um pré-Carnaval. Lembro da inglesa na Lapa e de algumas pessoas que ficaram pelo caminho, mas mal me lembro de quem eu era nessa época. Serviu mais para que eu pudesse compreender como as coisas poderiam ser, e entrar nesse mundo de uma vez.
Em 2006, tive um Carnaval de abertura. Nesse Carnaval eu conheci pessoas que seguiriam comigo até os dias de hoje; às vezes mais próximas, às vezes mais distantes, às vezes abrindo outras portas. Mas foi um descobrir.
Em 2007, eu fiquei muito ocupado terminando o meu Carnaval de 2006.
Em 2008, (e quem éramos nós em 2008?), tive um Carnaval triste, magoado. Mas me lembro da alegria desafiando e vencendo a tristeza, e descíamos as ruas de Santa Teresa genuinamente felizes apesar da vida, cantando Chico Science a plenos pulmões e fazendo de Manguetown uma ode à liberdade, 40 anos depois de 1968.
Em 2009, eu me deixei surpreender pela vida. A amigdalite quis desafinar meu samba, mas eu estava tão disposto e tão disponível que, no terceiro dia de Carnaval, eu já estava na piscina da casa de completos desconhecidos. Dei uma chance a mim mesmo e me permiti começar (e que aurora!).
Em 2010, tive um Carnaval de fuga. Tive uma fuga planejada pra São Paulo. Mas uma fuga calculada, precisa: sem chorumelas, sem frustrações e cheia de vontade.
Em 2011, eu já outro e ainda o mesmo, consolidava um outro início, curtindo e descobrindo os encantos do meu presente de Natal.
Em 2012, meu Carnaval passou em branco. Nem fuga, nem presença; nem começo, nem ruptura; nem descoberta, nem frustração. Em 2012, tive um Carnaval descarnavalizado, gasto no que há de mais cotidiano e sem magia; vi ser transformado esse meu feriado tão caro em algum outro feriado prolongado qualquer, como Tiradentes ou Corpus Christi.
Não obstante, anotem: em 2013, eu coloco uma fantasia e caio na gandaia nos quatro dias de folia, vou tingir de cor a vida. Vou querer ter algo para me lembrar com carinho nos próximos anos, porque de branco e tom pastel já nos bastam os dias úteis que se amotinam uns sobre os outros, nos quais temos que nos manter retos, probos e dignos, sem extravasar e sem deixar transbordar o copo.